No segundo dia do desfile do Grupo Especial do Rio, temas típicos do Brasil foram os mais abordados pelas escolas de samba –entre os assuntos estavam religiosidade, mulheres brasileiras e rio São Francisco. No entanto, uma das agremiações que mais ganhou destaque foi a Unidos da Tijuca, que optou por falar da música –considerada a língua universal. A apresentação da Portela, última do Carnaval carioca, chegou ao fim por volta das 7h40.
A Unidos da Tijuca, quinta escola a se apresentar, inovou na maneira como usou alegorias humanas. O carro abre-alas, por exemplo, imitava um toca-discos que precisava dos integrantes para girar. Ao segurar diferentes placas, cerca de 80 pessoas formavam a imagem de LPs que se alternavam no tocador. Enquanto um deles trazia as palavras “Unidos da Tijuca”, outro mostrava uma bolacha com o nome de diversos gêneros musicais.
As alegorias humanas também estiveram presentes no carro “A Ópera do Carnaval”, que homenageou as 14 escolas do grupo especial. Organizados em forma de escada, os integrantes subiam e desciam bandeiras de todas essas agremiações.
Brasil
A noite começou com o desfile da Porto da Pedra, que apresentou problemas por conta do quinto carro alegórico –ele quebrou na concentração do sambódromo e comprometeu a entrada do restante dos carros e componentes.
Com pouco mais de 40 minutos de desfile, a agremiação, que defendeu o enredo “Bendita és tu entre as mulheres do Brasil”, uma homenagem às personalidades femininas do país, chegou a ficar alguns minutos completamente parada na avenida. Já no final, após a bateria deixar o recuo, a escola apertou o passo.
A segunda escola a se apresentar foi a Mangueira, que falou do rio São Francisco e aproveitou para conscientizar a população sobre a necessidade de preservá-lo. Com Jamelão à frente dos puxadores e alegorias que exaltavam o verde e o rosa, a escola destacou os costumes indígenas.
O verde-e-rosa da escola esteve presente em praticamente todas as alas, entre elas a das baianas, o casal de mestre-sala e porta-bandeira e a bateria do mestre Marrom, que trouxe fuxicos costurados na fantasia.
Também homenageando o país, a Unidos do Viradouro falou sobre os 500 anos da arquitetura no Brasil. Chamaram atenção os carros que mostravam duas situações diferentes. O abre-alas tinha ondas gigantes na parte da frente –representando a chegada dos portugueses–, enquanto sua traseira mostrava uma grande oca em construção.
Neste mesmo estilo, luxuosos prédios à beira-mar dividiram espaço com uma favela dos anos 30 –a “favela dos meus amores”, com ar romântico. Outro carro mostrou a “favela dos meus horrores”, mais parecida com aquelas da atualidade.
O quarto desfile da noite ficou por conta da Mocidade Independente de Padre Miguel, que representou a história dos quatro guerreiros do apocalipse que vão ao futuro resgatar um mundo novo, sem deixar de lembrar os seus 50 anos de existência.
Apesar de alas com nomes como “A Guerra” e “Morte”, a escola destacou mais soluções do que problemas. Logo após o carro alegórico “A Transmutação”, as fantasias e alegorias vieram mais claras. A ala “Liberdade”, por exemplo, abusou do dourado com detalhes em branco. Já os ritmistas do mestre Jonas desfilaram como “Cavaleiros da Fartura”, em prata. Viviane Araújo, rainha da bateria, veio em verde e prata.
Depois da Unidos da Tijuca, que fugiu da temática brasileira, a Império Serrano mostrou as diversas manifestações religiosas que sobrevivem nos quatro cantos do país.
Neste contexto, o carro alegórico “Romarias – Os Caminhos da Fé” levou para a Sapucaí uma estátua de cinco metros do padre Cícero, similar à que leva milhares de romeiros a Juazeiro do Norte, na região do Cariri (sul do Ceará). A alegoria carregava representações de oferendas de devotos que atribuem uma graça ao padre Cícero, como peças em forma de partes do corpo humano e fotografias –que homenagearam as pessoas da comunidade da Império que construíram o carro.
A Portela encerrou os desfiles falando sobre o jeito dos brasileiros, ao som do samba-enredo “Brasil, marca tua cara e mostra para o mundo”.
Ao contrário do que aconteceu no ano passado –quando a Velha Guarda não participou do desfile –, a agremiação deu agora total destaque a esses integrantes. Eles vieram sobre o carro abre-alas, que tinha uma águia, o símbolo da escola.
Esta ave também esteve presente na comissão de frente, que mostrava as diversas origens do povo brasileiro. De um lado, as fantasias dos integrantes mostravam a águia. Quando eles viravam de costas, apresentavam ao público a imagem de índios e negros.