A logística para transportar o material de construção para escolas em aldeias indígenas sobrepõe até mesmo os investimentos na obra. Este desafio foi discutido durante audiência pública realizada em Gaúcha do Norte, na Câmara de Vereadores.
Convocada pela Organização dos Profissionais da Educação Indígena de Mato Grosso (Oprimt), a Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer (Seduc) ouviu e respondeu às demandas apresentadas pelos indígenas, e também apresentou a posição do órgão para a construção de uma Política Educacional Escolar Indígena no Estado.
Após apresentar as demandas, documentos foram entregues ao secretário-adjunto de Política Educacional, Gilberto Fraga de Melo, que fez alguns encaminhamentos.
Antes do evento, Fraga visitou a Escola Estadual Gervásio dos Santos Costa. Na oportunidade, ele conversou com alunos desta unidade. Ele se comprometeu com os alunos do terceiro do ensino médio em disponibilizar uma plataforma web para intensificar os estudos para o Enem. O secretário salientou aos alunos que o estudo diário de uma hora, além do conteúdo disciplinar na escola, pode apresentar – conforme os testes – um crescimento de 40% no desempenho das provas.
A principal reivindicação da comunidade escolar urbana está relacionada à construção de uma quadra poliesportiva coberta. Já a comunidade indígena reivindica infraestrutura das unidades localizadas nas aldeias. Esta não foi a primeira vez que representantes da Seduc discutiram com lideranças indígenas melhoria na rede física das escolas.
A Secretaria investirá um montante de R$ 5,3 milhões em novas salas de aulas de escolas localizadas em aldeias. Deste total, R$ 3,5 milhões estão previstos no orçamento da pasta para este ano. Com os projetos concluídos, ainda este mês serão iniciados os processos de licitação.
Os prefeitos Nilson Francisco Aléssio e Gilmar Wentz de Gaúcha do Norte e Querência, respectivamente, participaram da audiência e citaram as dificuldades encontradas nos municípios. “A gente sabe da extensão do Parque do Xingu. Esta audiência representa uma oportunidade para apresentar as demandas. A gente sabe das dificuldades devido à logística e a importância das escolas para os povos indígenas”, disse Aléssio.
“As dificuldades culturais precisam ser respeitadas. Tenho certeza que este governo saberá fazer isso e vamos esperar porque é formado por pessoas sérias, embora limitado por questões financeiras. Temos nossas responsabilidades”, afirmou o prefeito de Querência, durante a audiência.
Assessor especial da Seduc, o engenheiro civil Fábio Frigeri afirmou que os projetos apresentados pelo órgão são frutos de reuniões anteriores. “O material que vamos disponibilizar é inovador, o que favorece a logística para a construção, com material fácil de transportar. É o que tem de mais novo e rápido para ser construído, respeitando a questão orçamentária”, resumiu o engenheiro.
Fraga disse que, além de ouvir as reinvindicações, a Seduc tem respostas para alguns problemas. “Escola é um espaço estático onde pode ou não se fazer educação. Eu quero que nas aldeias tenhamos escolas, mas acima de tudo que nas escolas tenhamos educação e que respeitem os saberes tradicionais, que saibam um pouco dos saberes universais que se requer para uma convivência harmônica”, acrescentou Gilberto.
Ele destacou que a necessidade de Estado e municípios atuarem dentro de um princípio de colaboração. “Estado não pode concorrer com município e município não pode concorrer com o Estado. Um não pode ficar empurrando para o outro porque para os cidadãos não interessa se é Estado ou município, o importante é que o serviço seja executado”, salientou.
No entanto, Fraga afirmou ainda que os problemas não serão resolvidos de uma só vez. “Vamos assumir compromissos e cumpri-los. Vamos planejar a logística porque anteriormente foi feita promessa para a construção de escolas aqui e parece que para aqueles que prometeram o Rio Xingu tinha nascido naqueles dias”, ironizou.
Ele relembrou que a Secretaria de Educação teve que devolver recursos para o Governo Federal, que deveriam ter sido investido na construção destas escolas, por falta de planejamento da gestão anterior que não contou com a logística para este material chegar até as aldeias. “A logística é quase que o preço da construção”, explica Fraga.
A mediação da audiência foi do presidente da OPRIMT, Mayawari Mehinako. O coordenador da Educação Escolar Indígena da Seduc, Felix Aduguenal, diretores de escolas indígenas e caciques de aldeias do Xingu participaram do evento.