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Trump, eles e nós

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Muito mais do que parece, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos nos atinge no Brasil e, em especial, em Mato Grosso. Ao leitor pode parecer muita pretensão misturar uma coisa com a outra. Mas cabe a mistura, sim. Pretendo avançar nesse campo, meio pantanoso, porém, provável. Vamos lá.

Os EUA tem um stablishment, que são as suas estruturas de pensamento e de instituições, muito bem definidas e muitíssimo firmes. Um presidente não consegue sozinho mudar os rumos básicos da nação. Ela é um projeto maior e acima do desejo dos presidentes. Mesmo os eleitos! Trump mexeu profundamente nos sistemas de poder encastelado em Washington, a capital, a Brasília deles. A capital é cheia de lobbies, de interesses, de politicagem e de todos os defeitos que o poder consegue juntar em torno de si.

Trump vai mexer nessa estrutura de poder, sem mexer fundamentalmente na estrutura da nação. O Brasil vive uma raríssima oportunidade de fazer isso. O sistema de poder político e econômico do país, sempre casados e unidos nos mesmos interesses, está baleado por conta de muitas contradições e do próprio esgotamento. Isso vai implicar em mudanças de rumo de legislações e até mexidas fundas na Constituição federal. A gestão pública brasileira é uma sucessão de cartórios com endereços certos: funcionalismo, poderes, empresas estatais, autarquias, concessões, caixas-pretas de salários, de fundos de pensão e de jogos de interesses impublicáveis.

Não se sustenta mais esse tipo de nação. Os estados seguem a mesma linha. No conjunto, uma gestão estadual é uma sucessão de caixas-pretas, muitas impublicáveis. Em crise crescente, a gestão estadual em Mato Grosso não foge à regra. Soma-se a pouca eficiência lá na percepção do cidadão consumidor final dos serviços públicos. Neste momento de crise, o governador Pedro Taques tem a raríssima oportunidade de pegar essa cascata de fatos conexos, começando lá no Trump, pra descascar as caixas-pretas e construir uma gestão nos moldes novos desejados ansiosamente pela sociedade.

Ele pode acreditar sem medo que a sociedade o apoiará nas mudanças mais drásticas a que se propuser em favor do bem comum. Os cidadãos querem respostas da gestão. Aceita apertar mais o seu cinto, se sentir firmeza nas respostas. Odeia as mordomias dos poderes, os desmandos de toda ordem e os péssimos serviços que lhe chegam. Numa linguagem mais chula: pode apertar a correia, governador, que o burro agüenta. O mundo depois de Trump não será o mesmo. Lá e cá. Feliz do gestor que perceber a onda transformacionista!

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