Um grupo de cerca de 20 manifestantes furou o bloqueio da segurança e estendeu uma faixa contra a privatização do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, neste sábado (27), no primeiro evento teste na arena. O evento, que teve shows e um jogo de futebol, teve a presença da presidenta Dilma Rousseff. A faixa também pedia o fim das demolições de uma escola especializada em pessoas com deficiência e de equipamentos esportivos destinados a esportes aquáticos e ao atletismo.
Segundo a estudante Amanda Assunção, que participou do ato, os seguranças notaram, na revista, a faixa, de 4 metros, mas não se preocuparam em lê-la. Ela revelou também que, para entrar, o grupou usou ingressos doados, pois só foram convidados para a partida os operários que trabalharam na reforma.
"Somos contra a demolição do Parque Aquático Júlio de Lamare, onde praticam natação centenas de pessoas, do Estádio de Atletismo Célio de Barros, porque esportistas ficarão sem treinar, da Escola Friendenreich e queremos que o antigo Museu do Índio seja dedicado aos índios, não ao Comitê Olímpico", disse Amanda.
Apesar de a arena ter sido modernizada, apresentar nova iluminação, padronização das cadeiras, instalação de telões, de iluminação e alto-falantes, bares e banheiros em melhores condições para sediar a Copa do Mundo de 2014, o custo, de cerca de R$ 1 bilhão da reforma do estádio, também foi questionado.
Presente ao evento, o professor visitante da Escola de Pós-Graduação Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), Christopher Gaffney, disse que a reforma é controversa e foi feita sem apoio popular. Durante a obra, não foi entregue para a população nenhum espaço público para a prática de esporte do tamanho das instalações que serão demolidas.
"Claro que as instalações estão melhores, mas o custo foi o atropelamento da democracia, intransigência, violência, falta de transparência e a destruição de empreendimentos importantíssimos", disse Gaffney. "Qual a proposta de reconstrução desses espaços? O Maracanã se torna um templo de consumo". Para o professor, com a reforma, os preços dos ingressos tendem a ser mais altos, impossibilitando a população mais pobre de frequentar o estádio. "O povo vai ter que pagar mais por um lugar que já pagou várias vezes", disse.
Um grupo maior, de cerca de 300 pessoas, no início da noite, esteve reunido em frente à estátua do jogador Bellini, com as mesmas reivindicações. Durante o jogo, o primeiro de três eventos testes para a Copa das Confederações, a internet e os sinais de telefonia móvel ficaram intermitentes.