Revelado nas categorias de base do Grêmio em 2004 e 2005, Rone Silis Dias ainda era apenas um adolescente quando morava debaixo das arquibancadas do Olímpico, antigo estádio gremista. Como não suportava ficar preso o tempo todo dentro do alojamento, dava um jeito de escapar das concentrações do time gaúcho. Ele e seus companheiros tinham uma estratégia preparada para burlar a segurança do Centro de Treinamentos.
"Tinha horário pra voltar e, às vezes, a gente pulava o muro pra poder sair e jogava as camisetas para cobrir as câmeras de segurança. Tinha que dormir na frente pra esperar abrir o portão para poder voltar, coisa de adolescente mesmo (risos), gargalhou o meio-campista, atualmente sem clube, em entrevista exclusiva aoESPN.com.br.
"Em todas as concentrações tem horário determinado para retornar, geralmente até as 23h. Depois desse momento, ninguém pode voltar, somente às 7h da manhã. Quem não tinha dinheiro pra pagar hotel ou não tinha casa de parente ou amigo tinha que esperar no meio da rua mesmo (risos). Quando voce é mais jovem que sair e conhecer gente nova, fica muito preso dentro do alojamento", completou o jogador, justificando as peripécias nos tempos de Rio Grande do Sul.
Natural da cidade de São José do Rio Claro, no estado do Mato Grosso, Rone saiu de casa com 12 anos de idade para tentar ser atleta. Primeiro, no União Bandeirante-MT, por quatro anos, e depois no Grêmio, onde se profissionalizou. Por lá, ele fazia parte da mesma equipe de Marcelo Grohe, Lucas Leiva, Anderson e Carlos Eduardo.
"Jogávamos as competições de base e viajávamos juntos. Fiz parte do time B na Copa RS e num jogo comemorativo contra a Universidad do Chile. Foi uma época muito bacana e pude aprender muito. Ia e voltava pros juniores com frequência e não joguei em nenhuma partida profissional. Como o Grêmio tinha caído pra Série B, modificou muito os treinadores, e os jogadores ficaram no meio do tiroteio", lamentou o meia, hoje aos 32 anos.
Após rodar por clubes como Guarani, Treze-PB, América-RN, CSA-AL e Londrina, ele atuou pelo Cuiabá durante o Campeonato Estadual deste ano. "Foi muito bom jogar na minha região, a família estava sempre perto, eles sempre assistiam meus jogos quando podiam. O futebol está se desenvolvendo, ainda ficou muito tempo abaixo dos outros centros", garantiu.
Por ter passado por quase 20 times durante os 13 anos de carreira como jogador profissional, Rone coleciona histórias e 'causos' inusitados.
"Tinha um treinador chamado Pinho no interior de São Paulo, que era muito engraçado. Quando ia jogar, ele falava que tinha que chutar, bater, mas ganhar o jogo. Não foi meu técnico, mas meus amigos jogaram com ele. Quando o time dele estava ganhando, no final do jogo ele se jogava no campo e fingia que estava tendo um ataque epilético. Ele pegava um 'Sonrisal', colocava na boca e ficava espumando, mas os juízes não caíam muito na dele", contou.
O 'migué' dado pelo professor tinha como objetivo atrapalhar o ataque do time adversário. "O árbitro chegava pra ele e falava assim: 'levanta, Pinho'. Daí ele abria o olho e perguntava: 'se eu me levantar, você termina o jogo?' (risos). Ele chutava bolsa de massagista pra espalhar as coisas no campo(risos)… Muitos amigos meus já viram ele fazer isso (risos)".