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Ex-secretário depõe, confessa corrupção no governo Silval e detalha os esquemas

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O ex-secretário da Casa Civil Pedro Nadaf (PR), confessou, há pouco, em novo depoimento para a juíza Selma Rosane Santos Arruda, casos de pagamento de propinas durante o governo de Silval Barbosa (PMDB), que também está preso, desde outubro do ano passado. "De agora em diante vou assumir tudo o que fiz, vou assumir a culpa em todos os processos que eu for culpado. Se a senhora quiser eu posso até jurar aqui. Sei que fiz muito erro. Fiz parte de uma organização criminosa que dilapidou, que roubos os cofres públicos de Mato Grosso", declarou, além de pedir desculpas por não ter dito a verdade anteriormente. Nadaf afirma que foi procurado pelo então governador Silval Barbosa que propôs o esquema para levantar recursos para financiar sua campanha de 2010 quando foi reeleito. "Levantamos R$ 12 milhões, parte foi para caixa 2 e outra parte foi para a doação oficial da campanha", afirma o ex-secretário.

Nadaf afirmou que a cobrança de propina começou às vésperas da campanha de reeleição de 2010, que Silval teria uma dívida de R$ 2 milhões e vinha recebendo ameças. Dessa forma, solicitou esse valor ao empresário João Batista Rosa propina para que continuasse sendo beneficiado com incentivos fiscais para seu grupo empresarial. "Começou e virou uma prática até virar uma organização criminosa", enfatiza.

Nadaf confessou que recebeu R$ 1,5 milhão de propina dentro do esquema, que recebeu outros R$ 500 mil do delator João Rosa (que obteve incentivos fiscais para suas empresas, pagou propina e denunciou os esquemas). "Todos levantados em cima de planilhas do processo. Todos os cheques que estão ali eu levantei, exceto 2 cheques que são de uma ex-funcionária", esclarece. "Essa prática ocorreu durante os 4 anos de governo, essa lambança toda. Até hoje tenho dinheiro a receber de Silval, quer dizer, tudo bem que era dinheiro de propina", revela ele ao detalhar como que ele vinha pagando pequenos valores para outros envolvidos no esquema entre 2011 e 2014. Ele conta que Silval pedia que ele fosse efetuando os pagamentos. E garante que não lesou o grupo e não ficou com nenhum dinheiro que não lhe fosse destinado dentro da organização criminosa.

Nadaf diz que João Batista Rosa deveria receber o enquadramento apenas no Prodeic, mas houve a inclusão da vistoria para aparentar legalidade. O empresário, segundo ele, recebeu R$ 4 milhões em incentivos fiscais e devolveu R$ 500 mil a título de propina para pagar dívida de Silval.

Conforme Nadaf, Silval foi, inclusive, ameaçado de morte por dívidas de campanha dentro do Palácio Paiaguás. Ele não deu mais detalhes.  A juíza Selma Rosena questionou quem seria o credor da dívida mas Nadaf não falou. “Excelência isso é motivo de outra investigação”, argumentou. Selma Rosane argumenta que se Silval cobrou propina para pagar dívdia pode-se concluir que ele não se enriqueceu ilicitamente. “Acredito que sim, que sobrou”, avalia Nadaf.

Sem citar nomes, Pedro Nadaf informa que o dinheiro da propina paga por empresários também foi usado para pagar contas de outras pessoas, indo além do custeio da campanha de Silval Barbosa, em 2010. "De outros também", respondeu ele ao questionamento do advogado Valber de Melo (defensor de Silval). Nadaf confirma que houve pagamento de propina no período anterior à gestão de Silval. Valber questionou Nadaf se houve situações em que Silval não tinha conhecimento de determinadas ações praticadas por outros integrantes da organização e que só viria a saber depois. Ele no entanto, se esquivou. "Eu não posso responder porque cada caso é um caso", argumenta. Na mesma linha, optou pelo silêncio quando questionado se o nome do ex-governador pode ter sido usado indevidamente por outras pessoas, sem sua autorização. "No momento vou me manter em silêncio", ressalta. 

Sobe a entrega de R$ 500 mil para o ex-procurador Chico Lima, que também foi preso na Operação Sodomoa. O dinheiro, segundo Pedro Nadaf, era propina paga por João Rosa. Nadaf e Chico ficaram responsáveis por quitar uma dívida de Silval. O acerto foi feito direto com o então governador Ele garante que a dívida foi paga.

