Não restam dúvidas de que a convivência pacífica entre humanos e animais domesticáveis traz conforto emocional, estímulos e prazer mais para os primeiros do que para o segundo, dado o poder de posse dos tutores.
Aliás, essa posse pode ser entendida como o preconceito do especismo que é o sistema de crenças e práticas no qual os humanos acreditam que são superiores aos outros animais e que por isso gozam da legitimidade para dominá-los e explorá-los.
A ciência, ainda, não atestou o poder de cura quando do convívio entre animais saudáveis com humanos debilitados e vice-versa, em que pese haver discordância dessa afirmação visto que os gregos acreditavam em tal façanha.
Estudos científicos atestam que o emprego da cinoterapia apresenta, em humanos, redução da ansiedade, melhora na interação social e progresso na postura educativa. Esse convívio, segundo especialistas, pode desencadear diversos benefícios na vida de pacientes, contudo, a aplicabilidade da terapia limita-se como complemento aos tratamentos.
Há também os que divergem dessa tese pois defendem que os humanos repensem suas relações com os animais e volte a ser como na gênese. Animal com animal e humano com sua imagem e semelhança.
Essa linha de pensamento entende que os animais, especialmente, cães e gatos, são seres sencientes, pois são capazes de interagir com humanos, mas, por outro lado, outros animais (inclusive cães e gatos, conforme a cultura local) estão em nossos pratos, puxando nossas carroças ou trenós, são caçados para nós, lutam entre si até a morte para nossa diversão, são exibidos como panóplia.
Importante iniciativa terapêutica está sendo desenvolvida pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), onde os pacientes em tratamento oncológico contam com a terapia assistida por cães e que segundo os idealizadores do programa, o objetivo é tirar dos pacientes a sensação de desconforto que é estar dentro do ambiente hospitalar, sendo os cães o foco central desse propósito. Ou seja, o complemento do tratamento.
Certamente “eles” tem sua parcela de contribuição durante e após os tratamentos. No entanto, isso não nos dá o direito de humanizar os animais em especial os classificados como pets.
Pois se assim agirmos, além de preconceituosos, estaremos dando razão a pesquisadora americana Christine Korsgaard, que segundo ela, é fácil e legal ter dentro de casa como bichinho de estimação a cadelinha com o gatinho e desprezar o jumento, o aye-aye e o peixe-bolha.
Em relação a humanização dos pets, isso a muito tempo se transformou em assunto midiático (influencers) e mais ainda comercial, pois o Brasil possui o terceiro maior mercado do mundo, atrás da China e dos Estados Unidos, com o setor respondendo por 0,36% do Produto Interno Bruto brasileiro.
Em condições normais de temperatura e pressão o ato de humanizar o animal é uma atitude desnecessária e egoísta porque é mais uma necessidade do humano do que do animal e segundo porque leva a perda dos hábitos e instintos.
Há quem diga a humanização do animal de estimação cria desvios comportamentais como o gato ter medo do rato, a cachorra não gostar de carne porque só conhece petiscos e ansiedade de separação que é quando o pet não fica sozinho. Há tutores que não deixam seus pets sozinhos nem amarrados!
A humanização está tão em voga que outro dia ouvi da tutora de uma cadela, que ela, a cadela, estava menstruada. Aquela fala não soou bem a meus ouvidos pois sei desde os tempos de escola no ensino médio que a menstruação é um fenômeno fisiológico raro entre os animais, quase que exclusivo de macacos e alguns outros animais onde não inclui as cadelas.
Portanto, cadela não menstrua, entra no ciclo estral (cio). Cadela não fica grávida, fica prenha. Cadela não faz sexo, cadela monta. Cadela não tem bebês, tem filhotes. Cadela não fica laqueada, fica castrada. Cadela não tem menopausa, tem cio para sempre.
E mesmo sendo animais não significa que mereçam menos carinho, cuidado, respeito, compaixão, confiança, empatia, e amor de nossa parte. Pois o bem comum na filosofia grega é palpável pela comunidade, mas individualmente compartilhado por seus membros tutores.