Durante os anos de ouro do futebol cuiabano, onde o povo cuiabano reunia nas tardes de domingo no acanhado Estádio Presidente Dutra, onde os torcedores torciam pelos seus clubes, eram grandes disputas nos clássicos do futebol cuiabano, misturando alegria com emoção, caracterizando a pura tradução do futebol cuiabano e os narradores eram a razão da grandeza dos grandes jogos.
Nos anos 60, os narradores esportivos de Cuiabá tinham como escola os seus grandes ídolos nacionais, eles criavam estilos iguais aos narradores das emissoras de Rádio do Rio e São Paulo. E, era emocionante ficar na escuta desses grandes narradores cuiabanos, eles transmitiam de uma maneira que prendiam a atenção dos torcedores e eles não eram apenas um simples narrador, eles davam espetáculos lá em cima nas cabines de imprensa do Dutrinha.
Os grandes narradores cuiabanos tinham como escola os grandes narradores do eixo Rio/São Paulo:
Jota Márcio – era conhecido como o mais novo da nova geração, imitava José Carlos Araújo da Rádio Globo/RJ, dizia assim: “ a bola vai entrando, entrouuuuu. Era formado em Ciências Contábil, trabalhou muito tempo como contador no Dermat, hoje Sinfra.
Márcio de Arruda imitava o Fiori Giglioti, da Radio Bandeirante de São Paulo, sempre que iniciava as narrações e dizia assim, “abrem-se as cortinas e começa o espetáculo torcedor cuiabano”, e narrava assim: lá vai Pastoril, ele pisa na bola, ele prende a bola, ele gooooooooooosta da bola torcida mato-grossense. Ele era funcionário da SEFAZ.
Ivo de Almeida seguia a linha de Jorge Cury, (Radio Globo/RIO e Tupi/RIO).
Muitos torcedores iam mais cedo aos jogos só para sentar próximo da cabine de rádio, para ficar olhando o Ivo de Almeida, com suas narrações inconfundíveis. O seu entusiasmo era tanto que até parecia que iria pular para dentro do gramado, ele fazia parte do espetáculo e levava muitos torcedores ao Estádio Eurico Gaspar Dutra. Durante a semana promovia jogo chamando os torcedores assim: Alô, Alô, Alô – Lixeira, Baú, Areão, Porto, Araés – Mixto chamannnnnnndo.
Ivo de Almeida não era uma pessoa, ele era uma entidade, era o melhor de todos, era uma figura emblemática, tinha uma grande costeleta que o identificava de longe, era um ídolo da radiofonia cuiabana e os torcedores ficavam com um olho no campo de jogo e outro na cabine para ver o show de transmissão.
Está registrada na História uma passagem que nessas brigas com o Presidente da Federação – Hermam Pimenta, que expulsou e proibiu que o Ivo de Almeida entrasse no Estádio Presidente Dutra. Mas, Ivo para não deixar seus ouvintes na mão, apareceu em cima do telhado do Ginásio Brasil, e passou a ser a grande atração, e durante o jogo em sua narrativa gritava: a Equipe da Peteca, estará até em cima do telhado ou em qualquer lugar do planeta, mas não deixará a peteca cair. Simplesmente era inigualável, ele era um Show a parte, respeitado e adorado pela torcida cuiabana.
Ivo de Almeida, ele era ídolo da radiofonia cuiabana, e por ser admirado e respeitado entrou para a política partidária e foi eleito Vereador. E como Cronista Esportivo e Político, foi uns dos que mais lutou pela construção do Verdão. Tinha um slogan que dizia assim: o novo estádio será a redenção do futebol de Mato Grosso ou protestando assim: Campo Grande têm estádio e Cuiabá tem futebol, porque construíram o Morenão antes do Verdão. Ivo não cansava de lutar por um novo estádio, mas infelizmente na construção do Verdão, não foi homenageado como merecia, essa injustiça ainda pode ser corrigida, pois ao nosso ver ele foi o grande injustiçado.
Ao fechar os olhos e vagar nas lembranças das tardes de domingo Do Dutrinha ou ao recordar ao som das Rádios – A Voz do Oeste; Difusora Bom Jesus de Cuiabá e Cultura traz-nos muita saudade, e fica a nossa homenagem a aqueles que com seus talentos e através das vozes marcantes, transmitiram com vibração os gols do nosso futebol, os saudosos: Ivo de Almeida, J. Marcio e Márcio de Arruda.
Nossa homenagem a eles e a todos que deram continuidade ao que eles fizeram pelo crescimento do futebol de Cuiabá e do estado de Mato grosso.
Wilson Carlos Fuáh – economista, especialista em Recursos Humanos e Relações Sociais e Políticas.Fale com o [email protected]