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De passagem

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Dois mundos. Um, soviético, opressor; outro, americano, livre. Sobre ambos pairava o risco do horror nuclear das ogivas de Lyndon Johnson e Nikita Khruschchov, que travavam a guerra fria. Entre eles a cobiçada peça estratégica geopolítica da nossa continentalidade. Nesse cenário sombrio o Brasil por seus comandantes militares abriu as janelas ao sol na terça-feira, 31 de março de 1964.

Não havia meio termo. As nações se dividiam entre um e outro mundo, mas a Iugoslávia do marechal Josip Broz Tito liderava o movimento dos não-alinhados. Tito se amparava no poderio bélico iugoslavo, que desaconselhava qualquer tentativa de invadir sua terra.

Brasília era desgovernada por Jango Goulart, comunista disposto a transformar o Brasil em mais um satélite soviético. A exemplo do mundo, o povo brasileiro se dividiu. A maioria esmagadora queria a deposição do presidente e o redirecionamento político nacional. A minoria defendia até com armas a nossa cubanização – termo da época.

Os militares tomaram o governo. Foram secundados por um grupo político que acabou devorado pelo caminho, pois sua essência tinha ranço de corrupção. De Cuiabá, as tropas do 16º Batalhão de Caçadores (agora 44º B I Mtz) sob o comando do coronel Meira Mattos ocuparam o Palácio do Planalto. O Congresso Nacional homologou o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco presidente. Não caímos no mundo soviético.

Essa história escrita com o fígado por derrotados, pelas viúvas da Praça Vermelha que integram o grupo encastelado no poder e com alguns até mesmo atrás das grades, chega distorcida ao brasileiro.

Transcorridos 52 anos a maioria volta às ruas contra a instituição Poder, mas de modo mais abrangente. O alvo mais exposto é a presidente Dilma, mas a revolta é generalizada contra a classe política, a futilização instalada no Congresso, assembleias, câmaras, nos tribunais de contas, em entidades iguais a AMM, na Justiça Eleitoral, no peleguismo sindical, na vergonha do Sistema S, nas vantagens salariais da magistratura e MP, nas imorais aposentadorias do FAP. Zé e Maria choram rangendo dentes sem um líder para abrir as janelas ao sol, a exemplo de 1964.

O avassalador ciclo da corrupção e do oportunismo instalado com a redemocratização não permitiu o surgimento de lideranças capazes de enfrentar o momento atual. O Brasil não pode continuar mexendo as peças de um tabuleiro onde tudo que pode acontecer é trocar Dilma por Temer, Temer por Cunha, Cunha por Renan, Renan por Lewandowsky, Lewandowsyk por Aécio, Serra, Marina, Ciro ou Bolsonaro.

Com a devida vênia aos artífices de A Marselhesa, no ontem, que semearam ao público o princípio da liberdade, igualdade e fraternidade, e do agora, Je suis Charlie, noto que o povo precisa se inspirar na França. As janelas existem. Que sejam abertas. O sol pede passagem em meio ao mar de lama.

Eduardo Gomes é jornalista em Cuiabá
[email protected]
 

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