O risco maior de morte precoce no Estado é antes do primeiro ano de vida. A pesquisa “Estatísticas do Registro Civil 2015”, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados sobre mortalidade infantil, revela que em Mato Grosso, em 2015, faleceram 922 crianças de zero a 12 anos, sendo que 73,4% delas eram bebês, com menos de um ano. Outras 76 crianças mato-grossenses não chegaram ao segundo aniversário. De dois a 12 anos, os índices de mortalidade caem consideravelmente, girando entre 11 e 33 registros por ano. As causas que levam a estas estatísticas vão desde desnutrição profunda às leucemias, passando por doenças cardíacas e acidentes domésticos e de trânsito.
A morte de Luan é uma das que compõem a estatística do IBGE. Aos 10 anos ele foi vencido pelo câncer, em 15 de julho do ano passado, em Cuiabá, onde fazia tratamento contra a leucemia, na ala infantil do Hospital do Câncer. A história dele repercutiu porque precisava passar por transplante de medula, após reincidiva da doença. A família fez campanha procurando um doador de medula para o menino. Os pais e o irmão, Mateus, não eram compatíveis, como confirmaram exames. Quando chegava perto de um doador a princípio compatível, ele piorou e faleceu
Um ano e cinco meses após o adeus de Luan, o pai dele, José da Silva, 46, pedreiro e garçom, ainda sofre. “Nossa senhora, é saudade demais do meu filho, meu Deus, muita saudade mesmo”, frisa. Ele ainda lembra de tudo que foi feito pela vida do menino e do envolvimento das pessoas, muitas delas desconhecidas, que se engajaram na campanha de doação de medula. “Carrego no coração todo mundo que nos ajudou, pessoal do Hospital do Câncer, muita gente boa que se aproximou de nós, nem que seja conversar com a gente. Fizemos todo o possível e agora só temos que agradecer, tocar a vida, cuidar do meu filho que está aqui com a gente”, diz o pai. A mãe de Luan, a empregada doméstica Elessandra Ramos, passou uma fase deprimida e demorou muito para se recuperar. O irmão de Luan, Mateus Felipe, também “fica pensativo”, como diz José, se a família fica falando muito disso. “Bola para frente e no coração fica a saudade”.
É um trauma a perda de uma criança. O pediatra Euze Carvalho, da Sociedade Mato-grossense de Pediatria, diz que alguns procedimentos são fundamentais para afastar essa experiência fúnebre, muitas vezes evitáveis, embora em outras não seja. “Costumo dizer que em primeiro lugar é o pré-natal. Nesta fase, é possível prever muitas complicações futuras e já ir tratando. Depois que nasce, são três passos fundamentais: leite materno até os seis meses, acompanhamento mensal de médico até um ano e vacinação em dia”, ressalta o especialista, que é médico em Cuiabá há mais de duas décadas.
Segundo ele, as vacinas livram os filhos de 80% das enfermidades, algumas delas muito graves, como a meningite. Segundo Carvalho, até o primeiro ano de vida, as infecções intestinais, chamadas gastroenterites, matam muito. São causadas pela entrada de vírus e bactérias no aparelho gastrointestinal. Os sintomas iniciais são febre, diarreia, vômitos e calafrios. Para evitar, a mãe deve lavar sempre bem as mãos, estar limpa para cuidar do bebê e ferver mamadeira e chupeta e outros vasilhames da criança. Isso coíbe, por exemplo, o rotavírus, um dos agentes mais comuns e agressivos da doença. De dois anos em diante, o pediatra informa que uma série de doenças pode matar, como as pneumonias, mas estão também sendo barradas por meio da imunização contra a bactéria Haemophilus influenza, também causadora da meningite.
Diabetes infantil mal controlada, leucemias, imperfeições cardíacas também estão na lista de doenças preocupantes, assim como doenças raras de difícil diagnóstico. No entanto, o pediatra Euze destaca que o diagnóstico precoce é sempre importante no
sucesso do tratamento e que, por isso, são importantes as consultas frequentes ao
médico na infância. Destaca ainda que a maior parte das crianças vence a morte, supera obstáculos na área de saúde e escapa até do câncer. No entanto, após os cinco anos ficam diante de um outro tipo de risco, que são os acidentes
domésticos e de trânsito. “Os pais precisam cuidar em casa com muita atenção e quando forem sair de carro têm que usar a cadeirinha e o cinto de segurança, não deixar ir na frente, para evitar tragédia”, adverte.
Ele chama atenção ainda para o risco de afogamento em piscinas e outros recipientes, além de outras fatalidades em casa com faca, por exemplo, típicas do período de férias. Apesar de ser preocupante, os índices de mortalidade infantil estão em redução em Mato Grosso. De 2014 para 2015, diminuíram em 4,75%, assim como no restante do país. No Brasil, os óbitos de crianças com até um ano de idade passaram de 4% do total de registros de óbitos em (2005), para 2,5% em (2015). Na faixa até cinco anos, essa participação caiu de 4,8% para 3,0%.