Corinthians é a primeira força do Estado de São Paulo. Neste domingo, o antes contestado time dirigido por Fábio Carille contrariou de vez as análises de quem o via abaixo dos rivais Palmeiras, Santos e São Paulo em 2017. Empatou por 1 a 1 com a Ponte Preta, adversária que havia derrotado por 3 a 0 na semana passada, e sagrou-se campeão paulista em sua centésima partida em Itaquera. Os gols foram do atacante paraguaio Ángel Romero e do zagueiro Marllon.
A supremacia do Corinthians no torneio estadual também é histórica. Com mais uma conquista, o clube do Parque São Jorge passou a contabilizar 28, bem à frente de Palmeiras (22), Santos (22) e São Paulo (21). De quebra, arrecadou os R$ 5 milhões do prêmio oferecido pela Federação Paulista de Futebol (FPF) – a Ponte receberá R$ 1,650 milhão pelo vice-campeonato –, importantes em época de crise financeira.
O Corinthians só terá pouco tempo para comemorar. O campeão paulista será colocado à prova em outras duas competições ainda nesta semana. Irá a Santiago para enfrentar a Universidad de Chile na quarta-feira, pela Copa Sul-Americana – ganhou o jogo de ida por 2 a 0. E, no sábado, atuará contra a Chapecoense outra vez em Itaquera, onde ganhou o seu primeiro título, pela rodada inaugural do Campeonato Brasileiro.
Do outro lado, a Ponte Preta, que perderá alguns dos seus destaques ao término do Estadual, viu novamente adiado o seu sonho de enfim angariar o troféu de um torneio expressivo para a sua esvaziada galeria. A derrota para o Corinthians de 2017 se soma às quedas para o mesmo oponente nas finais estaduais de 1977 e 1979. No próximo domingo, o time de Campinas buscará a reabilitação emocional contra o Sport, no Moisés Lucarelli, pelo Brasileiro.
O jogo –Um enorme bandeirão que valorizava a “fé alvinegra”, campanha publicitária da fornecedora de material esportivo do Corinthians, foi aberto no setor leste do estádio quando os dois finalistas do Campeonato Paulista entraram em campo.
Já houve ocasiões, no entanto, em que a fé se mostrou mais necessária aos corintianos. Com a vitória por 3 a 0 obtida no jogo de ida, em Campinas, o time dirigido por Fábio Carille tinha tranquilidade para colocar em prática o seu futebol seguro na defesa e não muito vistoso no ataque.
Do outro lado, a Ponte Preta não podia perder tempo. O técnico Gilson Kleina cobrou movimentação dos seus três homens de frente – William Pottker, Clayson e Lucca –, na esperança de minimizar a desvantagem de sua equipe na decisão.
A princípio, a estratégia deu volume de jogo à Ponte, mas não chances de gol. A torcida visitante só se levantou mesmo para reclamar de pênalti de Paulo Roberto sobre Clayson após cobrança de falta, aos quatro minutos. O árbitro Leandro Brizzio Marinho já havia assinalado impedimento na jogada.
O Corinthians não se assustou com o ímpeto da Ponte. Enquanto o motivado Lucca repetia algumas conclusões precipitadas dos tempos em que defendia o clube do Parque São Jorge de um lado, Jadson buscava organizar o meio-campo corintiano do outro. Ele contava com a liberdade concedida a Maycon, já que Rodriguinho cumpria suspensão, na missão.
Aos 29 minutos, Jadson teve a ajuda não do seu parceiro de armação, mas da própria defesa da Ponte, para aproximar o Corinthians do gol. Aranha e Kadu saíram jogando mal, e o meia aproveitou para alçar a bola na área. Romero escorou de cabeça para Maycon, que chutou na trave. Na sobra, Jô carimbou a marcação.
O lance entusiasmou a torcida do Corinthians, que viu o time da casa passar a fazer triangulações com mais facilidade, e enervou um pouco mais a Ponte Preta. Aos 40, surgiu outra grande chance para abrir o placar. Jô avançou bem pela intermediária, abriu a bola para Fagner e correu para a área para receber o cruzamento. Finalizou torto.
Agora com pouco mais de 45 minutos para fazer ao menos três gols e não sofrer nem um, a Ponte Preta foi ao vestiário de Itaquera desanimada. Saiu de lá com Ravanelli na vaga de Jadson – para desespero dos cronistas esportivos de Campinas, que queriam a entrada de Renato Cajá.
Ravanelli se esforçou para provar que o técnico Gilson Kleina estava certo com alguns chutes de longa distância, porém sem direção. Aos 17 minutos, após Yuri substituir Lucca, foram para os ares também as esperanças da Ponte. Jadson fez belo passe da direita para Romero, que apareceu sem marcação no meio da área. O paraguaio bateu em cima de Aranha, pegou o rebote e concluiu de novo para anotar o seu 18º gol em Itaquera, um recorde.
“É campeão! É campeão! É campeão!”, começou a gritar a torcida da casa. Na iminência do vice-campeonato, Kleina gastou a sua última ficha com a entrada de Lins no lugar de Clayson, jogador que poderá disputar o Campeonato Brasileiro pelo Corinthians. Carille, por sua vez, havia trocado Camacho por Clayton.
Com as mudanças – principalmente a do placar –, o Corinthians se acomodou e permitiu que a Ponte Preta, sem nada a perder, levasse perigo ao gol defendido por Cássio. Como aos 35 minutos, quando Ravanelli ajustou a pontaria em outra tentativa de fora da área. Acertou a trave.
A torcida do Corinthians não deu importância à melhora da Ponte. Enquanto o seu time se preocupava em tirar proveito de contra-ataques, o público acendia sinalizadores em quase todos os setores do estádio para festejar. No telão, a mensagem para que os artefatos fossem apagados acabou alterada pela imagem do ídolo Wladimir, campeão paulista de 1977, ovacionado em Itaquera.
A Ponte Preta ainda amenizou – muito pouco – tamanha alegria nas arquibancadas. Aos 40 minutos, logo após Jadson ceder espaço ao novato Pedrinho, Ravanelli cobrou falta da direita, e Marllon teve liberdade para finalizar de primeira e igualar o marcador. Ele correu para recolocar a bola em jogo, mas com a consciência de que anotar outros três gols era bem improvável.
Sendo assim, os corintianos continuaram a comemorar. Foi assim até o apito final de Leandro Brizzio Marinho, que selou a primeira conquista de um título em Itaquera do Corinthians, a primeira força do Estado de São Paulo.