O empresário Giovani Guizardi, dono da Dínamo Construtora, prestou um novo depoimento à juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Arruda, esta tarde. Novamente o delator do suposto esquema de corrupção na Secretaria Estadual de Educação (Seduc) apontou o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Guilherme Maluf (PSDB), como membro ativo dos supostos desvios. A magistrada questionou em qual situação estaria o deputado. De pronto, o empresário disse que “o Guilherme Maluf era o braço político da Seduc. Ele decidia qual servidor entrava e saia para assumir cargos”.
Em meados de 2014, Guizardi revela que foi convidado pelo empresário Allan Malouf a participar financeiramente da campanha de Pedro Taques ao governo do Estado. Malouf é primo da sua esposa. Ainda disse ter conhecimento de que Allan Malouf investiu R$ 10 milhões na campanha de Taques e Guizardi doou outros R$ 300 mil.
Para recuperar o dinheiro investido, Guizardi disse que manteve conversas com Allan Malouf, que por sua vez intermediou uma reunião com o ex-secretário de Estado de Educação, Permínio Pinto, para tratar de obras públicas. Guizardi relatou que Permínio disse que não havia projetos prontos para execução de obras. Malouf já havia alertado que a maior parte do dinheiro em obras estaria na Secretaria de Estado de Educação, o que facilitaria o caminho para recuperar o dinheiro investido na campanha do governador.
Guizardi disse ainda ter conhecimento de que Permínio Pinto autorizou um pagamento adiantado a uma empresa, de propriedade do empresário Ricardo Sguarezi no qual ficou acertado que seria pago 5% de retorno para propina. Sguarezi é apontado como o operador do esquema de propina na Secretaria de Educação até dezembro de 2014. Neste período, a pasta foi administrada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) com o atual deputado federal Ságuas Moraes e a ex-secretária Rosa Neide.
Guizardi ainda afirmou que o esquema de propina favoreceu o deputado Guilherme Maluf, o ex-secretário Permínio, o ex-assessor especial Fábio Frigeri e os ex-superintendentes de Infraestrutura Escolar, Wander Luiz dos Reis e Moisés Dias da Silva. Havia ainda, pelo acordo, uma quantia reservada para pagamento de despesas de uma sala comercial em um prédio em Cuiabá.
Guizardi ainda narra que havia divisão de tarefas do núcleo de empresários composto para fraudar obras públicas na Secretaria de Educação. Ainda ressalta que havia uma ordem que deveria ser seguida pelos servidores Fábio Frigeri e Moisés Dias da Silva: todos os empresários deveriam tratar da liberação de pagamentos com Giovani Guizardi.
Guizardi diz que Alan Malouf investiu R$ 10 milhões na campanha de Taques e estava disposto a recuperar o dinheiro. “Ele investiu para colher facilidades. O empresário que doa dinheiro na campanha eleitoral trabalha em paz. Por isso, eu doei para a campanha do governador”.
Guizardi afirmou que pagou despesas de uma campanha eleitoral. Foram cinco pagamentos destinados a uma gráfica. No entanto, não cita nominalmente qual seria o político favorecido porque não tem conhecimento. “Tinha uma pressão do dono da gráfica que ameaçou ir a público reclamar da falta de pagamento”.
O empresário disse que mantinha contatos frequentes com Wander Luiz dos Reis e Fábio Frigeri. Utilizavam codinomes como cores, cidades e países. Os números de telefone e aparelhos celulares eram trocados quinzenalmente.
Guizardi disse que os servidores Fábio Frigeri e Wander Luiz dos Reis compareciam a sede da empresa Dínamo Construtora para discutir valores de propina e quais empresários haviam honrado o pagamento. Do total desviado da Secretaria de Educação, Guizardi diz ter obtido a quantia de R$ 1,2 milhão.
O empresário Giovani Guizardi disse que, em determinado dia, se encontrou com o secretário Permínio Pinto numa churrascaria em Cuiabá. Naquela ocasião, Permínio Pinto lhe entregou um papel contendo informações de uma conta bancária com número de agência e conta corrente e solicitou que fosse feito o pagamento de R$ 10 mil. Um funcionário de sua confiança chamado Edésio fez quatro depósitos em um caixa rápido de R$ 2,5 mil e acusa o deputado Nilson Leitão de ser o suposto beneficiário.
Giovani Guizardi disse o projeto Escola Legal foi de sua autoria e tinha a meta de desviar dinheiro público para favorecer o empresário Allan Malouf. A quantia sairia dos cofres públicos para pagar R$ 14 milhões a Malouf. “Esse valor cobriria os R$ 10 milhões e mais os juros para cobrir o que o Allan investiu na campanha do governador”.
O empresário Giovani Guizardi afirmou que pagou R$ 150 mil para o empresário Allan Malouf como recompensa por ter intercedido junto a Secretaria de Estado de Infraestrutura e conseguido a liberação de recursos para a empresa de sua família. Trata-se de uma obra que prevê a duplicação da estrada que liga Cuiabá a Leverger.
A defesa de Permínio Pinto, representada pelo advogado Artur Barros de Freitas Osti, perguntou se Giovani Guizardi sabe qual seria a função de Alan Malouf na campanha do governador Pedro Taques. “Sei que era algo ligado a financeiro. Mas não sei qual seria a função”.
O advogado questionou qual a relação do governador Pedro Taques com Allan Malouf . “Sei que são amigos. O governador Pedro Taques frequenta a casa do Allan Malouf”.
O advogado perguntou qual seria o interesse do empresário Alan Malouf em investir R$ 10 milhões na campanha do governador já que aparentemente o Buffet Leila Malouf não mantém contratos com o Estado. “Isso depende. Quantas pessoas comem diariamente hoje no governo do Estado. Qual a quantidade de alimentação fornecida em presídios. Tem que perguntar isso aí”.
O advogado Artur Barros questionou a fala de Giovani Guizardi em afirmar que a cobrança de pagamento de propina para liberação de pagamento as empreiteiras já vigorava na gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) quando a Secretaria de Estado de Educação estava sendo chefiada pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
A defesa de Permínio Pinto questionou como funcionava o esquema de corrupção na gestão anterior. “Posso dizer que funcionava da mesma maneira. O próprio Ricardo Sguarezi admitiu em uma conversa que operava o esquema de propina na Secretaria de Educação na gestão anterior. Funcionava da mesma maneira. Digo isso com toda a certeza".
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(Atualizada às 17h10)