Na primeira vez em que Alemanha e Argentina decidiram uma final de Copa do Mundo, em 1986, um brasileiro esteve em campo e puniu Diego Maradona. "Ele saltou na frente da barreira antes de uma cobrança de falta", lembra o ex-árbitro Romualdo Arppi Filho. Aos 75 anos, essa é sua principal lembrança a respeito da partida vencida por 3 a 2 pela equipe sul-americana, na Cidade do México.
Maradona, então com 25 anos, foi o principal destaque daquela edição do torneio, não pelo brinquinho na orelha esquerda, mas por gols (um de mão, inclusive) e jogadas fantásticas. Na decisão, embora não tenha balançado a rede, participou dos três gols argentinos – cavou a falta do primeiro, marcado por Brown, e deu o último passe para os outros dois, de Valdano e Burruchaga. Apesar da qualidade indiscutível, era ótimo na arte de encenar e criar polêmicas.
Romualdo conta, porém, que o argentino reagiu bem à advertência recebida no começo do primeiro tempo, quando o placar ainda era 0 a 0. "Foi uma falta quase em cima da risca da área, pelo lado direito da defesa alemã. Na hora em que apitei, antes de ser cobrada a falta, ele pulou para frente. Mas tomou o cartão sem problema nenhum. É que ele ficou marcado pelo gol de mão contra a Inglaterra (validado pelo tunisiano Ali Bin Nasser, nas quartas de final)", diz o brasileiro, que, naquela tarde de 29 de junho, também penalizou outros argentinos (Julio Olarticoechea, Héctor Enrique e Nery Pumpido) e alemães (Lothar Matthaus, Hans-Peter Briegel).
A escolha de Romualdo para a partida, quatro anos depois de Arnaldo Cezar Coelho ter se tornado o primeiro brasileiro a apitar uma final de Mundial, chegou a levantar suspeita, na época, de que seu nome havia sido indicado por influência de um compatriota que, com representantes de outros 15 países, compunha a comissão de arbitragem da Fifa. O ex-árbitro recorda, entretanto, que sua atuação foi enaltecida depois do apito final. "Tirei uma boa nota", diz, até hoje orgulhoso.
"Com a humildade que o caracteriza, Romualdo cumprimentou os atletas da disputa decisiva, despediu-se de todos e, para a sua honra, recebeu elogios de vencedores e derrotados", atesta a edição de A Gazeta Esportiva do dia seguinte ao jogo realizado no Estádio Azteca. Trabalhar na final da Copa do Mundo de 1986 foi um sonho para Romualdo, depois de ter atuado nas Olimpíadas de 1968, 1980 e 1984 e em competições menores e juvenis. Em um deles, com a presença de Maradona.
"Foi em um campeonato sul-americano juvenil disputado na Bolívia, quando ele jogava nas equipes de baixo da Argentina", lembra o ex-árbitro, avesso a comparações entre Maradona e Lionel Messi, mas elogioso ao craque que é a grande esperança argentina na final deste domingo, contra a Alemanha. "O Maradona era uma pessoa, o Messi é outra. Assim como Romário foi uma e o Ronaldo foi outra. São pessoas completamente diferentes, com características diferentes. Só vi o Messi pela televisão, mas ele é um grande atleta também, como tem se revelado na equipe da Argentina e no Barcelona".
Os elogios finais ficam para o italiano Nicola Rizzoli, árbitro escolhido para apitar final deste domingo, às 16 horas (de Brasília), no Maracanã. "Foi uma boa escolha. Ele é muito experiente, e espero que tudo possa correr bem para ele", encerrou o brasileiro, o último até hoje a apitar uma final de Copa e que, ao contrário de Arnaldo Cezar Coelho, não teve tempo para prender a bola do jogo consigo. Mas, pelo menos, anotou o nome de Maradona em seu cartão amarelo.