Faltam dois dias para a ceia de Natal, nove para o Réveillon. Na correria da reta final, o estresse é tanto que parece que não é o ano que vai acabar, e sim o mundo. O que muita gente não percebe é que tudo poderia ser bem mais simples se não estivesse vivendo nesse clima de urgência e alimentando expectativas vagas –dos presentes que vai dar e ganhar às promessas de Ano Novo– há mais de um mês. Exatamente, desde 15 de novembro. A data foi definida na mais recente pesquisa da Isma-BR (International Stress Management Association, Brasil), uma associação sem fins lucrativos que estuda o estresse e suas formas de prevenção.
Que a tensão aumenta quando o fim do ano se aproxima é fácil perceber. O que a pesquisa fez foi quantificar isso: em média, o nível de estresse aumentou 75% na população entrevistada –678 pessoas (homens e mulheres) de 25 a 55 anos e economicamente ativas. A novidade foi localizar, nas páginas do calendário, quando isso começa e, o melhor, quando acaba: dia 7 de janeiro.
Não é pouca coisa saber que o desconforto emocional tem data para acabar –e é logo. Para o psiquiatra Tito Paes de Barros Neto, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, se há um aumento da ansiedade nesta época (segundo a pesquisa do Isma, 70% das pessoas se sentem mais ansiosas e 55% usam mais medicamentos para o sintoma), o primeiro recurso para controlar isso é saber que é só uma fase, vai passar.
Ansiedade Sazonal
De acordo com Barros Neto, algumas pessoas estão em uma categoria fronteiriça da ansiedade: não vivem necessariamente a patologia, mas, ocasionalmente (em épocas como o fim de ano), um sofrimento leve, que pode ser tratado de formas menos invasivas: “massagens, ioga, técnicas de relaxamento ou meditação”, sugere.
Mas, se a ansiedade se exacerbar a ponto de atrapalhar a vida, o psiquiatra recomenda que a pessoa procure ajuda especializada. Mesmo que seja só um problema sazonal, ele não tem nada contra o uso de medicamentos, com acompanhamento e por um período determinado –só naquele em que a coisa aperta.
Depois, é viver. “Um pouco de ansiedade todo mundo tem, basta estar vivo”, diz.
Para José Roberto Leite, coordenador da unidade de medicina comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), uma forma de simplificar as coisas é entender que, neste período do ano, há um padrão cultural que leva as pessoas a interpretar qualquer apelo de consumo, atividade ou programa como uma exigência. Nem todas podem ser cumpridas, mas a antecipação dessas “exigências” é a grande desencadeadora do estresse.
“É preciso questionar esses pensamentos disfuncionais, a idéia do ‘tenho de’ –comprar, servir, fazer. Por que sou obrigado a adquirir um monte de cacarecos para toda a família? É preciso colocar as coisas nos devidos lugares, resgatar os verdadeiros valores. Se é Natal, vamos enfatizar o fato de estarmos juntos, não é preciso mais nada”, afirma.
O ator e empreendedor social Wellington Nogueira, 45, põe isso em prática há dois anos. “Na minha casa, dia de Natal só tem presente para as crianças. Os adultos têm de trazer um pensamento, uma música, uma poesia para presentear os outros. Quando as pessoas se conectam, a mágica acontece: todos relaxam, ficam felizes. Hoje, desejar algo de bom para alguém já é um feito.”