Aos 32 anos, perto de disputar seu mais importante título, Rogério Ceni é o exemplo perfeito e acabado de que o “american dream” pode acontecer também no Brasil. Ele é um vencedor, termo tão apreciado pelos norte-americanos. Alguém que construiu sua história, com muito trabalho e sem ajuda de padrinhos e pistolões.
Ele se orgulha muito disso. Chegou ao São Paulo há 15 anos, depois de uma temporada no time do Banco do Brasil, em Sinop, no Mato Grosso. “Alguém me viu jogar e indicou para uns testes. Não teve empresário por trás, ninguém ficou forçando a barra a meu favor. Era o sexto ou sétimo goleiro, morava no Morumbi, era muito frio, mas eu trabalhei muito”. Foi ganhando espaço e em 1993, era o terceiro goleiro, atrás de Zetti e Alexandre. Foi o seu primeiro título mundial, sem jogar.
Um feito que repetiria na Seleção Brasileira em 2002. Mesmo assim, foi muito elogiado por Luiz Felipe Scolari, outro que lutou muito para vencer na vida. “O Rogério não jogou mas foi muito importante para o grupo de jogadores. Ele soube ser amigo de todos e me ajudou a criar um grupo vencedor na Copa do mundo”, já disse Felipão.
Seu discurso passa longe do habitual “se Deus quiser vou ajudar os companheiros a conseguir uma nova vitória”, tão comum. Ele tem postura de dirigente e não esconde de ninguém que tem o sonho de ser presidente do São Paulo. Hoje, já é consultado para muita coisa. Bosco, seu reserva, só chegou com o seu aval. Rogério, que havia jogado com ele na Seleção Brasileira, em 2001, o recomendou como bom goleiro e ótima pessoa.
Se alguém vir Rogério Ceni em uma dessas tantas mesas redondas dominicais com um boné fazendo propaganda da churrascaria que não lhe cobrou o almoço pode mandar prender porque é um falsário se fazendo passar pelo goleiro do São Paulo. Publicidade com ele, é em outro nível. Ia sempre à televisão usando terno Hugo Boss, um de seus patrocinadores na época.
Tanta facilidade em falar não impede que os conceitos emitidos possam ser violentamente contestados. Há pouco tempo, disse na televisão, ter muitas dúvidas de que se a redemocratização do País foi boa para o povo. Uma versão mais light – bem mais light – da frase de Felipão, dizendo que Pinochet não foi tão mal assim para o Chile.
Para a torcida, tudo isto é terciário. O que importa é ver seu capitão treinando muito, defendendo muito e fazendo seus gols de falta e pênalti. São 53 e, em um ano, certamente serão mais que os 62 que levaram o paraguaio Jose Luiz Chilavert a ocupar um lugar na história bem acima do que suas generosas formas podiam merecer.
O que importa para o torcedor é que Rogério Ceni está no Japão correndo atrás de seu maior sonho. Desiludido com a Seleção, ele, que já é o jogador com maior número de partidas realizadas com a camisa do São Paulo, sabe que seu modo de fazer história é ganhar esse título, jogando.
Como Zetti fez por duas vezes. Pensando bem, depois da Libertadores, nem precisava. Mas, um vencedor quer sempre mais. Este é seu oxigênio.