Os hospitais conveniados do Sistema Único de Saúde (SUS) em Cuiabá se negam a receber pacientes que necessitam de procedimentos de baixa complexidade. A afirmação é do secretário municipal de Saúde, Maurélio Ribeiro. Segundo ele, existem 1.100 leitos credenciados para receber pacientes do SUS, porém, nem todos estariam sendo utilizados.
A explicação, conforme ele, é dada pela grande diferença nos valores pagos pelos serviços de alta e baixa complexidade. Os valores são estipulados pelo Ministério da Saúde.”Quando são pacientes de alta complexidade, os hospitais querem, mas quando é de baixa complexidade, eles não têm tanto interesse”.
Os pagamentos são feitos de acordo com o uso. Em dezembro do ano passado, de acordo com o Banco de Dados dos SUS (Datasus), foram autorizadas 3.482 internações em Cuiabá. Cada uma custou, em média, R$ 1,3 mil. Já os casos de alta complexidade custaram, também em média, R$ 5,5 mil cada.
Segundo Maurélio Ribeiro, a utilização dos leitos é fiscalizada pela própria Secretaria de Saúde e monitorada pela Central de Regulação, para evitar que, mesmo conveniados e com demanda, os leitos fiquem desocupados.
A falta de leitos é apontada como o maior problema para o caos na saúde pública em Mato Grosso. O promotor de Justiça e Cidadania, Alexandre Guedes, disse, durante visita às obras de reforma do Pronto-Socorro de Cuiabá, que deve exigir tanto do Estado quanto dos municípios a contratação de mais leitos, já que é um problema antigo que se agravou com a interdição do box de emergência no Pronto-Socorro de Várzea Grande.
Essa unidade, de acordo com a prefeitura, é responsável por mais de 18 mil atendimentos ao mês de pacientes de mais 50 municípios e também da Bolívia. “Se tivesse tido metade do empenho que se teve para trazer a Copa do Mundo e os estádios à Cuiabá, os problemas da saúde já teriam sido resolvidos”.
O resultado é a internação de pacientes nos corredores, macas e até no chão por falta de espaços adequados. Ele lembrou que diversas ações já foram ajuizadas para melhorar o atendimento aos cidadãos mato-grossenses, mas pouco se fez. “A reforma aqui no PS é resultado do trabalho da Promotoria, assim como várias outras ações”.
Guedes pediu a direção do PS de Cuiabá o relatório com o número de pacientes oriundos da Capital, de Várzea Grande e do interior do Estado nos últimos 60 dias. “Assim poderemos ver onde está o problema, se realmente é por causa do grande número de pacientes que vem de fora, e buscar as soluções”.
Mato Grosso possui uma longa fila de espera para internações e intervenções cirúrgicas, informação apontada pela CPI da Saúde no ano passado. Da cada 10 leitos, 8 são formados por motociclistas vítimas de acidentes de trânsito. (Colaborou Fernando Duarte)