O técnico Mano Menezes assumiu a seleção brasileira com a missão de resgatar o futebol vistoso de outros tempos. Logo na primeira partida de sua equipe no Brasil, contudo, um barulho comum à época em que Dunga era o comandante nacional ecoou no estádio Serra Dourada. O time foi muito vaiado no empate sem gols com a Holanda, algoz nas quartas de final da última Copa do Mundo.
A população de Goiânia assediou o Brasil durante toda a semana e esperava ser retribuída com uma boa atuação de Neymar e seus companheiros. Já no primeiro tempo, entretanto, jogadores como Elano e Fred foram insultados pelo público. O meia Lucas, que a torcida tanto queria ver em campo, também não resolveu na segunda etapa. "Timinho! Timinho! Timinho!", eram os berros ao final do amistoso.
A seleção brasileira tentará reverter as críticas na próxima semana. Na terça-feira, Mano e os seus jogadores irão ao Pacaembu para enfrentar a Romênia e promover uma festa de despedida para o já ex-atacante Ronaldo. A lista de convocados para a Copa América será divulgada em seguida. Preocupada com a Eurocopa, a Holanda enfrentará o Uruguai na quarta-feira, em Montevidéu.
Com o 0 a 0, o histórico de confrontos entre Brasil e Holanda permanece empatado. Os países se enfrentaram 11 vezes desde 1948, com três vitórias para cada lado e agora cinco empates. Cada seleção marcou 15 gols contra a adversária. Por Copas do Mundo, os brasileiros eliminaram os holandeses em 1994 e em 1998, porém foram derrotados em 1974 e em 2010.
O jogo – A torcida goiana festejava a seleção brasileira desde quarta-feira. O público que foi ao Serra Dourada chegou cedo e distraiu-se com gritos ensaiados, com o telão do estádio e até com um grupo de dez holandeses presentes para também assistir à partida. Quando o tão esperado amistoso começou, no entanto, não demorou para os torcedores se calarem.
Os primeiros minutos de jogo da seleção de Mano Menezes no Brasil não foram empolgantes. Sem contar com um armador de origem entre os titulares, o time tinha mais posse de bola, mas era extremamente pragmático. Os jogadores da Holanda, que se comportaram como turistas ao tirar fotos do Serra Dourada antes do confronto, eram menos incisivos ainda.
Para tentar corrigir a formação de sua equipe, Mano recorreu a uma prancheta e a alguns gritos na área técnica. O comandante pediu para Robinho atuar mais recuado e armar as jogadas do Brasil, porém a torcida feminina preferia que Neymar ficasse com a bola. Bastava a revelação do Santos ser acionada para os berros histéricos de garotas apaixonadas irromperem o silêncio.
Neymar correspondeu com algumas fintas e com o primeiro bom lance do jogo, aos 11 minutos, ao enfiar a bola para o impedido Robinho na ponta direita. Fred chegou a completar para o gol – e a torcida comemorou -, mas o árbitro paraguaio Carlos Amarilla anulou. Pouco depois, o mesmo centroavante do Fluminense caiu na área e pediu pênalti. Não foi atendido novamente.
A Holanda, então, passou a incomodar o Brasil. Marcado por falhar na última derrota para os holandeses, nas quartas de final da Copa do Mundo da África do Sul, o goleiro Júlio César precisou fazer duas boas defesas em chutes do meia Ibrahim Afellay, um da pequena área e outro de longa distância. Ramires respondeu com uma conclusão também da intermediária, para fora.
A iniciativa de Ramires e um lance individual do zagueiro Lúcio, que tentou resolver sozinho os problemas do ataque e ficou sem a bola, não foram suficientes para conter a insatisfação da torcida brasileira. "Lucas! Lucas! Lucas!", berrou o público, desesperado pela presença de um armador. "Vai jogar no Santos, Elano! Você só serve para esse time. Mano, tira ele de campo, por favor!", protestou um torcedor mais exaltado.
Assim que o primeiro tempo acabou, as vaias ficaram mais intensas. Até Mano Menezes não conseguiu disfarçar o seu nervosismo. O técnico desceu para o vestiário do Serra Dourada bastante irritado com a atuação da seleção brasileira. Em todo o estádio, parecia que existia apenas um pequeno grupo de pessoas contente naquele instante. Os torcedores holandeses continuaram a sorrir e a aplaudir no intervalo.
Apesar do ambiente desfavorável, Mano preferiu dar um pouco mais de tempo para a sua formação titular se ajustar. Neymar até reanimou a torcida com um chute em cima do goleiro Krul e com um chapéu em Robben, mas os pedidos por substituições foram reforçados não muito tempo depois. A torcida insistia para o são-paulino Lucas entrar em campo, de preferência no lugar do inoperante Fred.
O Brasil até melhorou, com alguns bons arranques de Robinho pelos dois lados do gramado, mas Mano enfim deu ouvidos à torcida aos 18 minutos da etapa complementar. Lucas e Sandro entraram nas vagas de Elano e Lucas Leiva. Pelos holandeses, o técnico Bert van Marwjik trocou De Jong, Van Persie e Kuyt por Maduro, Huntelaar e Elia.
Como o amistoso voltou a ficar monótono, Mano Menezes recorreu a Leandro Damião como substituto de Fred – que não aproveitou a oportunidade de mostrar serviço para conseguir uma convocação para a Copa América. Para piorar a situação, Ramires cometeu falta dura em Robben e acabou expulso. O volante não saiu como vilão como seu ex-companheiro Felipe Melo no Mundial de 2010, mas simbolizou mais uma má atuação brasileira.