O prefeito José Carlos do Pátio (PMDB) termina o primeiro ano do seu mandato reconhecendo que foi centralizador em algumas decisões e, ao mesmo tempo, garante que foi arrojado. O prefeito, pela primeira vez, foi vaiado em público em sua carreira política, mas não se diz abalado. “Dois dias depois fui aplaudido por 15 mil pessoas”.
Pátio critica o Governo do Estado, em todos os momentos, tem postura de adversário a Maggi, afirma que o município não estaria sendo contemplado da mesma maneira que era antes e por outro lado nega que tenha rusgas com o governador. Afirma, por exemplo, que vai apoiar Wilson Santos (PSDB) à sucessão de Maggi e, mesmo assim, espera a compreensão do seu companheiro de partido Silval Barbosa.
Ele foi entrevistado por A Tribuna:
Como o senhor avalia, neste primeiro ano de governo, o apoio dos deputados estaduais, senadores e deputados federais à sua gestão?
Veja bem, tudo está acontecendo agora. A nossa bancada federal uniu em torno da nossa cidade, a grande maioria dos parlamentares está trazendo emendas e buscando apoio para a nossa cidade. Quanto à bancada estadual, eu somente recebi a sinalização de uma emenda parlamentar do deputado Riva, o restante ainda não tive nenhum tipo de apoio.
Por que o senhor diz que não está tendo apoio da bancada estadual do município?
Eu acho que…eu não sei, eu não tenho uma avaliação a respeito dessa posição da bancada estadual. Eu digo assim que a bancada federal, independente dos partidos, está nos apoiando. O deputado Carlos Bezerra está tendo uma postura ética com a gente, mesmo sabendo dessa questão de partido. O interesse por Rondonópolis está acima de qualquer coisa, ele tem postura de estadista, trazendo recursos. O deputado Welington colocou emendas parlamentares para ajudar a cidade de Rondonópolis, assim como o deputado Homero. O deputado Eliene Lima, que nunca teve votos aqui está trabalhando pela cidade, o deputado Pedro Henry também, a deputada Thelma disse que vai colocar recursos aqui em Rondonópolis e fora o deputado Valtenir, que está nos ajudando a resolver um problema sério do aeroporto, que é aquele caminhão do bombeiro. E tem os três senadores. A senadora Serys está com a equipe dela toda unida em torno da cidade de Rondonópolis e os senadores Gilberto Goellner e Jayme estão nos ajudando muito.
Como o senhor avalia a relação do senhor com o governo Blairo Maggi?
Olha, até então eu não consegui nenhum convênio com o governador Blairo Maggi, mas eu creio que até o fim do mandato ele vai celebrar algum convênio com a gente.
O senhor vê isso como discriminação?
(Pausa) Eu vejo isso como falta de um pouco de experiência política por parte dele, vejam os exemplos dos deputados federais, para eles a questão eleitoral passou, eu acho que o mesmo eleitor que votou nele [Maggi] duas vezes é o mesmo eleitor que votou em mim para prefeito. Esse eleitor quer a união nossa pelo interesse da cidade. Acho que nós deveríamos estar unidos. Isso teria que partir dele, pois o município precisa do apoio do Governo do Estado. Rondonópolis fez muito pelo governador Blairo Maggi.
Não existe rusgas por parte do senhor com relação ao Governador?
Não, eu não tenho condições de arrumar recurso para o Estado, é o Estado que tem que arrumar para o município. Que rusga é essa? O município precisa do Estado e não o Estado do município. Eu não tenho rusga, se o governador vier aqui amanhã e se oferecer em ajudar o município vai ser bem-vindo e seria transparente com ele. A sociedade respeita o governador Blairo Maggi e nos respeita também, podemos estar em palanques diferentes, mas o que a sociedade cobra é o interesse público e da cidade e é isso que eu espero do governador. É nesse ponto que ele tem que nos ajudar.
Prefeito, estamos a um ano das eleições, o senhor publicamente declarou que prefere apoiar o Wilson Santos. O senhor mantém ainda esse posicionamento?
