Uma equipe de quatro brigadistas do Instituto Chico Mendes que estava na divisa entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul viveu momentos de tensão ao ter um de seus membros atacado, sem consequências graves, por uma onça-pintada (Panthera onca). A equipe realizava o monitoramento e vigilância noturna de um foco de incêndio combatido na porção central do parque.
João Paulo da Silva Silvino estava no acampamento com os companheiros de brigada à noite, e ao apanhar lenha para avivar a fogueira, bem próximo ao local onde a equipe descansava após mais um dia intenso de trabalho duro no combate ao incêndio, foi surpreendido pelo salto do maior felino das Américas. Os outros brigadistas, ao verem a cena, partiram para cima do predador, gritando e agitando os braços. A onça desistiu do ataque e fugiu. Silvino levou um arranhão no braço da garra do animal selvagem e ficou com sua gandola rasgada.
Segundo os brigadistas, tratava-se de uma fêmea com filhote. Acredita-se que o incidente aconteceu porque o local do combate e do acampamento fica próximo da área onde elas estavam. Após a ocorrência, nenhum dos quatro brigadistas conseguiu descansar durante a noite. Eles retornaram à sede do Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense na manhã seguinte, em aeronave da Marinha que estava dando apoio na operação.
“É por Deus que estou aqui agora. Me afastei cinco metros da fogueira para pegar lenha e senti que a onça estava próxima. Vi que ela estava se preparando para dar o bote, ergui os braços e gritei. Mesmo assim ela pulou, mas meus companheiros vieram me socorrer imediatamente, se estivesse sozinho não estaria aqui”, conta o brigadista.
Silvino, que tem 38 anos e cursa Gestão Ambiental em Brasília, não se intimidou com o ataque e diz não ter receio de voltar a combater o fogo no Pantanal. “A gente que tem essa profissão tem amor pelo que faz. Fica a experiência, vontade que mais ninguém passe por isso. Falei com o Chefe de Operações, que perguntou se eu estava bem para prosseguir, e estamos às ordens, como os demais da equipe. A gente nunca faz nada sozinho, o trabalho em equipe é fundamental. Quando a gente assume um compromisso, a gente tem que estar disposto a tudo. O susto foi grande. Aconteceu, mas o meu foco é defender o meio ambiente.”
Como foi considerado que o incêndio está controlado no local e diante da ocorrência, por questão de segurança da equipe, o Comando do Incidente decidiu monitorar o local com sobrevoos, ao invés de manter equipes em solo no período noturno. O Chefe do Esquadrão de Silvino, Alessandro de Araújo Silva, relata que “é uma região que você não pode ficar muito manso, acontecem coisas que você não previa, como aconteceu com nosso companheiro Silvino. Ele saiu, pegou uns gravetos, foi a hora que a onça o pegou, nós estávamos próximos e saímos gritando e o animal fugiu para o mato. Depois ficamos juntos perto da fogueira vigiando. É importante estarmos sempre juntos, porque é quando menos se espera que esse tipo de coisa acontece. Deus nos protegeu que não foi um acidente mais grave. Temos que ter muita atenção, os companheiros devem estar sempre em dois ou três. É o ambiente delas (onças), com incêndio ou não.”
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