Compreender o fim do ciclo do Partido dos Trabalhadores no governo do país requer conhecer um pouco da sua história. O PT cai derrubado por si mesmo, o único inimigo real que compreendia as engrenagens das suas entranhas. Partido orgânico, nascido com propósito claro em 1980 trazia um conteúdo ideológico das esquerdas para vingar depois do fim do regime militar, que acabaria em 1985. Os pais foram a Igreja Católica, acadêmicos de esquerda, o general Golbery do Couto e Silva, do governo militar, mirando no arquiinimigo Leonel Brizola. Deputados e políticos de esquerda se abrigaram, assim como os sindicatos de metalúrgicos da época, sediados em São Paulo (Grande ABCD).
Em 2002 disputou a presidência e venceu. Negociações anti-esquerdistas sob pena de não assumir. Em 2003, a descoberta de que não ter maioria no Congresso exigia a compra de votos. Mas isso é ciência política. Em dezembro o governo faz mini-reforma da previdência e contraria os interesses dos acadêmicos que abandonaram o governo, matando a capacidade de formular o seu pensamento político. Em seguida sem orientação filosófica, a compra de votos saiu do figurino político e caiu na vala dos negócios. Estoura o Mensalão do PT. Isolado, Lula, descarta os melhores quadros do Partido dos Trabalhadores pra sobreviver como presidente. Caíram Antonio Pallocci, José Dirceu, João Paulo, Cunha, saíram do PT as senadoras Heloisa Helena e Marina Silva. A Igreja Católica abandonou o governo e o partido quando este saiu dos trilhos traçados em 1980 para uma linha de ética transformadora do país. Em duas cartadas perdeu o pensamento político acadêmico e a sua tropa de choque de primeira linha.
No cenário do partido e do governo apareceram figuras do baixo clero no Estado-Maior, tipo Dilma, Guido Mantega, Gilberto Carvalho, Jacques Wagner, Ricardo Berzoini, Rui Falcão e muitos parlamentares também do baixo clero subiram ao paraíso do comando partidário e do governo. Sem cultura política e sem conhecimento de gestão e de macropolítica, o governo Lula em 2005, agarrou-se no programa social Bolsa Família, adaptado do "Brasil Solidário", da antropóloga Ruth Cardoso. Sem o Mensalão, mas tendo que administrar um cenário político cada vez mais desfavorável, o governo isolou-se em diversos programas sociais e em trechos da ideologia da esquerda que prega a separação das classes sociais. Uma forma de obter apoio seguro como mercadoria política para momentos de dificuldades futuras. Continua amanhã.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso