A insatisfação dos torcedores que prestigiam o futebol mato-grossense, também compartilhada com dirigentes de alguns clubes locais, chegou ao Ministério Público Estadual por meio de uma denúncia protocolada pelo torcedor do Cuiabá Esporte Clube, Ronicley dos Santos, 38 anos. Representante comercial e frequentador assíduo dos estádios há 15 anos, ele quer esclarecimentos sobre as denúncias que pesam contra o presidente da Federação Mato-grossense de Futebol (FMF), Carlos Orione, de omitir informações acerca de contratos firmados com uma marca de veículos patrocinadora do Campeonato Mato-grossense e com uma emissora de TV que transmite as partidas.
Ele protocolou a denúncia no dia 21 deste mês endereçada à Coordenação das Promotorias de Interesses Difusos e Coletivos do Ministério Público de Mato Grosso. Até o momento, ele não recebeu qualquer posicionamento dos promotores de Justiça. No documento, ele cobra explicações de Orione também sobre a venda do estádio Presidente Eurico Gaspar Dutra ocorrida em 2011. O “Dutrinha” foi vendido à Prefeitura de Cuiabá por R$ 3,5 milhões e torcedores e dirigentes de alguns clubes dizem que “ninguém sabe qual foi o destino do dinheiro”.
Na denúncia, o torcedor destaca que “considerado o único patrimônio da Federação Mato-grossense de Futebol, o estádio Presidente Eurico Gaspar Dutra, o Dutrinha, foi negociado com a prefeitura em 2011. Na ocasião, a prefeitura anunciou que as negociações giraram em torno de R$ 3,5 milhões, sendo que R$ 1,5 milhão foi na amortização de dívidas da própria FMF junto ao INSS para desbloqueio de bens do presidente Orione”. Ronicley disse que enquanto torcedor que vai aos estádios há 15 anos, paga entradas e ajuda a manter a FMF, ele tem direito a receber esclarecimentos sobre o destino dos valores. “Se estiverem desviando o dinheiro do futebol, vou parar de frequentar estádios”.
Ele também questiona o valor da negociação. “Diante do tamanho e localização da área, o valor de mercado do imóvel seria de, no mínimo, de R$ 10 milhões. Outro fato que chama atenção é que a negociação foi efetuada em um momento em que o então prefeito de Cuiabá Chico Galindo (PTB), se afastou do cargo para que o então presidente da câmara, Júlio Pinheiro (PTB), assumisse o cargo e “fabricasse a negociata”.
Ronicley também critica a permanência de Carlos Orione no comando da FMF há mais de 30 anos ressaltando que ele está no cargo desde 1979 e não age com transparência. “E com a possibilidade de renascimento do futebol profissional no Estado após Cuiabá ser definida como subsede da Copa do Mundo de 2014, é necessário que os atos da Federação sejam mais claros e transparentes, tanto para os clubes filiados, patrocinadores e os torcedores, que levam seu coração e alegria aos estádios de futebol. Por isso, venho através desta solicitar que os digníssimos promotores do MPE, que possuem a função constitucional de guardiões das leis, busquem promover uma profunda devassa nessa entidade que se transformou em um verdadeiro “Feudo” financeiro em que o presidente atua de forma ditatorial, vergonhosa e repugnante”, ressalta o torcedor no documento.
“Considerando que os fatos narrados caracterizam em tese, ofensa ao interesse coletivo, uma vez que o futebol é o esporte mais popular do país e que os atos da Federação Mato-grossense de Futebol apontam ausência total de transparência, requer-se ao Ministério Público sejam tomadas as providências cabíveis”.
Ele destaca que no ano passado a FMF assinou contrato com a empresa automobilística que expôs a marca em todos os jogos da competição. Conforme a denúncia, no lançamento da parceria nenhum dirigente de clube foi sequer convidado para a divulgação da parceria. Os clubes também alegam que não tiveram acesso e nenhum benefício com o contrato entre a FMF e a montadora”. Relata que a FMF chegou a dizer que seriam doados pela montadora dois veículos 0 Km para os clubes que participam da competição. “No entanto, nenhum deles foi ofertado e informações dá conta que os automóveis ficaram com o próprio presidente da federação, Carlos Orione, que teria feito a doação para servidores da sua própria confiança”.
Sobre o contrato com a emissora de TV, o denunciante relata que foi firmado em 2010 prevendo a transmissão com exclusividade dos jogos do Campeonato Mato-grossense. “Algumas informações dão conta de que ele se encerra no próximo ano. Porém, as informações que deveriam ser públicas não são. Os clubes têm reclamado que a parceria mais tem prejudicado do que ajudado. Alguns presidentes alegam que não assinaram e nem possuem documentos do contrato. Relata ainda que mesmo provocados na mídia, Carlos Orione e a direção TV nunca se pronunciaram sobre o caso.
Outro lado
Carlos Orione está afastado da presidência para tratamento de saúde. Procurado, o presidente interino da FMF, Luiz Welington da Silva, disse que ainda não recebeu nenhuma notificação ou intimação do Ministério Público. Disse que os pedidos de informações solicitados pelo torcedor são os mesmos já requisitados pelos clubes de futebol. Conforme ele, as informações estão sendo levantadas e na quinta-feira (6 de fevereiro) reunirá com os dirigentes do clubes para repassar os dados solicitados.