A tal quarta-feira anunciada nos últimos dias pela torcida tricolor chegou. E a cobrança deu lugar a outro grito, o de que "o campeão voltou". O São Paulo comprovou o apelido de "clube da fé" e conseguiu o que talvez só seus milhões de fieis – representados presencialmente no Morumbi por cerca de 50 mil – acreditavam. Com gol de Rogério Ceni (de pênalti) e outro de Ademilson, venceu o Atlético-MG por 2 a 0 e renasceu, classificando-se às oitavas de final da Libertadores, graças também à derrota do The Strongest.
O resultado deu ao time seu sétimo ponto e a segunda vaga do grupo 3. A vantagem sobre os argentinos ficou por conta do saldo de gols. Na próxima fase da competição continental, o adversário será o próprio Atlético, o qual antecipadamente já havia garantido a melhor campanha geral da primeira fase. As partidas ainda não têm data confirmada pela Conmebol, entretanto é certo que a segunda será em Belo Horizonte.
Nesta noite, o volume de jogo são-paulino foi proporcional ao volume das arquibancadas. Empurrada desde o primeiro minuto, a equipe demonstrou raça até então não vista nesta temporada e, apesar de não arriscar tanto a gol, balançou a rede de Victor no começo do segundo tempo, em pênalti convertido por outro goleiro: Rogério Ceni, o maior artilheiro do clube no torneio. Mais tarde, Ademilson fechou a conta.
O capítulo anterior à classificação, no entanto, não era animador. Três jogadores considerados titulares por Ney Franco não puderam jogar. Além dos suspensos Jadson e Luis Fabiano, Maicon se tornou baixa na semana passada por lesão muscular. Em contrapartida, o capitão Rogério Ceni e o zagueiro Rafael Toloi deixaram o departamento médico e foram reforços.
Do lado de Cuca, Diego Tardelli era dúvida e até foi ao estádio com o restante da delegação, porém acabou vetado pelos médicos, ao passo que Bernard, em função de luxação no ombro, já era baixa sabida. Assim, o treinador atleticano escalou seu time com um terceiro homem no meio-campo, Serginho.
O meio-campista, porém, precisou ser deslocado mais ao lado direito para conter as velozes subidas de Osvaldo. O atacante são-paulino foi quem mais deu trabalho à defesa no primeiro tempo, geralmente driblando mais de um marcador até chegar à entrada da área. Mesmo quando a jogada se iniciava pela direita, a bola quase sempre era invertida em sua direção.
Além da rapidez em busca do gol, não faltou raça, tão cobrada em meio à má campanha. Logo no primeiro minuto, Thiago Carleto se esforçou muito para consertar bobeada defensiva e desarmar Jô, que ficaria de frente para Rogério Ceni. O lateral esquerdo, que vibrava a cada corte, também se destacou nas cobranças de bola parada, embora ninguém conseguisse completá-la para a meta de Victor.
O goleiro não fez nenhuma defesa antes do intervalo. Até porque o São Paulo não chutava a gol. Na única tentativa de arremate, Denilson isolou. Mais tarde, Osvaldo recebeu na entrada da área e, em vez de arriscar, tentou um drible a mais, dando à retaguarda tempo para se recuperar e travar a bola, para desespero momentâneo das arquibancadas.
Momentâneo porque o apoio foi irrestrito. E cresceu a partir dos 29 minutos, pouco depois de Jô assustar em cruzamento que desviou em Carleto e, por pouco, não encobriu Ceni. Cresceu quando o Arsenal abriu o placar, em Sarandí. A diretoria optou por não informar o resultado do outro jogo no placar, contudo a festa dos torcedores certamente foi entendida pelos atletas.
Pior para a defesa do Atlético, que tinha bastante trabalho. Réver dava bom combate na meia-lua, e Leonardo Silva afastava a maioria dos cruzamentos. Jô também voltou do ataque para ajudar. Uma de suas contribuições foi fundamental: após Paulo Henrique Ganso colocar a bola entre as pernas de Serginho, dentro da área, o atacante se atirou para afastar a escanteio.
O único escape mineiro, na realidade, era gaúcho. Ronaldinho incomodava a dupla de volantes quando conseguia dominar a bola e, em duas cobranças de falta, exigiu atenção de Ceni. Na primeira, acertou a cabeça de Paulo Miranda. Na segunda – originada em bobeada de Wellington, que, por isso, ouviu bronca de Rafael Toloi -, enganou alguns ao colocar a bola na rede, pelo lado de fora.
No retorno do intervalo, Victor logo viu que teria mais trabalho. Aos quatro minutos, pulou para desviar chute de Carleto, no ângulo. Cinco minutos depois, Leonardo Silva deixou Aloísio dominar bola dentro da área e foi obrigado a derrubá-lo com falta. Foi então que Ceni, ovacionado como o melhor goleiro do Brasil, caminhou para cumprir o que faz como poucos: bateu no canto esquerdo e pôs o São Paulo em vantagem. Na comemoração, ajoelhou-se e foi abraçado pelos companheiros.
A frieza – ou, em alguns momentos, indiferença – atleticana, eficiente no primeiro tempo, agora já de nada valia. Para evitar a repetição do confronto nas oitavas, a equipe alvinegra precisava, no mínimo, empatar. Só que a noite era tricolor. Aos 36 minutos, Osvaldo disparou pela ponta direita e atrasou para Ademilson, de frente para o gol, ampliar a vantagem e decretar o renascimento são-paulino na Libertadores.