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Um puxadinho…

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Felizmente, o poeta Manuel Bandeira, quando escreveu “Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir./ Hei de aprender com ele/ A partir de uma vez/– Sem medo,/ Sem remorso,/ Sem saudade.”,  não teve o desprazer de conhecer o Aeroporto Internacional Marechal Rondon (“totalmente” remodelado para a Copa do Mundo de Futebol). Imagino Bandeira, em 1953, olhando para o Santos Dumond (Rio de Janeiro) e escrevendo o poema por mim citado. Eu, ao contrário disso, fico envergonhado ao recepcionar algum parente ou amigo que vem me visitar. Nosso aeroporto é simplesmente uma lástima, uma vergonha. A única saída é escancarar ainda mais o sorriso,  abrir mais e mais os braços como se pudéssemos com isso desviar os olhares perplexos e decepcionados dos nossos visitantes.

Eu sou daqueles que, por onde ando, insisto em apregoar as infindas belezas e as oportunidades de Mato Grosso, mas isso não me tira o compromisso com a verdade. Outro dia, vim com a família do Rio de Janeiro e, ao desembarcarmos, meu filho começou a apontar falhas aqui e acolá; interrompi-o e corroborei com ele: este é o pior aeroporto de todas as capitais brasileiras. Além da triste constatação, a outra foi a seguinte: paguei por dois táxis e não havia sequer uma fila única para embarque e nem quem disciplinasse a utilização do serviço. Carros insuficientes, no guichê da tal cooperativa, uma senhorita despreparada e a aterrorizada com as inúmeras reclamações.   Passageiros engalfinhando-se, entregues à própria sorte, por um mero táxi. Do  outro lado do único estacionamento do aeroporto, além disso, pago, o terminal do VLT assistia a tudo impassível. Delirei por um Uber.

Todavia, não quero me ater às minhas desventuras com nosso campo de aviação; antes, prefiro registrar o anda nas bocas dos mais de três milhões de pessoas que por lá tiveram de passar. Resumindo: uma obra inacabada e de péssima qualidade. De supetão, vê-se que o piso, além de ruim e feio, incompleto e esgarçado; em vários lugares, o forro é imaginário, expondo assim as ferragens da cobertura; os banheiros com um acabamento deplorável e passam longe da possibilidade de algum vestígio de sustentabilidade. Como havia dito o então senador Pedro Taques: – Um puxadinho…

Ainda que fosse um puxadinho, mas feito com esmero e qualidade, não seria tão frustrante. Já o nosso terminal rodoviário Engenheiro Cássio Veiga de Sá (que quase ninguém mais sabe quem foi), do final da década de 70, projetado pelo arquiteto cuiabano Moacyr Freitas, é um exemplo de funcionalidade, de durabilidade, de visão de futuro e de obra arquitetônica modernista, mesmo que abandonado pelo poder público que o entregou à iniciativa privada. Com quase quarenta anos de existência,  é um dos mais belas rodoviárias do Brasil e não fosse o descaso da empresa que a administra, seria (como foi por muitos anos) um dos cartões postais de Cuiabá. Já  em relação ao aeroporto… que pena, mas é apenas um puxadinho horrível e mal-acabado.

Sérgio Cintra é professor de linguagens.

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