Uma batalha judicial têm travado o basquete em Mato Grosso. Desde do mês de março, a modalidade está sem presidente. Uma comissão provisória sob comando de Marcos Prado, da Associação da Legião de Basquete da Figueira (ALBF) e Vanderlei Cavalcanti, da Associação de Basquete de Sorriso (ABS), é que vem respondendo pela Federação Mato-grossense da modalidade (FMTB). A escolha de uma nova diretoria em março passado terminou debaixo de muita confusão e acusações por parte dos interessados em assumir o comando do esporte no Estado.
De um lado, uma chapa encabeçada pelo ex-secretário Estadual de Esportes e Lazer (Seel), radialista Laércio de Arruda e do outro o nome do até então presidente Cláudio Barreto. Sem entendimento entre as partes, a Justiça decidiu intervir na eleição, ordenando que a comissão eleitoral indicasse uma diretoria provisória. De lá para cá, a bola não saiu do meio da quadra. Ou melhor, o cronômetro e o jogo estão literalmente parados em Mato Grosso. Até agora não foi realizada nenhuma competição por parte da entidade. À exceção fica por conta dos Jogos Estudantis Escolares organizados pelos município e Estado.
Não há interesse dos dois grupos em resolver o impasse e fazer com que a federação esteja apta a organizar seus torneios, todos eles responsáveis em indicar os representantes de Mato Grosso às inúmeras competições nacionais em diversas categorias.
Há acusaçõe de uma série de irregularidades contra a gestão de Barreto, eleito pela primeira vez ao cargo em 2005 quando ainda era aliado do ex-presidente da entidade Luiz Antônio Gomes, o Tonteta, este por sua vez assume à condição de opositor do ex-aliado. Inclusive, a filha de Tonteta, a ex-jogador Karine Gomes, que chegou a jogar na Ponte Preta ao lado de Hortência e Adrianinha, é uma das articuladoras da candidatura de Laércio de Arruda à presidência da entidade.
Uma das irregularidades detectadas pela oposição ao ex-presidente foi à indicação da equipe de Sinop para disputar a Copa do Brasil, torneio realizado mês passado no Rio de Janeiro. Segundo informações, a Federação Goiana de Basquete (FGB) inclusive já teria recorrido à Justiça e também à Confederação Brasileira de Basquete (CBB) de que Mato Grosso atuou no torneio de forma irregular. A acusação é pelo fato da entidade, ainda sob presidência de Cláudio Barreto não ter organizado o Campeonato Mato-grossense da modalidade referente ao ano passado. O torneio estadual é o responsável em indicar o time campeão estadual a competição nacional. Além disso, Sinop não estaria com sua situação regular na própria FMTB, o que inviabilizaria sua ida ao Rio – a equipe só teria sido indicada por ser aliada a Barreto.
Diante de tantos problemas, um dos interventores, que pediu para sua identidade não ser revelada -por ser candidato à direção de uma escola da rede estadual no mês de outubro -, não hesita em afirmar que o basquete ainda não morreu em Mato Grosso graças a algumas escolas que ainda incentivam à prática do esporte, que consagrou jogadores como Oscar Schimidt, o "Mão Santa", Hortência e Magic Paula, ambas foram campeãs mundiais em 94, na Austrália.O interventor foi indicado à comissão provisória por ser um abnegado do esporte. Ele mantém o projeto social no bairro da Figueirinha, considerado um dos mais violentos de Várzea Grande, voltado para formação de futuro jogadores de basquete.
"O basquete só não morreu ou não foi extinto no Estado por conta de pessoas comprometidas com o esporte e com o social. Se não fosse isso, não tenho dúvida que o esporte já tinha desaparecido em nosso estado", afirma, ressaltando uma solução o quanto antes para o Estado não sofrer severas sanções da própria CBB – uma das punições pode ser uma suspensão de vários anos sem disputar uma competição de nível nacional.
Candidato à presidência da entidade, o radialista Laércio de Arruda, mantém o seu nome na disputa pelo comando do esporte em Mato Grosso. Segundo ele, a eleição está sub-júdice e aguarda por uma posição da Justiça o mais breve possível para que a modalidade não perca mais adeptos. Arruda defende até a convocação de novas eleições, acreditando que uma posição oficial da Justiça deva demorar.
"A Justiça é morosa. Não podemos esperar uma posição dela o mais breve possível. Estou até disposto a buscar uma intervenção na CBB para que a entidade volte a funcionar normalmente", frisou, ressaltando que seu objetivo é regularizar todos os filiados que estão irregulares e realizar campeonatos em todas as regiões de Mato Grosso.
