"Falta lucidez nas prioridades do investimento público", afirmou o senador Pedro Taques (PDT) da tribuna do Senado, ontem, em discurso cobrando do governo federal solução para os problemas de infraestrutura do Brasil. Embora tenha uma das melhores e mais baratas safras de grãos do mundo, Mato Grosso é prejudicado pela falência dos sistemas de transporte e armazenagem do país, lamenta o parlamentar.
"Não conseguimos entregar o produto que precisamos vender. O produto é barato, mas o transporte é caro. De acordo com estimativas publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, nosso frete sai por US$ 100 por tonelada transportada. Concorrentes como Argentina, Canadá e Austrália o fazem por US$ 25. Só em 2010, o Mato Grosso cultivou 43 milhões de toneladas, entre milho, cana, soja e arroz. Mas ainda dependemos de transportar tudo isso de caminhão", disse o senador.
Para Pedro Taques, o problema está "da porteira para fora da fazenda". Ele lembrou que tem feito sucessivos protestos contra as "péssimas condições" das principais vias de transporte no Estado, a BR-163 e a BR-364. A precariedade das estradas, conforme observou, "aumenta o custo do transporte, atrasa o cumprimento das entregas e rouba vidas em acidentes que teriam que ser evitados".
Em seu discurso, o senador afirmou ainda que, além das estradas, os armazéns e os portos também são gargalos a serem enfrentados. "Sem silos para armazenar a produção a custo baixo, o produtor fica nas mãos do mercado comprador na data da colheita, sem possibilidade de negociar preços melhores e distribuir as suas vendas ao longo do ano. Só ganham com isso os cartéis agroindustriais. Os portos estão também em colapso, sem conseguir processar o volume de carga que chega neles. Resultado: filas de caminhões a perder de vista nas estradas que dão nos portos", relatou.
Além disso, Pedro Taques questionou escolhas feitas pelo governo federal, no que diz respeito a grandes obras de infraestrutura. Citou como exemplo o investimento de R$ 47 bilhões no trem-bala entre o Rio de Janeiro e Campinas que recebeu sinal positivo para início das obras; enquanto a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO) ainda carece de recursos na ordem de R$ 4 bilhões.
"Tenho estado nesta tribuna várias vezes denunciando irregularidades nas obras e na regulação, propondo novos marcos legais e combatendo os ‘jeitinhos", exigindo que as prioridades sejam coerentes com a realidade do país. O trabalhador do Mato Grosso e das outras regiões, aquele que gera os recursos e as riquezas que garantem a nossa economia, não tem mais paciência com esse descalabro. O governo precisa fazer também a sua parte", finalizou Pedro Taques.
Em aparte, o senador Jayme Campos (DEM) disse que há "um apagão" no transporte brasileiro, e Mato Grosso tem pago muito caro por isso. "Quem planta no Mato Grosso tem que ser respeitado. Estamos produzindo com qualidade e eficiência e não temos meio para escoar a produção", afirmou.