A revolta da torcida na última eliminação do Corinthians na Copa Libertadores da América foi substituída pelo silêncio na noite desta quarta-feira. A equipe de Mano Menezes marcou os dois gols que precisava para seguir no torneio, mas sofreu um. O Flamengo avançou às quartas de final com a derrota por 2 a 1, no Pacaembu.
O primeiro tempo indicava que o Corinthians conseguiria reverter o 1 a 0 que sofreu no Maracanã, na semana passada. Ronaldo intimidou o zagueiro David, que marcou um gol contra. O próprio atacante ampliou. Logo no começo do segundo tempo, no entanto, o ex-palmeirense Vagner Love balançou as redes e fez a festa dos rubro-negros.
Após causar a maior decepção do ano do centenário do Corinthians, que fez a melhor campanha da fase de grupos da Libertadores e preparava-se para satisfazer a obsessão de sua torcida desde o ano passado, o Flamengo enfrentará o vencedor do confronto entre Universidade do Chile e Alianza Lima. O jogo será na quinta-feira.
O jogo – A torcida do Corinthians já comemorava quando o Flamengo entrou em campo no Pacaembu – Palmeiras havia acabado de ser eliminado da Copa do Brasil, pelo Atlético-GO. A alegria era tamanha que a queima de fogos programada pelo clube foi antecipada. Até artefatos verdes coloriram o céu de São Paulo.
Quando o público finalmente percebeu a presença do Flamengo no gramando, a pressão começou. O atacante Adriano foi recebido com os gritos de ?chifrudo? (uma alusão ao seu relacionamento turbulento com a personal trainer Joana Machado). Em menor número, os flamenguistas tentaram responder com provocações a Ronaldo. Não eram ouvidos.
O barulho dos corintianos ficaria ainda mais alto. Assim que o árbitro uruguaio Roberto Silvera assoprou um dos cerca de 40 mil apitos presentes no Pacaembu, o assobio passou a ser constante a cada vez que o Flamengo tocava na bola. A torcida do Corinthians ?marcava? o adversário com os trilares dos apitos que distribuiu pelo estádio.
O ambiente realmente era de total apoio ao Corinthians, mas também houve um aviso logo nos primeiros minutos. ?Raça, Timão, você é tradição!?, berrou o público. O time de Mano Menezes correspondeu. Com três atacantes (Jorge Henrique começou o jogo no lugar de Jucilei), cumpriu a promessa de atacar desde o início.
Dentinho era o mais efetivo dos jogadores de frente do Corinthians. Pelo lado esquerdo do campo, o prata da casa pedia e recebia a bola na maioria dos lances ofensivos: driblava, cruzava e finalizava para o gol. ?Mais um louco a jogar no Coringão?, conforme a torcida gritou antes do jogo, Ronaldo também parecia bem mais disposto nesta noite.
A primeira boa oportunidade de gol do Corinthians foi do próprio Ronaldo. Aos 7 minutos, o astro recebeu assistência livre de marcação dentro da área e chutou com força. O goleiro Bruno defendeu, repôs a bola em jogo e fez um gesto para o Flamengo contra-atacar. Não foi atendido.
Demasiadamente acuado, ao contrário do que indicava o técnico Rogério Lourenço durante a última semana, o Flamengo era presa fácil para a marcação corintiana – Ralf se destacava nos desarmes. Adriano chegou a provocar risos entre os torcedores do Corinthians quando não conseguiu dominar uma bola no meio-campo.
Também havia reflexos negativos da gritaria do público. O Corinthians passou a se precipitar e a chutar de longa distância, sem direção. Mano Menezes deixou o banco de reservas para reclamar. E logo poderia se sentar outra vez, aliviado. Aos 27 minutos, Danilo cruzou da esquerda, com efeito. O flamenguista David se assustou com Ronaldo e cortou para dentro do próprio gol.
O Flamengo não conseguia reagir. Ao contrário. Cedia cada vez mais espaço ao ataque do Corinthians. Paralisar o confronto para reclamar de um laser que um torcedor apontava para atrapalhar a visão dos jogadores, pouco antes do primeiro gol, não tinha sido suficiente para diminuir o ímpeto do adversário.
Aos 39, o Corinthians ampliou. Após uma boa intervenção de Felipe, que superava a falta de ritmo, Dentinho fez um cruzamento de trivela. Ronaldo, que não é especialista no jogo aérea, deu um peixinho para voltar a balançar as redes. Era o cenário de uma noite perfeita. O primeiro tempo acabou, e o time paulista já tinha o placar que precisava para se classificar.
O Flamengo desceu apático para os vestiários. O lateral direito Leonardo Moura chegou a cumprimentar Dentinho, desculpando-se por um lance mais ríspido. No intervalo, no entanto, Rogério Lourenço deu uma bronca nos seus comandados. E voltou para o segundo tempo com Kléberson na vaga de Vinícius Pacheco.
O início da etapa complementar passou a impressão de que seria fácil para o Corinthians marcar um gol. Engano. Aos 4 minutos, a substituição de Lourenço funcionou. Kléberson lançou Vagner Love na ponta esquerda. O ex-palmeirense bateu cruzado, e Felipe não alcançou: 2 a 1.
A única jogada efetiva do Flamengo até então bastou para abater o Corinthians. A torcida passou a cantar mais baixo. Em determinado momento, apenas os apitos soavam. Mano Menezes entrou em ação. Trocou Jorge Henrique e Elias por Iarley e Jucilei, dividindo o público. Uns chiaram, outros aplaudiram.
O Corinthians também se mostrava confuso dentro de campo. O Flamengo não chegava a se esforçar muito, mas conseguia incomodar o adversário a cada contra-ataque. Tanto que alguns torcedores vibraram porque o perigoso Vagner Love foi substituído por Fierro. A última cartada de Mano era a estreia oficial de Paulinho, no lugar de Alessandro.
Não adiantou. A torcida chegou a se animar quando o zagueiro Chicão teve uma oportunidade em cobrança de falta nos últimos minutos, mas o goleiro Bruno fez grande defesa. O Pacaembu silenciou definitivamente. Alguns corintianos, posicionados na área VIP, foram embora mais cedo. Outros sofreram até o último apito, que decretou o fim do sonho do centenário. E responderam com aplausos ao time.