Ativistas, especialistas e familiares de pessoas convivendo com aids cobraram hoje (1), Dia Mundial de Luta contra a Aids, mais campanhas de esclarecimento sobre a doença. No 1º Encontro Carioca de Combate à Aids, feito no Centro Cultural Cordão da Bola Preta, denunciaram que a doença migrou para populações mais pobres e vulneráveis. Eles concluíram que a aids só será superada com o enfrentamento à violência de gênero, à homofobia e à pobreza. Mulheres e jovens estão entre as maiores vítimas no país, segundo o Ministério da Saúde.
“A população menos favorecida é a que mais sofre. A aids se localizou entre os setores menos privilegiados, entre os mais pobre, os mais jovens, gays e a terceira idade. As pessoas mais ricas, quando infectadas, têm plano de saúde, saem do país para se tratar”, analisou o coordenador de projetos da Associação Brasileira Interdisciplina de Aids (Abia), Vagner de Almeida. Na opinião dele, uma forma de enfrentar o problema é colocar a aids na agenda pública, como se fazia há 20 anos, esclarecendo e alertando para a doença e métodos preventivos.
“Vejo pessoas reagindo hoje do mesmo modo que vi quando entrei nesse mundo, em 1992. À época o Brasil não tinha nem remédios. Não se falava sobre camisinha e havia muito preconceito”, lembrou. Hoje, ela sugere que mulheres, por exemplo, testem a camisinha feminina e percam a aversão. “As mulheres têm dificuldade de usar [o preservativo feminino] e atribuem essa responsabilidade ao homem. Mas depois que ela usa, ela se sente segura. Passa a não depender mais da negociação [do preservativo] com o parceiro ou parceira”, comentou.Essa é a mesma avaliação da represente da Comunidade Internacional de Mulheres Vivendo com HIV/Aids (ICW, sigla em inglês), Juçara Portugal Santiago. Ela acredita que o estigma e o preconceito são os maiores desafios para conter a transmissão. Além de enfrentar a pobreza e cobrar ações de combate à violência de gênero, ela defende mais conhecimento.
Vagner de Almeida, que também participou da Conferência Internacional de Aids, na Austrália, em outubro, defendeu ainda mais opções de tratamento que não depende apenas do uso do preservativo. “Quantas mulheres não conseguem negociar o uso da camisinha com o parceiro? Quantos jovens usam uma, duas vezes, depois apaixonam-se e deixam de lado? E a camisinha, eventualmente, pode estourar. Pode ter um problema ou não ser bem utilizada. É preciso ter preservativos [para ambos os gêneros] e os retrovirais”, opinou.
Durante o evento, o ativista Cazu Barros, que convive com a aids e tem se dedicado a divulgar informações sobre a doença, denunciou problemas no tratamento. Explicou que não basta a rede de saúde apenas fornecer os retrovirais, mas garantir um atendimento de saúde completo. “Na consulta [médica] você vai para pegar a medicação mensal. Você não tem acesso a outros especialistas como dermatologista, neurologista, dentista, psicólogo e isso não ajuda”.
Barros também denunciou no encontro carioca que o medicamento Kaletra, para os pacientes com aids, está em falta por dois meses em postos de saúde no Leblon e na Lagoa, na zona sul da cidade. A Secretara Municipal de Saúde não esclareceu o problema nas unidades.