Lideranças indígenas de 7 etnias de Mato Grosso decidiram paralisar a travessia de balsa entre São José do Xingu (1,2 mil km a nordeste de Cuiabá) e outros municípios do Estado como Marcelândia e Matupá (200 km de Sinop) em protesto à construção da Usina de Belo Monte, em Altamira (PA). De acordo com o coordenador da Funai em Canarana, a quem cabe o acompanhamento das etnias do Xingu, Picuru Kaiabi, a travessia, bem como a MT-322 (antiga BR-080) estão sem acesso.
A estimativa é que pelo local passe, por dia, até 90 veículos, a maioria caminhões que realiza o translado de produtos até o estado do Pará. Desde o último dia 11, 42 representantes das etnias mato-grossenses participaram das discussões sobre ações de protesto contra a construção da usina que será realizada dentro de terras indígenas. Eles estiveram reunidos na aldeia Piaraçu, na terra indígena Capoto-Jarina, em Mato Grosso.
"Essa situação no Xingu deve demorar, até que o Governo recebe os índios", afirmou Picuru. Mais indígenas das tribos de Mato Grosso deverão engrossar o protesto nos próximos dias, segundo ele. "Essa construção vai trazer muitos prejuízos não só para os índios, mas para os seres humanos. Tudo o que existe no Xingu hoje poderá acabar".
A Secretaria Estadual de Infraestrutura (Sinfra) afirmou que não havia sido notificada sobre qualquer paralisação de estradas até o fechamento desta edição.
Belo Monte é o maior empreendimento energético do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal e também o mais polêmico. Apesar de várias ações contra o empreendimento, propostas pelo Ministério Público Federal no Pará, o leilão para a construção da Usina Hidrelétrica foi realizado pelo Governo Federal. O principal questionamento de Organizações Não-governamentais (Ongs) e ambientalistas é de que os impactos socioambientais não estão suficientemente dimensionados. Os indígenas afirmam que sequer foram consultados sobre a obra.