O deputado Zé Carlos do Pátio (PMDB) cobrou do secretário de Estado de Saúde, Augustinho Moro, uma ação direta do governo para realização de “mutirão da saúde” em Rondonópolis. A intenção é normalizar a realização das cirurgias eletivas na cidade – via convênios estado-município – como forma de eliminar as demandas reprimidas que, segundo ele, estão em sentido ascendente.
A cobrança aconteceu ao final da audiência pública realizada ontem à noite, em Rondonópolis. O encontro foi o primeiro de um conjunto de audiências idealizado pela Comissão Permanente de Saúde para acontecer na região Sul do Estado e discutir problemas e alternativas para melhorar o sistema público local de atendimento à saúde.
Ainda na tarde de ontem, uma visita ao Hospital Regional de Rondonópolis Irmã Elza Geovanella mostrou deficiências de atendimento com pacientes sendo cuidados fora de salas adequadas. No âmbito da prefeitura local, as perspectivas não são alentadoras uma vez que, segundo o prefeito Adilton Sachetti (PR), o município já gastou 22% com a saúde local – 7% a mais do que o previsto.
A audiência pública trouxe à tona dossiê, denúncias de deficiências – entre as de atendimento, de tratamento e até de higiene – em PSFs (os Programas de Saúde da Família) e PAS (Pronto Atendimentos), e desatualização de pacientes agendados inclusive com pessoas já falecidas na fila de espera, entre outros problemas.
A líder do PMDB na Câmara de Vereadores local, vereadora Mariuva Valentim, leu dados de um dossiê que montou sobre a saúde pública na cidade. O documento aponta com números as deficiências de atendimento em consultas e exames, em diversas especialidades. A parlamentar também pediu a realização de mutirão na cidade – só que para atualização dos pacientes agendados na Central de Regulação, muitos dos quais já teriam falecido.
Ela alertou para a proibição de encaixes de pacientes no atendimento médico. Essa medida, segundo a vereadora, engrossa a fila dos que precisam de tratamento. “Precisamos mudar o formato do atendimento e acabar com a proibição dos encaixes para amenizar o número de pacientes na fila de espera”, desabafou Mariuva.
O diretor do hospital, Ênio Ricardo Pereira Júnior, reconheceu deficiências estruturais na instituição e disse que muitas delas são motivadas por processos licitatórios. A promotora da Infância e da Juventude de Rondonópolis, Maria Fernanda Corrêa da Costa, levantou os casos locais da dependência química para mostrar que há vulnerabilidade social na região e que é necessária a adoção de políticas concretas para reversão do problema.
Do município e com posições divergentes das apresentadas, o prefeito Adilton Sachetti e a secretária do município também reconheceram limitações. “O projeto do hospital regional é de décadas atrás e continua o mesmo, mas com a população triplicada”, lamentou Sachetti, pedindo para que a saúde local fosse discutida sem o uso da política. “A demanda de saúde não pára de crescer e há déficit. A ansiedade é natural”, disse a secretária de Saúde local, Aparecida Favaretto.
Segundo o secretário de Estado de Saúde, Augustinho Moro, o governo está atuando pela descentralização do atendimento em Rondonópolis. “O Estado está trabalhando para que os tratamentos sejam feitos nas respectivas regiões e não apenas em Rondonópolis”. Moro também assegurou que o caso das UTIs neonatais da Santa Casa é assunto concretizado. Elas estavam inoperantes por falta de profissionais. Outro anúncio feito por ele deu conta de que o município terá gestor único de Saúde com o Estado como co-partícipe.
O presidente da comissão, deputado Guilherme Maluf, salientou que a situação da saúde no Brasil é “muito complexa”, mas não foge à realidade de outros países. Ele advertiu que a saúde é infinita, ao contrário dos recursos e que uma das grandes dificuldades é a demanda aumentada. “Precisamos discutir, no próximo orçamento a alocação de recursos para o aumento de leitos a médio prazo”. Maluf também defendeu a participação do terceiro setor – as organizações sociais – junto à saúde pública.
Em outro momento da audiência, Zé do Pátio pediu a Augustinho Moro convênios para contratação de médicos intensivistas e neuropediatras, entre outras especialidades, e a avaliação da destinação de recursos públicos para a cidade. Disse, ainda, que o estado precisa dar maior suporte para Rondonópolis conseguir “segurar” a demanda cada vez mais crescente. “O Hospital Regional chegou ao seu limite porque era para ser de alta complexidade, mas passou a prestar outros tipos de atendimento público”, lamentou o parlamentar.
O Hospital Regional Irmã Elza Geovanella atende pacientes de toda a região sul, que concentra outros 18 municípios. São eles (em ordem alfabética): Alto Araguaia, Alto Garças, Alto Taquari, Araguainha, Campo Verde, Dom Aquino, Guiratinga, Itiquira, Jaciara, Juscimeira, Paranatinga, Pedra Preta, Poxoréo, Primavera do Leste, Santo Antonio do Leste, São José do Povo, São Pedro da Cipa e Tesouro.