O Brasil tem vindo a combater a corrupção de forma enérgica e nos últimos tempos assistimos há prisão de pessoas com cargos e status que até há bem pouco tempo eram considerados intocáveis. Esta realidade, bem visível aos olhos de todos, tem permitido também verificar que esta ação criminosa não escolhe corporações ou partidos políticos. Durante muito e muitos anos esta prática foi-se generalizando em todos os escalões sociais e áreas de atividade, ganhando até classificação de endêmica como se de algo orgânico se tratasse.
Num Brasil com fragilidades decorrentes de baixos índices de escolaridade e qualificação, o caminho para uma cidadania e consciência política fica fortemente comprometido, criando-se assim terreno fértil para o crescimento da corrupção, que é por excelência desenvolvida por uma elite que se aproveita do Estado em benefício próprio. A situação configura-se de tal ordem institucionalizada que parece já não existir condições para identificar quem é o corruptor e quem é corrompido.
Na sua grande maioria, os casos de corrupção que seguem para a justiça são enquadrados por acusações de improbidade administrativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa. O que revela a estreita e organizada articulação entre o poder do capital e a administração do bem público.
Existem aspectos culturais que também contribuem para uma predisposição na prática da corrupção, como seja a cobiça e a conquista, de origem em cinco centenas de anos de história. Esse modelo em que o dinheiro está acima do Homem ainda prevalece demais na sociedade moderna, mas felizmente no atual ordenamento jurídico brasileiro, a corrupção é crime. E como toda a criminalidade, combate-se com polícia e justiça, mas só será vencida com educação e oportunidades.
A criação de leis de combate a usos e abusos considerados indevidos pela sociedade tem sido de extrema importância ao processo. A Lei da Ficha Limpa, criada com o objetivo de afastar da gestão pública pessoas de reconhecida incapacidade moral para o exercício da tarefa, ou a recente Lei de Acesso à Informação Pública que se espera abrirá caminho para um melhor controle por parte do cidadão sobre a aplicação dos seus impostos e riquezas produzidas e, quem sabe, para um sério jornalismo investigativo hoje ainda muito tímido são, entre outras leis, um bom exemplo. Mas não bastam.
A corrupção não se extingue por si só. Vai-se espalhando silenciosamente como um câncer. Precisa de diagnóstico e intervenção precoce a fim de se aumentar as probabilidades de sucesso e futuro saudável. Exige-se uma mudança cultural transversal a toda a sociedade e para isso, melhor que ninguém, os nossos jovens serão os melhores agentes da mudança. Para isso temos o dever de levar para dentro da sala de aula, logo no segundo ciclo, a problemática da corrupção, instruindo sobre o quanto ela sequestra o regular funcionamento das instituições e os danos colaterais que produz no intelecto individual de cada um. Os nossos jovens precisam também aprender e entender o que significa vender/comprar voto, situação que um grande número deles, principalmente aqueles que integram famílias de mais baixa renda, vivenciam com muita naturalidade, dentro de suas casas, de dois em dois anos.
Aprendi ao longo da vida e procuro ensinar ao meu filho que precisamos semear para poder colher.
Rui Perdigão –Administrador, consultor e presidente da Associação Cultural de Portugueses de Mato Grosso