Castelo de Sonhos, município de Altamira (PA), 3 de setembro de 2011. Ouço o brasileiro Marco Polo Moreira Leite, presidente da Asian Trade & Investiments (ATI), que é de pouca e objetiva conversa. Esse predicado – creio – o apadrinhou para chegar ao comando daquele gigante chinês. Moreira Leite explana aos governadores Simão Jatene e Silval Barbosa, outras autoridades e empresários uma proposta mandarim capaz de revolucionar a logística de transporte no Pará e Mato Grosso.
A proposta é construir uma ferrovia com 1.800 quilômetros paralela à BR-163 criando um corredor de exportação de commodities no sentido norte e, numa escala infinitamente menor, na direção sul, para a entrada de máquinas, eletroeletrônicos, perfumes, roupas, brinquedos e uma infinidade de outros produtos Made in China que inundam prateleiras e bancas no Paraguai, Bolívia e parte do Brasil.
Para tanto, a ATI estaria disposta a investir R$ 10 bilhões nos trilhos, terminais intermodais de embarque e desembarque, composições dos trens e, se preciso desembolsar para garantir a instalação de um porto no rio Tapajós. A obra seria executada em 450 dias. A China constrói em média quatro quilômetros de ferrovia diariamente.
Maior parceira comercial de Mato Grosso a China entendia que a ferrovia seria estratégica tanto à sua política de segurança alimentar que garante panela cheia pra 1,3 bilhão de pares de olhos puxados quanto por se tratar de corredor aos quatro cantos do mundo.
Essa ferrovia levaria vantagem sobre a logística atual de escoamento de commodities do Nortão, por duas razões: eliminaria os longos fretes rodoviários até os portos de Santos e Paranaguá; e os embarques nos navios seriam mais rápidos, uma vez construídas modernas instalações portuárias no Pará.
Com a ferrovia o trecho marítimo do multimodal também levaria vantagem sobre Santos. A rota dos navios de Santarém a Xangai e Hong Kong despenca em quatro mil quilômetros no comparativo com o porto paulista – que no tocante ao Nortão é alimentado pela ferrovia Rumo ALL.
Silval defendia a ferrovia. Seu colega paraense Simão Jatene demonstrava indiferença. O projeto não foi adiante porque o Brasil não conseguiu dar segurança jurídica aos chineses – no trajeto há problemas agrários, ambientais e questões indígenas.
Perdemos um negócio da China. Fomos vencidos pelo estado velhaco que chafurda na atividade meio e que não é compatível com a grandeza do Brasil em todos os aspectos. Jatene achou bom o desfecho, afinal Belém vê Santarém como rival. Pobre nação da papelada e do bairrismo.
A parte mato-grossense que seria a principal contemplada com os trilhos não se deixou descarrilar, mas sente a inoperância do estado. Aquela região, com suas vitórias e gargalos é tema de meu novo livro, “Nortão BR-163 – 46 anos depois” que em janeiro despontará na curva do caminho da minha acanhada literatura.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista em Cuiabá
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