JBS e lei da blindagem
Pedro Nadaf revelou, no depoimento, que em 2015 o ex-governador Silval o procurou e alertou que eles estavam sendo grampeados devido a uma ação envolvendo a empresa JBS/Friboi, relativa a incentivos fiscais concedidos irregularmente. "Todo mundo começou a ficar apreensivo. O Silval falou que iríamos ser presos, essa pessoa que o alertou falou dessa possibilidade". Nadaf então procurou o delegado Anderson, da Polícia Civil, para fazer uma varredura na sua sala para ver se tinham escutas (telefônicas)".

Ele afirmou que Silval se valia de várias pessoas que estavam dentro e fora do governo, mas que também faziam parte da organização. "Não vou aqui citá-las porque não fazem parte desse processo". "Ele (Silval) tinha uma liderança na organização. O Silvio Corrêa (ex-chefe de Gabinete) era o homem de confiança dele e sentava com secretário de Administração e adjuntos para ele dar autorização para fazer os processos licitatórios naquilo que lhes interessava, naquilo que dava retorno. Ele tinha esse poder" e que "percebia e via essa ascendência dele sobre os secretários adjuntos. Ele retinha esses pagamentos pra se beneficiar dos pagamentos da propina da organização a qual eu também fazia parte".

O ex-secretário também afirmou que o ex-secretário de Fazenda na gestão de Silval,  "Marcel de Cursi também fazia parte da organização. É público e notório seu conhecimento. Ele me aconselhava e dava sugestões de como agir e como fazer dentro da quadrilha. Ele que orientava o governador sobre tudo que fosse criado ilicitamente para beneficiar a organização criminosa. Tão amplo era o conhecimento dele que em 2010 produziu o projeto de lei 10.207 para dar “total blindagem” ao governo para impedir investigações, consolidando atos e incentivos concedidos irregularmente bem como obras, obras da Copa para que “ninguém pudesse investigar o governo Silval”. Ele confessa que o atual governador tentou anular a lei e acredita que hoje ela esteja suspensa. “Nós ainda tentamos articular para impedir isso”, revela.

Ainda de acordo com Nadaf, o ex-procurador Chico Lima era chamado para favorecer a organização em situações pontuais, quando havia dificuldades de receber um parecer favorável na Procuradoria Geral do Estado (PGE). "Ele dava ares de legalidade para beneficiar a organização criminosa", garante. "Ele também agia em interesses próprios. O Silval um dia me alertou pra ficar esperto com o Chico e disse pra acompanhar todos os atos. Ele falou: fica atento porque se bobear o Chico vende todo o Estado", afirmou Nadaf.

Sobre Karla Cecília, também processada na Operação Sodoma, Nadaf explica que ela lavava dinheiro para a organização criminosa a pedido dele. "Ela tinha ciência que era ilícito", reafirma Nadaf. 

Cota do PR
O ex-secretário também explicou, no depoimento para a juíza criminal, que foi para a Secretaria da Casa Civil por indicação do Partido da República. Havia algumas pessoas que eram colocadas estrategicamente em cargos políticos por escolha do governador. "Os indicados do PR, eram de indicação do governador. Eu era cota do PR", revela Pedro Nadaf.

Transferência de cela
Nadaf também disse que pediu "minha transferência do CCC porque eu estava na mesma ala do Silvio. Saiu uma materia na imprensa dizendo que eu estaria fazendo delação e naquele momento tinham acontecido a delação do César Zílio. O Silvio toda hora ia na minha cela sentava numa cadeira perto da minha cama e perguntava vagamente se eu estava fazendo delação. Você está ali num ambiente fechado de poucos metros. Ele sentava e apontava o dedo dizendo: esses daí não vão durar muito", detalha Nadaf.  

Na parte final do interrogatório, Nadaf também foi questionado se, depois de deixar o governo, teve alguma influência no atual governo. "Continuei com outras pessoas resolvendo algumas coisas. A gente ficou tentando dar solução para aquilo que a gente mesmo criou, mas não quero entrar em detalhes", afirmou. A gestão Silval acabou em 31 de dezembro de 2014 e Nadaf disse que seus últimos atos como participante da quadrilha foram pagamento de dívidas ele efetuou em junho, três meses antes de ir para a cadeia.

Com as revelações feitas hoje, Nadaf espera obter liberdade

(Atualizada às 08:40h em 16/8)

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