A atual crise brasileira puxou-me para algumas lembranças. Conheci nos EUA um alemão de 60 anos que tinha um automóvel Mercedes-Benz com 30 anos de uso e o mantinha como novo.
Conheci em Buenos Aires uma antropóloga que tinha um Peugeot com 25 anos de uso e o amava.
Conheci em Paris um francês que tinha um Citroen com quase 40 anos de uso e o mantinha como novo e não pensava em trocá-lo.
Na França, uma jovem senhora contou-me que ia aos casamentos usando maquiagem feita por ela mesma e que não tinha vergonha de repetir o mesmo vestido e sapatos.
A média do pensamento europeu e de países onde aconteceram grandes guerras é mais ou menos essa.
Quem conheceu de perto a falta de água, de luz, de comida e perdeu parentes próximos, sentiu a insegurança absoluta diante dos olhos por anos seguidos, aprendeu a valorizar a vida com outro olhar.
Isso explica porque eles não trocam de carro a cada ano gastando rio de dinheiro nessa vaidade.
Trago o assunto porque o Brasil está entrando tardiamente num clima de guerra interna. Sem bombardeios e nem canhões, mas bombardeios econômicos e sociais capazes de reduzir grande parte da população à escassez de tudo.
Sem contar a possibilidade de conflitos armados promovidos pelos chamados movimentos sociais em defesa do governo vigente.
Bom lembrar que desde 2003 os orçamentos das pastas militares foram reduzidos à míngua e parte transferida aos movimentos em treinamentos e armas para apoiarem, se necessário, a implantação do modelo “bolivarianista” que esteve na mente dos últimos governos brasileiros.
Mesmo que conflitos armados não aconteçam, é certo que o país entrará num período de profunda recessão e de escassez generalizada.
Volto aos exemplos europeus. Eles aprenderam a valorizar mais a vida do que os bens de consumo, porque houve momentos em que perderam tudo. Aqui no Brasil todas as classes trocam bens de consumo, incluindo os automóveis em espaço de tempo muito curto.
Desperdiçam preciosos recursos financeiros em troca da vaidade imediatista. Compram utensílios de baixa qualidade num mercado habituado a não respeitar a vida das pessoas e nem o seu dinheiro suado.
Quem sabe depois dessa crise que deve durar mais dois longos anos, os brasileiros saiam menos infantis e aprendem a valorizar as coisas permanentes. Entre elas, o trabalho, o dinheiro ganho e aplique em favor da sua vida real.
Será uma guerra educadora…!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso