É triste que em 2017 ainda tenhamos que discutir o racismo, pois ele manifesta-se de forma cotidiana e impede o desenvolvimento de uma sociedade plural e democrática, creio que haverá um dia onde todos nós, negros e misturados, que formamos a maioria da população brasileira poderemos ser verdadeiramente aceitos por todos, infelizmente, ainda hoje as desigualdades são gritantes e o racismo é exercido na mais diferentes ações.
Durante três séculos, entre 1550 e 1888, o Brasil foi um país escravocrata, por aqui chegaram milhões de negros africanos, capturados em suas cidades e trazidos à força para trabalhar na agricultura, foram realidades tristes que os nossos antepassados tiveram que enfrentar, pois eram transportados nos porões dos navios negreiros passando fome e acorrentados, passavam por grandes sofrimentos físicos, e aqueles que chegavam vivos, eram comercializados como objetos e os sofrimentos não paravam por aí, pois passam o resto das suas vidas em condições sub-humanas, vivendo pior do que animais.
E, até hoje não é possível determinar o número exato de africanos que desembarcaram nos portos brasileiros para viver aturando todo tipo de tortura, que eram aplicadas aos escravos de forma desumana. Quase não eram alimentados, vestiam trapos e eram proibidos de qualquer manifestação da sua cultura, oprimidos e reprimidos pelos seus feitores, onde ecoavam gritos pelas chicotadas nas costas dos nossos irmãos negros, às vezes chegando a desmaiar tanta dor, e muitas vezes chegavam a morte.
Infelizmente o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, de forma muito triste e lastimável, pois a liberdade tinha a sua legitimidade, somente para aqueles que já estivessem acima de 60 anos, o que representa na verdade, o abandono daqueles que já não podiam produzir nem mesmo para si.
Vários Quilombos se espalharam pelo país, e aqui em Cuiabá, existia o mais famoso, onde os negros que fugiam, eram amparados pela benzedeira “Mãe Bonifácia”, que historicamente transformou na figura homenageada pelo Governador Dante de Oliveira, que além de colocar uma estátua, também colocou o nome da grande reserva que constitui em uma área de lazer mais visitada do estado, é o nosso Parque Mãe Bonifácia.
O mais famoso no Brasil, era o Quilombo dos Palmares, com cerca de 30 mil habitantes, que resistiu a vários ataques de portugueses e holandeses que tentaram destruí-lo. Foram inúmeras tentativas em 80 anos de conflito, mas Palmares resistia bravamente e chegou a derrotar cerca de 30 expedições enviadas. No dia 20 de novembro de 1694, Zumbi foi morto e degolado.
Por isso, no dia 20 de novembro, todos nós temos que celebrar o grande Zumbi dos Palmares, e hoje mais do que nunca temos que continuar essa luta, para nos fortificarmos nas lembranças tristes do passado e devemos lembrar que todas as formas de escravidões precisam ser derrotadas, seja ela em forma de palavras, denúncias ou ações de enfrentamentos.
É revoltante que ainda hoje convivamos com muitas formas de preconceito racial, seja por discriminação “disfarçada”, pois nessas ações vem em forma das diferentes opressões, e desses preconceitos “duros” para aqueles que recebem, e que repercutem muitos fortemente, no impedimento no crescimento sociais e econômicos na vida dos nossos irmãos negros contemporâneos, e que refletem em salários menores e que repercutem nas faltas de acesso à Escola e nas Universidades, e com isso os nossos irmãos negros ainda configuram nas estatísticas dos fatores econômicos e scciais, que representam os números ínfimos no exercício do trabalho digno.
Vamos aproveitar esse dia, e usar da liberdade que vivemos, para nos manifestarmos em nome daqueles que ainda não tem o poder de abrir a boca e gritar com toda força dos pulmões e da alma, por isso, temos que exigir das autoridades que respeitem a todos os nossos irmãos negros, e que deste dia tenhamos a consciência, de que a força e o suor dos nossos negros, e com muito sofrimento ajudaram a construir este país.
Dia 20 de novembro é dia de todos nós negros, é o dia do crescimento da Consciência Negra, e que todas as comunidades tenham o dever de reforçar a luta contra todas as formas de exclusão e de subordinação.
Viva a todos os negros, a luta continua, e temos que ter a consciência de que todo tipo de racismos deve ser denunciados e acima de tudo enfrentados.
Wilson Carlos Fuáh é economista e Especialista em Administração Financeira e Relações Sociais e Políticas em Mato Grosso
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