Em Cuiabá, o Instituto Cuiabano de Ensino (ICE) é um dos poucos a incentivar à pratica do basquete. A unidade de ensino iniciou recentemente um projeto social na formação de novos jogadores e em consequência chegar até disputar o Novo Basquete Brasil (NBB), equivalente à Primeira Divisão da modalidade no país. A aposta é grande que o Estado têm potencial para estar na elite que a direção da faculdade trouxe de São José do Rio Preto, o jogador Damião Luiz Rodrigues, com mais de 2m de altura. Ele chegou em Cuiabá a pouco mais de um mês e é o responsável em garimpar talentos para a modalidade na capital do Estado.
Com passagem em clubes como Minas Tênis e ter disputado um Sul-Americano de basquete, Damião ressalta que o esporte no Estado carece de mais incentivo tanto por parte do poder público como privado para crescer a nível nacional. De acordo com ele, hoje só o ICE, em Cuiabá, têm acreditado no basquete ao oferecer bolsas de estudos para crianças carentes a praticar a modalidade, além da estruturação de um local para trazer jogadores de fora para defender a equipe em competições a nível nacional. O objetivo, primeiro, é faturar o Campeonato Estadual, isso se ocorrer, algo que parece quase "impossível" pela atual situação da entidade, para em seguida disputar a Copa Brasil, torneio este dá vaga ao NBB ao time que conquistar o título de campeão.
Experiente, Damião evita comentar a crise sem fim na entidade. "Só posso falar no assunto que eu conheço, que é o jogo. Briga política fica para quem tem interesse em dar novo rumo ao basquete em Mato Grosso".
No entanto, o atleta do ICE aposta na reversão do atual quadro da modalidade ao citar seu amigo pessoal, o jogador Shilton, do Joinville. O atleta é natural de Cuiabá, foi em busca de sonho indo tentar a sorte em São Paulo e hoje é considerados um dos melhores jogadores em atividade no país, já que os considerados fora de série estão atuando na NBA, considerado o melhor campeonato do mundo de basquete. Inclusive, Shilton faz parte da seleção brasileira, uma espécie de time B sem as estrelas brasileiras que jogam no basquete norte-americano.
Mas não é só Shilton, um atleta genuinamente mato-grossense, que faz história no selecionado brasileiro. Frutos do trabalho social realizado pela Associação de Pais e Amigos do Desporto de Araputanga (Apada), as jogadores Fabiana Caroline, hoje com 20 anos e Pollyana Almeida, de 15 anos, já vestiram a camisa da seleção brasileira nas categorias de base.
Hoje, Caroline defende o time de Ourinhos. Já Almeida, ano passado, foi convocada em duas oportunidades para compor o time juvenil sob comando da ex-jogadora Janeth Arcain. Pollyana ainda treina na Apada, comandada pelo professor Wilson Saianotti, responsável por descoberta de novos talentos ao basquete estadual.
A preocupação de Laércio de Arruda com relação ao atual momento do esporte estadual se deve ao fato do Estado possuir um dos melhores ginásios da atualidade no Brasil, o Aecim Tocantins, inaugurado em junho de 2007, mas que há meses não sedia nenhum evento.
"Antes, não podíamos disputar competições de ponta por falta de uma espaço adequado. Agora, a realidade é outra. O Aecim Tocantins está aí para receber grandes jogos, grandes competições. O basquete precisa ocupar essa lacuna o mais rápido possível", enfatizou Arruda, lembrando que o ginásio em 2009 foi palco da Copa América de Basquete Feminino, conquistada pela seleção brasileira comandada até então pelo técnico Paulo Bassul. Na equipe, havia jogadoras consagradas como Adrianinha e Hellen Luz.
Responsáveis pela formação de jogadores ao basquete estadual, várias associações estão com situações irregulares perante a FMTB. Uma delas é o Casarim, da cidade de Rondonópolis, que por muito tempo representou o Estado em torneios a nível nacional. A equipe sempre foi bancada pela família Casarim, em especial por Luiz Casarim, um apaixonado pelo esporte. Mas por discordar da política implantada pelo ex-presidente Cláudio Barreto, o time rondonopolitano acabou sendo desfiliado da federação. A mesma situação se encontra o ICE que, mesmo não estando regularizado na entidade máxima, toca seus projetos voltados à modalidade.
O ex-presidente da FMTB Cláudio Barreto e seu opositor Luiz Antônio Gomes, o Tonteta, não foram localizados pela reportagem da A Gazeta para comentar o assunto.