A queda dos cabelos é um dos maiores medos dos pacientes com câncer, pois prejudica a auto-estima e estigmatiza o paciente. Infelizmente ainda há muito preconceito com pessoas em tratamento de câncer. Primeiramente, é preciso enfatizar que nem todos os tratamentos contra o câncer provocam esse efeito. Mas uma grande parcela deles, infelizmente, está sim associada à queda dos fios. Para esses casos, existe alguma alternativa?
Sim. A opção é a utilização de um equipamento em forma de touca que resfria o couro cabeludo durante o tratamento. Essa técnica, denominada crioterapia, impede a queda maciça dos fios em 40 a 80% dos pacientes (dependendo do tipo de quimioterapia utilizada), o que torna o processo terapêutico um pouco menos doloroso, principalmente para as mulheres.
Mas como funciona? A paciente coloca uma touca resfriada a -4°C um pouco antes de iniciar a quimioterapia e retira somente um tempo após o tratamento. Esse processo é repetido todas as vezes que a paciente for submetida às medicações. Dessa forma o couro cabeludo fica resfriado, o que protege o folículo capilar reduzindo a queda dos fios.
Pode cair algum cabelo? Sim, dependendo das medicações usadas na quimioterapia e do tipo de cabelo que a paciente tem. Mas a previsão é que a queda seja de 20 a 40% do total de fios. Para as outras pessoas, fica praticamente imperceptível que a paciente está se submetendo a um tratamento contra o câncer.
Embora esse tratamento já exista há 25 anos na Europa, somente em 2016 a Food and Drug Administration (FDA) que é o órgão regulador dos Estados Unidos, aprovou essa tecnologia por lá. No Brasil, o equipamento foi também recentemente autorizado pela ANVISA, mas ainda está disponível em poucas cidades do país. Cuiabá é uma delas.
A maioria dos pacientes incluídos nos estudos que comprovaram a eficácia da técnica tinham câncer de mama. Mas resultados positivos já foram documentados em diversos outros tipos de câncer. A crioterapia ainda não é indicada para leucemias e linfomas, que são cânceres hematológicos em que a eficácia e segurança ainda não têm comprovação.
A melhora da auto-estima resulta em melhor adesão ao tratamento e melhor qualidade de vida. Finalmente, esse importante aspecto do tratamento começa a ser valorizado pelos médicos e pela medicina.
Cleberson Queiroz é PhD em Oncologia pela Universidade de Liverpool (Inglaterra) e oncologista da Oncocenter.