O ex-secretário de Estado da Casa Civil, Pedro Nadaf, confirmou os detalhes do esquema na venda de um terreno, no bairro Jardim Liberdade, por R$ 31,7 milhões. A negociação ocorreu em 2014 durante a gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e teria sido usado para desvio de recursos públicos do Estado.
O depoimento prestado ao Ministério Público Federal (MPF) faz parte do acordo de colaboração premiada firmado entre Nadaf e a Procuradoria-Geral da República, homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, em março. No acordo, Nadaf se comprometeu a devolver R$ 17,5 milhões aos cofres públicos. A oitiva do ex-secretário foi feita pela procuradora da República Vanessa Scarmagnani, que atua no Estado. Os fatos envolvendo o esquema também são investigados na 4ª fase da Operação Sodoma, em que Nadaf é réu confesso.
Segundo Nadaf, em 2014 o então governador Silval Barbosa (PMDB) – também réu confesso – o chamou para pensar em uma maneira de arrecadar dinheiro e pagar uma dívida com o empresário Valdir Piran, do ramo de factoring.
Dias depois, Silval disse que o procurador do Estado Chico Lima havia encontrado uma solução para o pagamento da dívida: um processo de desapropriação em um terreno no Bairro Jardium Liberdade, em Cuiabá, com sentença favorável ao proprietário e que o Estado deveria pagar.
A solução englobaria exigir que 50% do montante pago ao dono do terreno retornasse à organização criminosa. No esquema, Nadaf disse que ficou responsável por preparar o orçamento e Chico Lima por formular os pareceres favoráveis à desapropriação.
O ex-secretário afirmou que posteriormente se reuniu com o então secretário de Fazenda, Marcel de Cursi, para confirmar a participação deste no esquema. “Marcel de Cursi ficou de estudar como a Sefaz pagaria o valor de R$ 31,7 milhões, de onde sairia o recurso, e também como seria efetuada a forma de pagamento desse dinheiro pelo Governo”.
Por sua vez, conforme Nadaf, Cursi entendeu que a melhor forma era pagar o montante em sete parcelas. Nadaf então repassou a informação ao então secretário de Planejamento, Arnaldo Alves. “Nessa conversa que tive com Arnaldo, informou que ele também receberia propina para tal”.
Segundo Nadaf, Chico Lima foi o responsável por fazer o contato entre o Governo, o proprietário da área – o delator Antônio Rodrigues de Carvalho – e seu advogado, Levi Machado.
Chico Lima também teria dito que tinha um amigo dono de factoring que iria operacionalizar os R$ 15,8 milhões que retornariam ao grupo. Esse amigo seria o empresário Filinto Muller, também delator do esquema.
De acordo com o ex-secretário, Chico Lima também assegurou que Filinto ficaria com a tarefa de repassar os R$ 10 milhões destinados a Silval para pagar parte da dívida com Valdir Piran, que seria de R$ 40 milhões. “Os demais R$ 600 mil seriam destinados a empresa que iria lavar o dinheiro e os R$ 4,4 milhões restantes seria distribuídos entre eu, Chico Lima, Marcel de Cursi, Arnaldo Alves e Afonso Dalberto [ex-presidente do Intermat e delator]”.
Nadaf disse que, além de sua parte, recebeu a propina de Marcel de Cursi. O titular da Sefaz, todavia, pediu para ser pago em ouro, sendo que Nadaf então encomendou R$ 1 milhão em barras de ouro do ex-presidente da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), João Justino – também delator.
Na prática, Nadaf disse que acabou ficando com R$ 500 mil, pois teve que pagar R$ 200 mil ao jornalista Antônio Millas – que teria extorquido o grupo.
Parte da propina obtida, conforme o ex-secretário, também foi usada para pagar uma dívida de Silval com o empresário Alan Malouf, relativa à festa de posse do ex-governador.
Nadaf também afirmou que ele e Arnaldo Alves investiram suas respectivas partes da propina nas empresas de Alan Malouf, como forma de ocultar o dinheiro. “Eu ainda tinha a promessa de receber R$ 100 mil de Alan Malouf por ter ajudado a receber propina de empresários para influir em atos praticados no governo atual”.