Eu não queria focar muito a questão eleitoral esse ano ainda, estamos focados no município. Mas eu mantenho o que eu digo, a mesma posição política, pois gratidão não tem preço, mantemos a nossa posição política por um projeto alternativo de poder.
O senhor está fazendo um ano de governo e tomou medidas impopulares como o aumento do ônibus por exemplo. Como o senhor avalia ter que tomar esse tipo de medida e no ano que entra, o senhor pretende tomar medidas como essa?
Veja bem, não foi uma medida impopular, pois fizemos algo abaixo da correção monetária. Muito pelo contrário, foi uma medida popular, porque os cálculos dos técnicos deram uma tarifa acima, o Conselho [Conselho Municipal de Trânsito] votou uma tarifa acima, e eu dei abaixo do Conselho e dos técnicos, muito pelo contrário, foi uma medida de comprometimento do cidadão.
Outra medida foi o realinhamento das plantas dos terrenos e imóveis de acordo com o INPC. Não havia outra saída?
Não, eu tenho que cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal e se eu não fizer a correção monetária eu vou responder por prevaricação, eu estou cumprindo a lei. Eu lamento profundamente que a Câmara não teve essa compreensão, não é aumento e sim a correção monetária [negando que pode ser considerado aumento do IPTU]. Eu submeti à Câmara como uma forma de respeito ao parlamento e vou tomar a providência por decreto. Eu quero ainda dizer que só esse ano eu encaminhei mais de 430 projetos para a Câmara e isso mostra que eu respeito aquela Casa. Mandei projetos como do Prodir que é incentivo à indústria, eu encaminhei este projeto para a Câmara, mesmo não sendo obrigado a encaminhar, como uma forma de demonstrar o meu comprometimento e transparência com a Câmara.
Das promessas de campanha, quais o senhor já cumpriu afinal?
Nós cumprimos já o contra-turno na Educação, que estamos com várias atividades extra-curriculares com as crianças da rede pública, como Prata da Casa com 1,8 mil crianças praticando esportes, temos crianças no Exército fazendo atividades de natação, vôlei, basquete, crianças na AABB, no Corpo de Bombeiros e no ano que vem teremos crianças no Sest/Senat. Também apoiamos o programa Água para Todos que é voltado ao pequeno produtor, onde estamos colocando água nos assentamentos. Cumprimos o programa do cursinho pré-vestibular Zumbi dos Palmares, que era um programa voluntário dos professores da UFMT e hoje é um programa institucional.
E as promessas não cumpridas?
Em 2010, vamos implantar o passe-livre, já mandamos o projeto para a Câmara e se Deus quiser cumprir o programa… Eu iria colocar o terceiro turno na policlínica da Vila Operária, mas vamos colocar o terceiro, quarto e quinto turnos.
Como assim prefeito?
É, nós vamos colocar um pronto-atendimento na Vila Operária
Seria isso o terceiro turno?
O terceiro turno seria um programa onde o cidadão teria um atendimento mais próximo à sua casa, e nós teríamos um programa específico desse na policlínica da Vila Operária, o programa se Deus quiser vai começar assim que terminar a obra da policlínica na Vila Operária, teremos um pronto-atendimento lá.
A gestão do senhor na saúde teve muitas polêmicas, eu cito a questão da Santa Casa, onde o senhor tentou ter a gestão do hospital. Como o senhor avalia a saúde no município?
Houve avanços, eu citaria como avanços o fato de nós zerarmos a fila da mamografia, da ultrassom, estamos zerando a fila da endoscopia, começamos agora a colonoscopia, estamos procurando zerar todos os exames de imagens. Fizemos cirurgias de cataratas que foi um dos atos mais sublimes que eu tive na minha administração, onde mais de 1,5 mil pessoas voltaram a enxergar. Ampliamos para cinco médicos no PA nos horários de maior pico e reestruturamos os PSFs. E os índices em diversos setores melhoraram, atendimentos no Ceadas, no Jardim Guanabara, nos PSFs, ouve uma melhora no atendimento.
Mas a gente percebe muitas filas no PA?
