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O amor que cura também desconstrói: Por que isso assusta?

*Soraya Medeiros é jornalista, pós-graduada em MBA em Gestão de Marketing, formada em Gastronomia
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Você já se perguntou por que, às vezes, ao nos depararmos com um amor verdadeiro, sentimos medo em vez de paz? Nem sempre é o amor que assusta — é o que ele desperta. O amor tem o poder de tocar nossas feridas mais profundas, revelar partes de nós que ainda não curamos, e nos convidar a ser vistos por inteiro. E ser visto, de verdade, pode ser desconfortável para quem passou a vida se protegendo da própria dor. Este artigo é um convite para refletir: será que tememos o amor ou tememos a cura que ele nos oferece?

O amor verdadeiro não é confortável. Ele é espelho, revelação, processo. Quando alguém nos ama de forma genuína, não consegue amar apenas as partes que julgamos bonitas — ama também o que escondemos, o que nos envergonha, o que ainda está em construção. E, por isso mesmo, nos sentimos expostos. Sentimos medo. Como bem disse Carl Gustav Jung, “aquilo a que você resiste, persiste”. Resistimos ao amor porque ele nos pede mudança. E mudar, muitas vezes, é doloroso.

Ao amar e ser amado de verdade, somos levados a revisitar nossos traumas, crenças e autoimagens. O amor saudável é incompatível com a zona de conforto do sofrimento conhecido. E é aí que mora o perigo: algumas pessoas preferem continuar em padrões destrutivos — relações tóxicas, rejeições recorrentes, ausências emocionais — porque, de certa forma, aquilo já é familiar. Já sabemos como sobreviver à dor. Mas a cura? A liberdade emocional? Isso é desconhecido, e o desconhecido nos desafia.

O psicólogo John Welwood fala sobre como evitamos o enfrentamento das nossas feridas ao recorrer a fugas inconscientes. No campo do amor, isso se manifesta quando rejeitamos vínculos profundos, sabotamos relações ou nos envolvemos com quem não está emocionalmente disponível. O medo não está no amor — está no que o amor nos obriga a ver.

Freud, por sua vez, chama atenção para a compulsão à repetição: esse movimento inconsciente de reviver experiências dolorosas na tentativa de dominá-las. Assim, muitas vezes escolhemos inconscientemente repetir os mesmos padrões: amar quem não nos ama, insistir em quem nos rejeita, evitar quem nos acolhe. Porque o amor que cura também exige um luto — o luto da identidade que construímos com base na dor.

Clarissa Pinkola Estés escreve que “amar é um ato de coragem”. E é mesmo. Amar é arriscar ser visto, ser tocado, ser transformado. É abrir espaço para uma nova versão de si mesmo — mais inteira, mais sensível, mais honesta. Mas para isso, é preciso atravessar o desconforto da desconstrução.

E como sabemos que encontramos um amor verdadeiro?

Quando atracamos nosso navio em porto seguro e reconhecemos o olhar do amor pelo espelho ao nos olharmos… Ou seja, ao nos ver com amor próprio, autoconhecimento e compaixão, e reconhecer nosso olhar no outro, identificamos quem nos ama. Quem ama, admira. Quem ama, cuida. Quem ama engrandece nossa alma. O amor verdadeiro não nos suprime — ele nos amplia. E sua presença nos dá paz, não medo.

Não é fácil permitir-se amar e ser amado. É uma jornada de cura e coragem. Mas é nesse processo — lento, profundo e muitas vezes silencioso — que nos libertamos das armaduras que nos aprisionam. Amar é o que nos humaniza. E ser amado, de verdade, pode ser o início da nossa mais bela reconstrução.

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