O presidente do Partido da República (PR), senador Alfredo Nascimento (PR-AM), anunciou hoje (16) a saída do partido da base de sustentação do governo. Em discurso, o senador disse que o PR passará a ter postura independente e crítica ao governo. "É possível contribuir com o Brasil sem as amarras do governismo ou da oposição".
Ainda de acordo com o senador, o partido entregará todos os cargos que tem no governo. O presidente do PR, contudo, negou que haja "revanchismos" na atitude do PR e prometeu continuar colaborando, de maneira construtiva, com a presidenta Dilma Rousseff. "Não faremos o jogo rasteiro da revanche ou da vingança, do constrangimento ou da chantagem. Entretanto, não renunciaremos à crítica proveitosa e ao embate sereno e elevado na defesa das bandeiras e posições do nosso partido", declarou.
Ele também reafirmou que o PR não considera o atual ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, como uma indicação das bancadas na Câmara e no Senado. "Paulo Sérgio Passos é um técnico que merece o nosso mais sincero respeito e reconhecimento pela excelência na sua colaboração nas gestões que compartilhamos ao longo dos últimos anos. Sua filiação reforça a qualificação inegável dos quadros vinculados ao PR. Cabe frisar, entretanto, que não reconhecemos no atual titular do Ministério dos Transportes o legítimo representante do partido no governo federal. Sua nomeação reflete decisão pessoal e isolada da presidenta da República que, certamente, não merece discussão de nossa parte", disse.
Nascimento não escondeu a mágoa pela maneira como o partido foi tratado quando estouraram denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes, que, na ocasião, era comandado por ele. Por causa das denúncias, mais de 20 pessoas foram demitidas da pasta e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), ligado ao ministério. Diversos parlamentares do PR vinham reclamando que atitude semelhante não foi tomada pela presidenta quando das denúncias envolvendo ministérios ligados ao PMDB. "Não aceitamos ser tratados como aliados de pouca categoria", disse Nascimento durante o discurso hoje.
Mais cedo, o senador Blairo Maggi (PR-MT) havia declarado mais diretamente o ressentimento que ficou entre os parlamentares do PR. "Foi um tratamento, no mínimo, açodado. Acho que deveria ter tido um pouco mais de discussão e ter feito tudo isso com mais calma, como está se está fazendo nos outros casos e com outros partidos. Não somos contra a investigação, não somos absolutamente a favor da corrupção, de forma nenhuma. Acho que foi feito de forma açodada, e isto é o ressentimento do PR hoje", disse Maggi.
Antes de Nascimento anunciar a saída do partido da base aliada, o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (PR-MG), declarou a postura de independência do partido. Mesmo assim, Portela foi evasivo sobre a possibilidade de os deputados e senadores do PR assinarem os requerimentos para criação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar as denúncias. "Já que queremos uma apuração mais clara e mais nítida, de uma forma ou de outra participaremos dessa CPI [da corrupção]", declarou.
O líder do PT no Senado e do bloco de apoio ao governo ao qual o PR dava sustentação, o senador Humberto Costa (PT-PE), não quis tomar a decisão como definitiva. "Eu acredito que essa manifestação poderá ser modificada. Nós estamos conversando e eu tenho uma posição otimista de que mais tarde nós vamos tê-los de volta", disse o petista.