A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Copa do Mundo encerra, esta tarde, a fase de oitivas de testemunhas com os depoimentos do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e do empresário português Marco Aurélio Sousa Martins. Conforme o presidente da CPI, deputado Oscar Bezerra (PSB), a entrega do relatório final deve ocorrer em meados de junho. Ambos serão ouvidos, a partir das 14h, na Assembleia Legislativa.
Silval, a exemplo do ex-deputado estadual José Riva, que foi ouvido nesta terça-feira (10), será questionado a respeito das obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), de mobilidade urbana e da Arena Pantanal. Já o empresário português falará sobre o estudo básico do modal de transporte que sua empresa doou ao governo do Estado no início das discussões sobre o tema. As suspeitas da CPI são de que a Ferconsult tinha interesse em implantar o VLT em Cuiabá, mas acabou excluída do processo.
“Essa pessoa (Marco Aurélio) foi o preterido da história. A gente espera que ele venha e conte os bastidores do processo, porque, se tiverem combinado alguma coisa com essa empresa e depois puxaram o tapete, o cara vai estar bravo, automaticamente, pode contribuir e dizer alguma coisa que a CPI ainda não descobriu”, prevê Oscar.
Em oitiva realizada, ontem, o ex-presidente da Assembleia Legislativa, José Riva, reconheceu ter feito “pressão política” pela escolha do VLT, bem como que a visita feita por ele, Silval, o ex-secretário Eder Moraes e o hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Sérgio Ricardo, à Europa para conhecer o modal não contou com a presença de nenhum profissional especializado no assunto. “O intuito era apenas conhecer o VLT. Eu, particularmente, nunca tinha andado num VLT antes”.
Riva afirmou ainda que o estudo apresentado pela empresa TTrans na audiência pública em que se debateu a troca do modal, em meados de 2012, não teria sido usado para embasar a opção do governo à época pelo VLT. “Esse estudo não foi usado para nada. Não precisei desse estudo para defender o VLT”, pontuou, afirmando ter visitado a sede da TTrans para se informar sobre o assunto antes da vinda do representante da empresa a Cuiabá. “Foram quase quatro horas de reunião falando de VLT”.
O documento, segundo seu próprio autor, o empresário Massimo Bianchi, que também já prestou depoimento à CPI, foi elaborado em um único final de semana. Nele, haveria a especificação de que apenas os vagões e o sistema de operação do VLT custariam cerca de R$ 700 milhões, valor que, na época da audiência, foi propagado como sendo o custo total do empreendimento.
O ex-deputado garantiu, todavia, que o valor não foi usado como argumento para o convencimento de que o VLT seria uma melhor opção que o Bus Rapid Transit (BRT). “Não se pode discutir uma obra avaliando apenas o custo dela”, disse, afirmando que o projeto do BRT também não consideraria todo o custo do modal. Segundo Riva, nele não constaria o preço dos ônibus.
O ex-deputado ainda contradisse informações passadas à CPI pelo empresário. Afirmou, por exemplo, que Bianchi fez duas ou três exposições sobre o VLT aos deputados antes da audiência pública. Em depoimento, ele havia afirmado que a única reunião que teve foi com o então governador Silval Barbosa e mais cinco assessores.
O ex-governador, inclusive, foi apontado por Riva como um dos responsáveis, em sua avaliação, pela não conclusão da obra. “A questão foi de gestão”, disse o ex-deputado, pontuando considerar o Poder Executivo como um todo culpado pelo atraso, devido à escolha do Regime Diferenciado de Contratação (RDC) para licitar a obra.