Meu passo retrocede quando os de vocês avançam. Anda em meu sangue um rio que quer o oceano, mas não tem pressa para chegar, nem quer chegar, só quer meandros.
Só assim liberto minha voz, só assim escapo do que eles querem (não sabem o que querem), tentando pegar dos demais a força e a vida esquecida no interior deles, já não criam amor.
A aparência preocupada – plásticas, as falas prontas e discursos de algibeira – palavras ocas, não sendo fortes o bastante, não escondem a miséria real. Não escondem o medo, o vazio e o desespero de ter e parecer.
Nunca dominaremos a natureza – nós somos natureza – será sempre construção transitória e limitada. Não adianta a prepotência deles, dispostos a derrubar e acostumados a se esconder. O medo de si mesmos, de sua própria vacuidade. A realidade – a imaginação – é forte demais.
O amor vem das coisas pequenas, do pouco, da pouca bagagem. A gente se despede, insensivelmente, das pequenas coisas, essas sementes de imensidão. Elas reanimam origens, renovam e redobram a alegria, tornam-se oceânicas sem nem ter um oceano.
Se você não saboreia com pouco, não vai saborear com muito, não importa o tanto da sua meta, não importa o tanto de coisas que você quer com a sua meta. As coisas tendem a roubar a nossa liberdade.
Escrever para mim é procurar. Mesmo sem ter, me alegro, para quando encontrar, não entristecer.
Thiago de Mello me ensinou que… nasce o barqueiro quando o barco afunda. A viagem quem a faz é o barqueiro. O barqueiro é o que nasce. Ele disse que nascer jamais será chegar, pois todos chegam, barqueiros como barcos. Nascer é desvelar-se. É ter-se e dar-se. É ser-se dono e servo, inteiramente. Nascer é renascer.
Amigo leitor, não deixe nunca os bens, o dinheiro e o poder tomarem a sua liberdade. “Amar é a gente querer se abraçar com um pássaro que voa”.