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Extremos climáticos e o planejamento urbano

Caiubi Kuhn, Professor na Faculdade de Engenharia (UFMT), geólogo, especialista em Gestão Pública (UFMT), mestre em Geociências, Presidente da Federação Brasileira de Geólogos (FEBRAGEO). 
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No mês de setembro de 2023, o calor intenso assolou boa parte do Brasil. Cidades já tradicionalmente quentes como Cuiabá alcançaram temperaturas ainda mais elevadas. Enquanto isso, em outras regiões do país, ocorreram fenômenos climáticos, como ciclones extratropicais, que deixaram um rastro de destruição. Tal cenário demonstra a necessidade de se discutir medidas preventivas aos desastres naturais, em especial as que envolvem um planejamento urbano de longo prazo.

Os relatórios de diversas agências globais, referendados por fóruns da Organização das Nações Unidas (ONU), indicam que o século XXI será marcado pela tendência crescente de extremos climáticos. Considerando esse ponto, com o crescimento da população e a ocupação de novas áreas, o desafio de uma gestão territorial que garanta qualidade de vida e segurança para a população se torna algo central em muitas cidades. Mas como isso poderia ser feito?

Os municípios brasileiros possuem importantes instrumentos de ordenamento territorial, como os planos diretores. Esses instrumentos podem ser utilizados para criar restrições ou adequações técnicas pensando as cidades em condições de extremos climáticos. Por exemplo, em cidades como Cuiabá, onde as temperaturas são elevadas, medidas como a criação de políticas de arborização de longo prazo, a restrição à canalização de córregos e a criação de ilhas verdes, podem favorecer espaços onde o ambiente criado possibilite um microclima mais ameno. Por outro lado, se a política urbana seguir o caminho da canalização de córregos e da substituição das árvores pelo concreto, a sensação térmica proporcionada nos microclimas será de verdadeiras ilhas de calor.

Os extremos, porém, podem também ser de chuvas. Nestes casos, o planejamento urbano é importante para evitar o alagamento. Claro que, dependendo da magnitude do evento, é muito difícil tomar medidas que consigam evitar danos. Entretanto, se não ocorrer o planejamento correto e a devida orientação da população, os extremos de pluviosidade podem ter seus impactos maximizados. Em muitas cidades, existem regiões que mesmo em dias normais de chuvas ocorrem alagamentos. Já pensou o que pode acontecer em um dia de extremos climáticos?

O caminho para enfrentar esse desafio passa por algumas medidas. A primeira delas, em cidades como Cuiabá, é a criação de uma política robusta de arborização e de espaços verdes, pensando na cidade daqui a 30 ou 40 anos, quando essas árvores poderão formar verdadeiros escudos contra os extremos de calor. Talvez, se a cidade tivesse mantido a sua linha histórica de cidade verde, a população não sofreria os mesmos impactos nos momentos de extremos climáticos atuais. Porém, infelizmente, a copa das árvores foi substituída pelo concreto ou pela beleza das palmeiras. O espaço à sombra ficou cada vez menor, e o calor cada vez maior.

A falta de planejamento adequado também virá à tona na capital mato-grossense, quando os alagamentos surgirem em mais uma estação chuvosa. Aí o problema das ilhas de calor é substituído pela falta de drenagem adequada e de infiltração da água no solo. Porém, Cuiabá ainda pode mudar seu rumo. Basta a prefeitura e a câmara municipal se empenharem na construção de um novo plano diretor que olhe além da especulação imobiliária, mas também para as pessoas e para a qualidade de vida da população. É preciso debater e construir a cidade do futuro ainda hoje. Não se colhe o fruto, ou não se tem a sombra, da árvore que nunca foi plantada.

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