Eu não concordo com você. Eu ampliei o número de médicos, o número de pessoas atendidas aumentou e não na mesma proporção em que aumentei o PA, e fora isso dobramos o atendimento do Laboratório Central. Quero dizer que eu gastei em média 21% em saúde, sendo que a LRF diz que em média deveria ser 15%. Assumimos várias atribuições do Estado como ortopedia de pequena e média complexidade, estamos atendendo mais de 2 mil pessoas com serviços ortopédicos, assumimos cirurgia bucomaxilo que era o Estado que fazia. A Clínica de Nefrologia nós assumimos, apesar de um compromisso do Estado em ampliar a clínica, mas eles mandaram um ofício falando que não havia mais possibilidade. O que eu quero colocar é o seguinte. O município assumiu procedimentos que não é de competência dele pelo comprometimento que tem com o cidadão.
O aeroporto local teve problemas como a falta dos caminhões AP2 que limitou os vôos da Trip?
Eu quero dizer que eu estive no Ministério da Defesa com o deputado Valtenir e ele está trabalhando conosco para conseguir esse caminhão. O que não dá para conceber é que tinham conseguido dois caminhões AP2, um foi para Alta Floresta e Sinop, estão preterindo a nossa cidade.
Existe um projeto da Acir para administrar o aeroporto aos moldes do que é feito em Maringá, no Paraná. O senhor concorda com essa proposta?
Eu antes de responder essa questão precisaria conhecer melhor esse projeto e conversar com o pessoal da Acir. Eu quero dizer que estamos ampliando e estruturando o nosso aeroporto.
Para 2010, o senhor pretende mexer no secretariado ou está satisfeito da forma que está?
Haverá algumas mudanças pontuais. Eu admiro nosso secretariado que não tem nenhum medalhão, eles são compromissados com a administração. Eu quero agradecer o nosso servidor e equipe e dizer que eu desconheço uma administração tão arrojada como a nossa no primeiro ano em todos os aspectos, a nossa administração é comparada como último ano de governo de outros prefeitos. A maioria dos prefeitos nos dois primeiros anos não fez o que estamos fazendo.
O que então a população pode esperar do segundo ano do seu governo?
Em 2010, nós estamos ampliando as nossas parcerias, temos uma parceria com o governo Lula que é a duplicação urbana da BR-364, resolveremos a questão do viaduto, estamos ampliando o aeroporto, estamos trazendo indústria, apoiamos as políticas sociais e vamos asfaltar mais bairros, asfaltamos já com recursos próprios. No ano que vem eu vou ter mais parceiros, tudo que fizemos com recurso próprio, agora vou ter, além do recurso próprio, os parlamentares federais que estão sinalizando. Quer uma obra mais arrojada que a estação de tratamento, que a troca da rede de amianto por PVC, estamos trocando a rede de mangueira dos bairros por tubos de PVC, estamos furando poços para resolver a urgência, estamos fazendo uma nova estação de esgoto, nós resolvemos a questão do saneamento básico.
Essas obras, segundo seus adversários, não são recursos garantidos pelo ex-prefeito?
Não, primeiro que o PAC, é um recurso onde 70% são do FGTS e BNDES, são financiamentos e se eu não pagar o dinheiro não vem e eu tenho que pagar isso, mesmo com a queda da arrecadação em consegui pagar esses financiamentos, a minha dívida consolidada caiu de R$ 99 milhões para R$ 85 milhões. Estou deixando o município enxuto, paguei três dos seis parcelamentos do Impro, estou pagando os precatórios, reenquadrei os aposentados, paguei a perda salarial dos trabalhadores da gestão passada. É uma gestão compromissada e muitos recursos que vêm são do governo Lula. Tentam vender um marketing na cidade que estamos isolados, estamos isolados junto ao governo do Estado, mas junto ao governo federal não.
Recentemente o senhor foi vaiado em um evento público?
