O presidente da Associação Terra Indígena Xingu (ATIX), Yakari Kuikuro Mehinaku, disse, em entrevista, ao Só Notícias, que pelo menos 16 etnias com mais de 8 mil índios não são contrários a passagem da ferrovia da Integração Centro-Oeste, que 'cortará' cerca de 10 cidades no Araguaia, Médio Norte e Norte de Mato Grosso (Cocalinho, Nova Nazaré, Água Boa, Canarana, Gaúcha do Norte, Paranatinga, Nova Ubiratã, Sorriso até Lucas do Rio Verde). Porém, alertou que um encontro entre os líderes e empresários do setor ainda deve se marcado em fevereiro. Eles cobram a apresentação de soluções para não ocorrer a destruição dos sítios arqueológicos e dos impactos ambientais. Também querem uma definição de participação das comunidades nos royalties do empreendimento cujo traçado ferroviário passará em suas terras.
“No próximo mês, vamos marcar uma reunião no Xingu para falar sobre esses pontos, levar as informações aos índios sobre onde deve passar o traçado e de que forma isso vai impactar nas terras indígenas. São 16 povos que estarão recebendo essas informações. Assim que terminar esse processo terá um encontro que nós chamamos de ‘reunião de governança’, que será entre os índios e os empresários. Tem que ser um diálogo direto. As lideranças indígenas são favoráveis ao traçado, mas queremos saber quais impactos serão causados. Não estamos contrariando a vinda do empreendimento. Os empresários estão buscando facilitar a regirada da soja e do milho e estamos levando as informações para definir isso logo. Queremos que tenham cuidados com os sítios arqueológicos. Além disso, os impactados devem receber um fundo para aplicar na melhoria da saúde local, por exemplo”.
Em março, Lucas do Rio Verde sediará audiência pública para tratar do projeto e construção da ferrovia. No município, está previsto um terminal de cargas.
No último dia 17 deste mês, lideranças debateram a construção de ferrovia, em Cuiabá. O prefeito de Lucas, Luiz Binotti, falou em nome dos demais prefeitos presentes e apontou o projeto como um sonho que está saindo do papel depois de anos. “Existe um projeto e que bom que agora estamos retomando”. Por outro lado, a promotora de Justiça de Paranatinga, Solange Linhares, trouxe o contraponto para a maioria dos presentes, assegurando que a Fico é “um empreendimento que vai cortar Mato Grosso e vai impactar na vida do xinguano”, fazendo referência à proximidade da ferrovia ao Parque Indígena do Xingu, e destacou que haverá danos ambientais. Solange avaliou, ainda, que esse é um “empreendimento que interessa [apenas] à comunidade majoritariamente branca”, sem “nenhum benefício” aos indígenas, informa a assessoria.
Conforme Só Notícias já informou, o projeto final da ferrovia ainda não foi concluído e os processos burocráticos na esfera do governo federal e Ibama estão tramitando. Com 1.641 quilômetros de extensão, a ferrovia 'parte' de Goiás, passa por Mato Grosso e vai até Rondônia. É um projeto que pretende facilitar a ligação entre os oceanos Atlântico, no Brasil, e Pacífico, no Peru. O trecho licenciado propiciará alternativas para o escoamento de grãos e minérios, direcionando a produção para os sistemas portuários do Norte e do Nordeste.
(Atualizada às 11:02h)