Um ano atrás, nós brasileiros fomos às urnas escolher o presidente da República, governadores, senadores e deputados federais. Você lembra em quem votou e o porquê? Seu candidato venceu ou perdeu? Se venceu, você está satisfeito com o seu desempenho no Executivo ou no Parlamento? Conhecendo seu comportamento depois de eleito ou reeleito, você confiaria nele novamente? E se o seu preferido perdeu, você estaria disposto a lhe dar outra oportunidade?
Todas essas perguntas provocam respostas diferentes em cada um de nós. Normal. A democracia não é feita de unanimidades. Mesmo o pior governante, ou o mais impopular representante, sempre tem uma fração, ainda que mínima, de apoio na sociedade. Mesmo o grande tribuno parlamentar ou o respeitadíssimo chefe de Estado desagrada alguns setores e sofre combativa oposição. E quem não gostar desse jeito ruidoso, polêmico, conflituoso e contraditório da democracia, melhor se acostumar ou então arrumar as malas e mudar para as ditaduras remanescentes no planeta: Coreia do Norte, Arábia Saudita, Guiné etc.
Nas últimas semanas, tivemos várias eleições importantes pelo mundo. Na Inglaterra, o Partido Trabalhista escolheu seu líder em eleições primárias muito disputadas, com vitória da esquerda. Em Portugal, as eleições gerais deram vitória aos conservadores, mas sem maioria para formar governo, que deverá ser liderado pelos socialistas. Em Bogotá, o urbanista Peñalosa derrotou a esquerda na eleição municipal. Na Argentina, os kirchneristas, que se julgavam eternos, foram derrotados em Buenos Aires e enfrentarão um inédito e disputadíssimo segundo turno nas eleições presidenciais. Na Guatemala, o escândalo de corrupção, por sinal com valores inferiores a 10% do tsunami de fraudes já comprovado na Petrobras, derrubou o ex-presidente, que está na cadeia, e o novo eleito é um comediante sem nenhuma experiência administrativa anterior. Nos Estados Unidos, intensificam-se os debates para indicação dos candidatos à sucessão de Obama, com desempenhos surpreendentes de candidatos à esquerda, como Sanders, e à direita, como Trump. No Canadá, uma década de domínio conservador foi derrotada. Por outro lado, na Polônia venceram os ultraconservadores. Em toda parte, os povos fazem as suas opções, de acordo com as circunstâncias locais e a avaliação positiva ou negativa que fazem das candidaturas e dos governos.
Refletir sobre as eleições passadas é muito útil, especialmente quando ainda não estamos em outro processo eleitoral. Daqui a um ano, iremos escolher prefeitos e vereadores em mais de cinco mil municípios e os resultados serão melhores para todos se cada um tiver aprendido alguma lição dos pleitos anteriores. Você se arrepende do voto que deu e se julga traído? Bem-vindo ao clube! Conheço poucos adultos que nunca se decepcionaram com pelo menos uma de suas escolhas eleitorais, embora haja alguns que não o admitam.
Errar faz parte do processo de construção da democracia, assim como ter a humildade de aprender com os próprios erros, e também ter paciência com os que, em sua opinião, continuam errando e que, com todo o direito, pensam que o errado é você.
Sempre que ouço críticas genéricas aos 'maus políticos', lembro que eles foram escolhidos pelos 'bons eleitores'. Na realidade, cada mandatário político, bom ou mau, competente ou não, corrupto ou não, representa um conjunto de cidadãos que lhe conferiu o direito de ali estar. Assim, é necessário aprimorar nosso processo de escolha. Devemos buscar maiores informações, não apenas durante as campanhas eleitorais, quando somos sufocados por sofisticadas técnicas de propaganda, que mais confundem que esclarecem. Certas campanhas parecem ser feitas pelos mesmos publicitários que tentam nos convencer que fumar vai melhorar nosso status e qualidade de vida. O efeito de uma eventual vitória de seus candidatos é semelhante aos do tabagismo sobre a saúde pública: devastador. Evitamos isso, participando mais e de modo permanente da vida pública.
E vivam as eleições!
Luiz Henrique Lima – auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT – Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia.