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Cuiabá: empresário confirma fraudes e diz que Silval precisava “levantar dinheiro”

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O empresário Willians Paulo Mischur, dono da empresa Consignum, está prestando depoimento, esta tarde, na 7ª Vara Criminal de Cuiabá. “No Estado antigamente tinha muitas fraudes nos consignados”, afirma o empresário ao explicar para a promotora Ana Cristina Bardusco que sua empresa gerencia a margem de empréstimos que os servidores públicos têm direito. Sua empresa não permite que eles consigam empréstimos acima de 50%. Eles operam com base no CPF de cada servidor e impede os empréstimos fora da folha de pagamento o que resultava em um alto índice de inadimplência. Com o controle realizado pela empresa cada servidor não pode contrair empréstimos que ultrapassem 30% de seus salários.

Mischur esclarece que sua empresa não é remunerada pelo erário público, mas sim pelos bancos que fazem empréstimos ao servidores intermediados pela empresa. Ele revela que mantém contratos em outros Estados e em prefeituras de grandes cidades brasileiras.

O empresário disse que, em meados de 2011, o então governador Silval Barbosa precisava levantar dinheiro para custear campanha e começou a pressionar ele para pagar propina ou o contrato seria rescindido. Ele revela que a exigência partiu do ex-secretário de Estado de Administração, César Zílio, para que Mischur começasse a fazer pagamentos mensais de R$ 700 mil. "Eu disse que R$ 700 mil era muito e começamos a brigar e foi baixado para R$ 500 mil".

Sobre a “briga” que Mischur disse que travou com César Zílio foi no sentido de tentar reduzir o valor da propina porque caso contrário sua empresa não conseguiria se manter na ativa, não conseguiria efetuar os pagamentos. “Praticamente trabalhei de graça aqui. A sorte que eu tinha outros contratos”, revela o empresário. Explicou na sequência que só permanecia no negócio porque não aceitava perder para outras concorrentes de outras localidades dentro do próprio Estado.

“A pressão foi tão grande no começo, queria cheques em valores pequenos. Depois, começamos a passar em dinheiro porque muitos cheques estavam voltando”, revela. Ele conta ainda que o dinheiro era entregue em sua empresa e às vezes na SAD. “A maioria das vezes era na empresa mesmo que ele buscava. Na secretaria, eu entregava a propina no próprio gabinete dele”.

“Eles te extorquiam de um lado e caminhavam como a licitação de outro lado. Eles mesmo não se entendiam”, revela Mischur ao comentar sobre a pressão constante que sofria do grupo. Revela que eram constantes as ameaças de substituição de sua empresa por outra que realizasse os mesmos serviços, ou seja, gerenciamento da margem de empréstimos consignados dos servidores públicos.

"Ele (Silval) falou você tem um amigo aqui, por isso até me estranha ele falar agora que não me conhece", revela Mischur ao explicar sobre um encontro que teve com Silval Barbosa onde o então chefe do Executivo Estadual o recebeu e disse que os pagamentos de propina deveriam ser repassados ao secretário adjunto da SAD, Pedro Elias, pois César Zílio não estava mais sendo leal ao governador. Mischur revela que então pagou R$ 600 mil em propina a Pedro Elias.

Mischur revela que seu contrato passou a pertencer ao ex-deputado José Riva como pagamento de dívidas que Silval tinha com ele. Então, foi articulada uma reunião entre Mischur, José Riva e o empresário Tiago Vieira de Souza Dorileo. Riva foi denunciado pelo MPE e virou réu na ação penal sob acusação de ter praticado o crime de concussão contra os empresários Willians Mischur e Fábio Drumond Formiga, além de tentativa de fraude à licitação para favorecer a empresa Zetra Soft, de Drumond. De acordo com o MPE, Riva quando se envolveu no esquema para tentar atrapalhar os pagamentos de propina que Mischur fazia ao grupo de Silval, ainda era presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso.

O Ministério Publico afirma que Riva se juntou ao empresário Tiago Vieira de Souza para tentar tirar a empresa Consignum da “jogada” para que no lugar dela entrasse a empresa Zetra Soft para prestar serviços ao Estado gerenciando a margem de empréstimo consignado que os servidores públicos têm direito. Nesse caso, a Zetra venceria a licitação desde que pagasse mensalmente propina de R$ 1 milhão a Riva e Tiago que também denunciado pelo MPE.

“Comecei a blindar todos os meus carros”, diz Willians Mischur ao relatar que em um determinado momento foi ameaçado pelo coronel da Polícia Militar, José de Jesus Nunes Cordeiro, que à época era secretário adjunto na SAD e, segundo o Ministério Público, também participou do esquema, exigindo propina do empresário e fazendo ameaças. “Tenho medo do Cordeiro, tenho medo do Sílvio, do governador, tenho medo de todo mundo”, revela o delator. Sílvio Cézar Corrêa Araújo é ex-chefe de gabinete de Silval Barbosa. Ele é réu no processo e apontado por delatores como o "braço-direito" de Silval que agia com "carta branca" dentro da quadrilha fiscalizando o pagamento da propina e até "ameaçando" delatores.

O empresário esclarece que José Jesus Cordeiro o procurou e exigia mensalmente a quantia de R$ 30 mil como propina. "Ele foi na minha casa e disse que não estava sendo valorizado. Reclamou que ele fazia todo processo para o governador. Eu respondi que não tinha como pagar". A partir de então, segundo Willians Mischur, o coronel o alertou para tomar cuidado porque um caminhão poderia atropelar o filho dele. "Eu passei a ter medo e temia que algo pudesse acontecer. Mandei blindar meus dois carros".

O empresário-delator foi questionado sobre o fato de sua assinatura constar no contrato de compra de um terreno de R$ 13 milhões adquirido por César Zílio utilizando dinheiro de propina nos pagamentos. “Um dia ele chegou com o contrato e falou assina isso aqui porque vai dar merda. Ele tacou o terror e eu assinei. Foram 2 contratos. Assinei o 1º e passou um tempo ele veio com outro contrato pra eu assinar onde seria eu e o Antelmo (pai de Zílio que já faleceu). Assinei o contrato sem ler. Assinei porque era um terreno. Ele sabia que eu tinha lastro, tinha muito dinheiro, tinha uma movimentação financeira muito boa.

Ana Bardusco o questionou se ele, de fato, queria assinar o contrato da compra do terreno. “Pra ser sincero, claro que não, mas é uma pressão muito grande, depois que você está numa dessa é uma pressão muito grande”, justifica Mischur.

O empresário Willians Paulo Mischur foi questionado sobre quem o ameaçou. Ele não cita nomes, mas cita o passado do ex-governador. “Tenho medo de todo mundo que não anda dento das regras”, argumenta Mischur, ao relatar que o ex-governador Silval Barbosa era um garimpeiro e “sabe como são as coisas num garimpo”. Mischur revela que também já atuou em garimpos e conhece as “regras”. Ele faz as ressalvas ao responder questionamentos do advogado Victor Azevedo, advogado de Silvio Corrêa, sobre os motivos de dizer que tem medo de todos os integrantes da organização criminosa.

(Atualizada às 16h13)

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