Eu atribuo o que aconteceu dois dias depois, onde 15 mil pessoas me aplaudiram na Vila Operária, o meu erro político foi ter ido a um evento da Fiemt, onde havia um pessoal convidado e seleto, onde as pessoas tinha que ir com pulseira. Fora isso, eu acabei de ganhar as eleições e fui para Cuiabá pedir votos para o prefeito Wilson Santos contra o Mauro Mendes, então é natural que na base do Mauro Mendes, do Sachetti, do Percival e do Blairo Maggi isso aconteceria. O meu erro foi ter ido lá. Faltou uma avaliação política sobre isso, a nossa base cobrou de mim de eu ter ido a esse evento, era um evento seleto. Política é bonito por causa disso, dois depois eu fui aplaudido por 15 mil pessoas na Vila Operária e não por um grupinho de mil.
Qual a marca que o senhor quer deixar como prefeito?
Até agora, a imprensa e setores da sociedade não tiveram a leitura correta sobre a nossa gestão, viemos para mudar paradigmas. O que é mudar paradigmas? Você sabia que para cada criança especial do nosso município nós temos um monitor, se a criança tem deficiência auditiva há um monitor que conhece libras, antes essas crianças eram excluídas. Estamos preocupados com a inclusão, esse é um programa nosso que ninguém valoriza. No final da nossa administração é possível que nós tenhamos construídos mais creches do que todos os ex-prefeitos. Estamos mudando conceitos e paradigmas, estamos buscando mecanismos para distribuir renda. Temos um empresariado novo que está tendo essa compreensão com muita clareza. Todos os outros prefeitos trouxeram indústrias nos últimos anos, diziam que eu não iria trazer indústria e é justamente ao contrário. Os empresários estão preocupados com as políticas públicas para o trabalhador e estão vindo para a cidade.
Os diretores do Impro e Serv-Saúde reclamam de atraso nos repasses?
Não.. espere aí.. é bom deixar claro que existem seis parcelamentos de administrações anteriores junto ao Impro que não foram pagas e que estou colocando em dia e eu já quitei três e ano que vem eu pago dois. Primeiro isso, e segundo a minha dívida com Impro e Serv-saúde é do mês e eu coloco em dia no final do mês. O que tem que ser avaliado são esses parcelamentos de anos e anos que eu estou quitando agora.
Outra crítica é que o senhor é muito centralizador e que com isso as ações demoram a sair e em muitos casos acaba até travando a administração?
Sim, realmente neste ano eu fui centralizador, até porque nossa equipe é nova, é um grupo novo onde muitos não têm experiência em gestão pública e no poder público temos que ter muito cuidado. Em alguns momentos fui cauteloso, e duro e realmente precisa de ter um conhecimento mais profundo, tive que me submeter à Procuradoria, eu acho que foi pelo interesse público que eu tive esse comportamento.
Para encerrar, qual a mensagem final para o povo de Rondonópolis?
Primeiro, quero agradecer a confiança que a sociedade teve em nós neste primeiro ano de administração, o resultado está começando acontecer, eu dou exemplo da região do Iguaçu, onde estamos asfaltando e colocando água tratada, isso é qualidade de vida para o cidadão. O mesmo vale para o distrito da Vila Operária, onde vai ter pelo menos 80% de esgoto, estamos levando estrutura para região Salmen. Estamos voltados para o social, estamos fazendo uma rede de proteção social, se a criminalidade diminui deve-se à polícia e ao nosso trabalho social e ainda pretendemos construir mais de duas mil casas em Rondonópolis, isso é comprometimento com o cidadão. O nosso desafio no ano que vem é melhorar o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]. Eu não vim para ser prefeito, só para fazer obras, isso eu estou fazendo, mas quero mudar conceitos, mudar a história dessa cidade, quero que gestos nossos entre na história, como a mudança de política de apoio à micro empresa, o cursinho pré-vestibular. A única coisa que me deixa triste é que alguns setores ficaram 365 dias focando só Rondonópolis e nenhum momento focaram no Estado, blindaram o Estado e vieram para cima de mim. Eu estava preparado para isso, essa eleição foi de mudança muito grande e alguns setores não aceitaram o resultado. Eu quero, por outro lado, agradecer a União que foi ética com a gente e espero essa mesma postura do Estado a partir de agora.