Mato Grosso é o segundo no ranking de letalidade no trânsito no Brasil. “Essa é uma realidade que precisa ser revertida com urgência, com a atuação do poder público e sobretudo com a conscientização da sociedade. O mais importante é essa conscientização, por meio da educação para cumprimento das regras de trânsito, visando garantir segurança e diminuir essa margem crescente e vergonhosa de vítimas”. A declaração é do promotor de Justiça Kledson Dionysio de Oliveira, da Promotoria de Justiça Criminal de Cuiabá, onde delitos de trânsito representam aproximadamente 80% dos procedimentos em andamento.
O integrante do Ministério Público de Mato Grosso analisou, durante a campanha Diálogos com a Sociedade, ao lado do delegado Christian Alessandro Cabral, titular da Delegacia Especializada de Delitos de Trânsito (Deletran), os impactos da violência no trânsito, e analisou que os acidentes de trânsito trazem inúmeros prejuízos para as pessoas envolvidas e para o Estado, que arca com os custos da saúde e patrimoniais, por exemplo. Mas, o maior deles é a perda de vidas. “Infelizmente, há ainda questões irreparáveis como o direito fundamental à vida. Sempre digo que é impossível mensurar quantas mortes acontecem. Temos um número, mas, dentro de cada morte, existe também um pai que ‘morre’, uma mãe, um filho. Então, cada morte no trânsito também mata uma família e isso a gente não consegue computar. Isso não pode continuar”, defendeu.
O delegado Christian Alessandro Cabral, que está à frente da Deletran desde 2013, revelou que o panorama de mortes no trânsito em Cuiabá tem permanecido o mesmo ao longo dos últimos anos. “Em 2024, com o fechamento do mês de agosto, estamos com uma média de 15 óbitos no trânsito por mês na região metropolitana, um índice muito alto. No ano passado, encerramos com 13,67 mortes por mês e, em 2022, com 15 também. Então nós observamos que, a despeito de tudo o que acontece, dos esforços empreendidos, das obras de engenharia viária feitas para melhorar a circulação, os índices de letalidade não são reduzidos e nós estamos atrasados junto ao compromisso firmado com a Organização das Nações Unidas para a melhoria desse indicativo”, assinalou.
De acordo com o delegado, ao longo do tempo a Deletran mapeou as principais causas dos acidentes de maior letalidade e lesividade. “Chegamos a uma conclusão interessante. Durante as madrugadas e nos fins de semana, os acidentes causados por veículos de quatro rodas têm como causa preponderante a embriaguez. Agora, durante o horário comercial e nos dias de semana, a causa preponderante está ligada à inobservância das regras de circulação viária. É aquele condutor que, às vezes, vai fazer um contorno em local proibido, ou um motociclista que vai trafegar no corredor entre os veículos ou que vai fazer uma conversão passando sobre a calçada”, revelou. “Por incrível que pareça, a maior parte dos acidentes envolvendo motocicletas tem como vítimas fatais os próprios causadores. Então, as pessoas que estão infringindo as leis de trânsito estão sendo penalizadas com suas próprias vidas em razão do comportamento imprudente. A motocicleta é uma espécie de veículo automotor e está sujeita aos mesmos regramentos dos demais. Infelizmente, grande parte dos nossos motociclistas acham que têm uma prerrogativa para se comportar de maneira diferente”, ponderou.
Eles também apontaram como principais causas de acidentes a embriaguez ao volante, o uso do telefone celular na direção e o excesso de velocidade. Segundo o promotor, as pessoas conhecem a legislação e precisam colocar em prática essa consciência. “Não existe condutor que desconheça, por exemplo, que não pode dirigir sob efeito de álcool. Mesmo assim, nas edições de operações da Lei Seca, vemos dezenas de pessoas flagradas e presas. E é muito importante dizer que, além de ser uma infração administrativa de trânsito, a embriaguez ao volante é um crime. A pessoa será acionada na Justiça por isso”, argumentou.
A informação é da assessoria do MP.