A manutenção da cultura. A cultura de um povo que, de geração em geração se preserva viva e atrai olhares do mundo inteiro. Os povos indígenas do Xingu, mais especificamente no Alto Xingu, onde está localizada a etnia Yawalapiti, é exemplo da tradição, da memória que não se deixa morrer. A celebração do Quarup, um dos mais antigos rituais desses índios poderá se tornar patrimônio histórico imaterial da humanidade. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) esteve na aldeia e fez o registro dos 10 meses da celebração do ritual indígena, que iniciou em novembro e terminou no último dia 19. Este ano, o etnólogo e antropólogo Darcy Ribeiro, um dos responsáveis pela criação do parque Nacional do Xingu, juntamente com Marechal Rondon, Eduardo Galvão e os irmãos Vilas Boas, foi um dos homenageados. Em outubro ele completaria 90 anos.
Para a superintendente de Assuntos Indígenas de Mato Grosso, Janaina de Oliveira, esse registro é extremamente importante. Ela explicou que o Iphan estabeleceu uma metodologia para poder registrar todo e qualquer patrimônio imaterial ou registro cultural de um modo geral no Brasil. É o chamado Inventário Nacional das Referências Culturais (INRC). O Quarup, segundo Janaina, vem sendo difundido, mostrado desde o contato dos índios com os não índios, e pelo fato haver uma curiosidade, uma busca muito grande por esse ritual indígena, existe o receio de que a celebração acabe. "O Governo de Mato Grosso, por meio da Superintendência Indígena tem apoiado todos os registros dentro de área indígena para que não se perca essa identidade, fazendo o acompanhamento das equipes que se deslocam para a aldeia, já que é um trajeto dispendioso e longo. Sempre em parceria com a Funai, que nos informa o que os grupos visitantes precisam, encaminhamos alguém para auxiliar, por exemplo um cinegrafista que venha de fora e que nunca teve contato com terra indígena, para que não aconteça nenhum erro no processo".
Com base na elaboração de uma agenda de governo, Mato Grosso resolveu mudar, não só para o Brasil, mas para o mundo, historicamente a imagem com relação aos cuidados com a cultura e com as etnias indígenas, conforme explicou a superintendente. "Levando em consideração que o Brasil é uma sociedade extremamente eclética e que Mato Grosso possui 42 etnias e 78 terras indígenas homologadas e conseguimos registrar isso dizendo que o Estado cuida das questões indígenas e de sua diversidade cultural e populacional. Isso é fundamental para o Governo do Estado porque os espaços já foram tomados então nós temos que manter esses espaços já referendados e homologados. Isso é muito importante porque é único" disse Janaina ao lembrar que Mato Grosso saiu na frente quando fez o projeto piloto de INRC em 2008 na região quilombola no município de Vila Bela da Santíssima Trindade (a 521 Km a Oeste de Cuiabá). A partir daí, numa parceria com o Iphan, Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e Instituto Quiloa Kongo de Vila Bela começou a desenvolver um método de fazer esse inventário. "Em terras indígenas ainda não havia sido feito. Vai ser feito apoiamento inclusive com documentário para essa divulgação. Hoje, em muitas escolas as crianças não sabem o que está acontecendo nas terras indígenas que ficam aqui do lado e essas instituições são as principais fomentadores de qualquer informação", ressaltou.
O documentário visual, que também está no edital, será distribuído em todas as escolas estaduais para que seja um instrumento de conhecimento das culturas de Mato Grosso, um trabalho de esclarecimento, para desmistificar a imagem do índio.
O respeito e a admiração pelo ritual do Quarup foi destacado por Janaina quando ela comparou ao modo de vida na sociedade não índia. "Temos nossos mitos e ritos normais. Quando perdemos alguém, velamos, choramos, ficamos com saudade. Entender esse processo do Quarup é muito bonito. Eles fazem o ritual, que é de desapego. Ali nos troncos do Quarup os índios depositam o sofrimento durante toda a noite, e no raiar do dia vem a alegria. Depois jogam os troncos nas águas e ali se vai todo o sofrimento deles e continua-se a vida. Foi de extrema importância, inclusive pessoal e emocional estar presente nesse celebração. Os ritos são fundamentais em nossa vida e o deles é lindíssimo", disse Janaina ao contar que foi muito gratificante ter participado da cerimônia pelo fato da superintendência indígena ter sido convidada a participar pelo trabalho que realiza na aldeia.