O que pode tornar um destino único? Como valorar o simbólico? Como transformar a cultura em economia sem descaracterizá-la? Essas e outras questões foram levantadas durante a palestra ‘Economia Criativa e seus impactos’ ministrada pela mestra em Administração, Larissa Almeida, na programação técnica da FIT Pantanal 2017 neste sábado (22.04).
A palestrante mostrou um conceito sobre economia criativa, revelando que se trata de um ambiente que utiliza a imaginação para se inspirar nos valores culturais intangíveis de um povo, gerar localmente e distribuir globalmente bens e serviços de valores simultaneamente simbólicos e econômicos.
E, fazer a junção do simbólico com o econômico é um dos desafios na economia criativa. Como assegurar que as manifestações culturais não sejam afetadas com a promoção econômica das mesmas é uma questão que deve envolver toda a comunidade, pontuou a professora que é graduada em hotelaria.
“Assim como outros segmentos, a cultura também vai se adequando às novas gerações e demandas, mesmo aquelas mais tradicionais. Então, a ideia é colocar as crianças para se envolverem no processo de apropriação dessas tradições, fazê-las conhecer a fundo os detalhes para que possam passar adiante e, para que estimulem seus familiares a mantê-las vivas”, explica Larissa.
Quanto mais o próprio povo conhece as suas histórias e riquezas, mais valorizam e, consequentemente, quem está de fora também passa a valorizar mais, argumentou. “Isso se chama ‘empoderamento’ das pessoas e, assim, toda a comunidade vai se fortalecendo e tendo a possibilidade de usar tais manifestações de modo que gere renda, sem perder nenhuma característica, impedindo que quem venha de fora interfira no processo. Quanto mais fortalecida a cultura mais ela fica imune a interferências externas”, observou.
Larissa demonstrou alguns exemplos de pessoas que desenvolveram projetos de economia criativa e estão fazendo a diferença. Entre eles, o de um grupo de mulheres recifenses que decidiu criar uma loja de fantasias e adereços para o carnaval inspiradas pela memória afetiva da festa que é uma das mais tradicionais de Pernambuco. “Movidas pelo carnaval e por tudo o que elas vivenciaram participando da folia, suas lembranças e concepções pessoais, decidiram trazer tudo isso para uma atividade econômica que gera lucro. Isso é aliar o simbólico ao econômico”, revelou Larissa.
Outro exemplo é um portal colombiano que oferece experiências que só quem vive no local conhece. Você se inscreve e pode ter acesso a opções como idas ao mercado, oficinas de culinária, restaurantes locais, além de ter contato com quem vive em Bogotá numa espécie de intercambio cultural só que sendo recebido por quem é ‘local’. “É assim que o turista pode vivenciar momentos que, muitas vezes, nenhuma agência de viagem pode proporcionar”, afirma.
Também no Recife, outra personagem dá vida a um projeto de economia criativa que deu certo. A história de ‘Ceça do Espetinho’ que vive no bairro Bomba do Hemetério (região metropolitana da capital), conhecido pelo grande potencial artístico e cultural, poderia se encaixar perfeitamente em tantas outras histórias de pessoas comuns. Ceça ficou desempregada quando decidiu começar o seu próprio negócio vendendo espetinhos pelo bairro. Aos poucos foi incrementando com a criação de novos molhos e acompanhamentos, fez um curso de economia criativa e formalizou o seu empreendimento.
Depois de criar logomarca, cardápio, consultoria, abriu o seu restaurante/bar, mas mesmo assim, faz questão de manter o carrinho de quando começou na frente para que todos saibam como ela chegou até ali. Além disso, Ceça envolve toda a comunidade através de eventos festivos, como São João e carnaval, e shows musicais com artistas do bairro. “Esse é um caso de sucesso da economia criativa. Através de uma situação real, emocional, a empresária foi motivada a pensar em uma alternativa em que ela pudesse se sustentar sem precisar sair de onde vive. Usou a gastronomia e a qualidade no serviço para se manter no mercado, gerando seu sustento e dando emprego, promovendo uma conexão com a comunidade que também é beneficiada com o seu empreendimento. Funciona há mais de 10 anos no mesmo lugar”, contou a palestrante.
Para concluir, Larissa mostrou alguns dos efeitos que podem ser gerados pela economia criativa quando usada como estratégia para o desenvolvimento das comunidades: fortalecimento da identidade local; ampliação de cumplicidades e protagonismos; fomento à criação artística no território; potencialização da inter-relação e do intercâmbio artístico; melhoria da imagem da comunidade e da convivência e civismo da população nas relações sociais e comunitárias; mudanças de comportamentos e hábitos; geração de trabalho e renda; revitalização urbana, entre outros.