Não sou político!' 'Não gosto de política!' Essas são afirmações bastante comuns em nosso cotidiano, especialmente em períodos de maior irritação com os sucessivos escândalos de corrupção.
Quando as ouço, inevitavelmente penso nos filósofos gregos, especialmente em Platão e Aristóteles.
Como a democracia, também a ideia de política surgiu na Grécia. Como a democracia, também a política pode ser conspurcada. Aliás, os vícios na ação política é que fragilizam a democracia.
Em grande parte, o desprestígio da função política decorre da sua confusão com a política partidária e com candidaturas eleitorais. Trata-se de um equívoco teórico e prático. A política é muito maior que os partidos e esses não se resumem a candidaturas. Duas das maiores lideranças políticas mundiais do século XX, Gandhi e Martin Luther King, jamais disputaram eleições ou fizeram política partidária.
Política é debater, assumir posições, atuar civicamente, doar seu tempo, trabalho e/ou recursos a causas de interesse público, como o combate a discriminações, a proteção aos animais ou do meio ambiente, o amparo aos necessitados, a preservação do patrimônio cultural e artístico, a ampliação da cobertura vacinal, a criação de oportunidades de emprego e tantas outras. Política se aprende e se pratica na família, no condomínio, na escola, no local de trabalho, na comunidade religiosa, na agremiação esportiva etc. Onde houver pessoas se organizando para uma atividade que beneficie um grupo, a exemplo de um almoço beneficente ou de uma reivindicação de melhoria nos serviços públicos, a política estará presente.
Admiro quando alguém desafia o senso comum e, mesmo contra a corrente da popularidade fácil, proclama gostar e praticar a política. Compreendo os que a vivem com paixão. Respeito os que têm essa vocação e/ou aptidão. Aprecio os que têm disposição para a ela se dedicar, encarando múltiplos percalços. Sei que não se lhes pode exigir santidade, dada sua condição de humanos, pois, vivendo ainda neste orbe em processo de evolução civilizatória e espiritual, estão sujeitos a tropeços, motivados por vaidade ou ambição, assim como artistas, atletas, cientistas, escritores e anônimos, ou seja, todos nós.
Claro que devem ser condenados os criminosos que utilizam a demagogia para conquistar espaços de poder e deles se utilizar com improbidade e corrupção. Não penso que foi a política que os tornou bandidos, mas sim que a sua fraqueza moral os fez buscar na atividade político-partidária oportunidades para enriquecer roubando. Antes de roubarem no exercício de mandatos eleitorais, já roubavam em empresas, sindicatos, clubes e igrejas. Roubaram para vencer e venceram para roubar. Espero que todos sejam punidos, sem exceção.
Creio, sinceramente, que, embora produzam grande estrago, os desonestos são minoria e que quanto mais brasileiros participarem ativamente da política, mais forte será nossa democracia e melhor será o nosso futuro. Não me engano com a cantilena da antipolítica, pois sei que carrega elevada concentração de hipocrisia e autoritarismo.
Na Grécia antiga, havia uma palavra para designar as pessoas que não se interessavam pelo bem comum e que se dedicavam exclusivamente aos seus interesses privados. Era a expressão 'idiótes', que significava literalmente cidadão privado, em oposição aos que participavam da vida pública, os 'politikons'. Os idiotas eram aqueles que, por indiferença, egoísmo, cupidez, preguiça, ignorância,covardia ou oportunismo, omitiam-se de qualquer atuação em prol da coletividade. Os idiotas gregos também estufavam o peito para dizer: 'Não sou político!'; 'Não gosto de política!'.
Lembrando novamente dos velhos filósofos, estou convencido que o nosso país precisa de mais políticos e de menos idiotas.
Luiz Henrique Lima – auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT – Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia.