O Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual, interceptou ligações telefônicas suspeitas entre o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e um desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Com autorização da justiça, os diálogos ocorreram após a prisão da esposa de Silval, Roseli Barbosa, acusada de envolvimento em um esquema que desviou R$ 8 milhões da Secretaria de Estado de Assistência Social.
Segundo informações do G1, Silval conversa com um de seus advogados cobrando a soltura de Roseli. Horas de depois, o ex-gestor estadual recebeu uma ligação de um telefone celular funcional do Tribunal de Justiça. O número é o mesmo utilizado pelo desembargador Marcos Machado, que foi indicado ao tribunal justamente por Silval em 2011. No entanto, não se sabe se o homem que conversa com o ex-governador seria Machado.
“Na conversa, o interlocutor de Silval Barbosa afirma que está “aguardando o caso”, coloca-se à disposição caso ele precise de um “diálogo” e para “contribuir com alguma posição”. O ex-governador agradece e eles encerram a ligação. Num telefonema seguinte, o interlocutor do ex-governador afirma que está ligando apenas para “lhe dar um retorno”, dizendo que “não foi o ideal”. O ex-governador tenta dispensar a conversa dizendo que retorna em seguida, mas o interlocutor insiste no recado de que “não foi o ideal”, dando a entender, segundo o MP, que alguma coisa não transcorreu da forma planejada, e ambos se despedem”, aponta trecho da reportagem.
Para o MPE, os diálogos seriam uma forma de tráfico de influência na tentativa de obter do Tribunal de Justiça uma decisão rápida para soltar Roseli Barbosa. O pedido de liberdade acabou sendo analisado pelo desembargador Rondon Bassil, que negou a soltura da ex-primeira-dama. Ela conseguiu sair da prisão, após a defesa ingressar com um pedido no Superior Tribunal de Justiça.
A reportagem da TV Centro América ligou para o telefone funcional do TJ e quem atendeu a ligação foi o desembargador Marcos Machado. Ele negou qualquer possibilidade de tráfico de influência no diálogo com Silval e interceptado pelo Gaeco.
“Segundo Machado, ele mantém relacionamento pessoal com o ex-governador. O próprio magistrado lembrou que foi indicado para o cargo por Silval Barbosa (ele era promotor de Justiça) e classificou como uma “ofensa” o questionamento a respeito de eventual tráfico de influência. Ele ainda lembrou que não foi relator do pedido de liberdade da ex-primeira-dama no TJMT”, aponta a reportagem.