No desenvolvimento dos estudos de futuro, para que os cenários sejam ao mesmo tempo um referencial para o planejamento politico e estratégico e também um instrumento de acompanhamento da realidade, a definição e estabelecimento dos “fatos relevantes” ou fatos portadores de futuro, é de fundamental importância para um projeto nacional.
Neste aspecto, são importantes tanto a dinâmica interna quanto os acontecimentos mundiais e as repercussões dos mesmos nas relações internas. Este é um exercício que exige dos governantes uma visão de estadista, jamais o aprisionamento em questões de menor importância e nem a miopia da visão ideológica, que tanto prejudica as ações do governo quanto do empresariado e da sociedade como um todo.
Esta é a diferença entre a dinâmica política institucional dos países do primeiro mundo e dos subdesenvolvidos e também dos emergentes. Todo e qualquer país que aspire por uma postura de independência, liderança regional ou atingir o nível de uma potência emergente ou potência mundial precisa ter um projeto nacional e seus governantes necessitam ter a habilidade e a capacidade de construir um modelo de desenvolvimento de médio e longo prazos, ou seja, desenhar os caminhos a seguir pelos próximos dez ou vinte anos, independente de que partido ou aliança esteja no poder. Sem isto, o país consegue realizar apenas os “voos de galinha’ como dizem os analistas políticos e geopolíticos, jamais uma visão de longo alcance.
O acompanhamento dos acontecimentos mundiais, seus desdobramentos, a organização de blocos econômicos ou de alianças políticas e militares definem os grandes rumos no cenário internacional, cabendo a cada país defender seus interesses nacionais, jamais subordinando-os ao crivo do partido ou aliança no poder, caso em que a mediocridade pode reduzir o peso politico e estratégico nacional no contexto internacional.
Governantes que confundem interesses nacionais com interesses de grupos econômicos ou políticos podem perder o bonde da história e colocar seus países de joelho perante as grandes potências, contribuindo assim para o agravamento da crise interna. Parece que na presente conjuntura Brasil, Argentina e Venezuela são exemplos típicos , na América Latina, deste tipo de governos populistas, incompetentes, medíocres e corruptos e que estão jogando por terra o futuro de seus países.
No contexto internacional alguns fatos relevantes podem ser identificados no agravamento do conflito no oriente médio; o avanço das negaciações para a criação do mega-bloco econômico e politico-militar transatlântico, entre União Européia e Estados Unidos, e, complementarmente pelo Canadá e México, que juntamente com os EUA, fazem parte do NAFTA; o reatamento das relações diplomáticas entre EUA e Cuba, com desdobramentos para as áreas econômica e política; o lancamento da candidatura de Hillary Clinton como postulante `a Casa Branca pelo Partido Democrata; o acordo do G7, liderados pelos EUA com o Iran, em relação ao programa nuclear daquele país; o fortalecimento dos pactos de defesa entre EUA e países asiáticos para neutralizer o avanço militar da China e, finalmente, o empenho dos EUA para fortalecer a OEA como entidade representativa dos países do continente Americano, enfraquecendo sobremaneira a UNASUL e seu projeto bolivariano, onde o Brasil adereiu de forma equivocada.
No Plano interno, podemos destacar como fatos relevantes o aprofundamento das investigações da Operação Lava-Jato, incluindo esta 12a. fase, com a prisão de Vacari, tesoureiro do PT o que pode aprofundar ainda mais a crise política em que a Presidennte Dilma e seu partido e aliados estão engolfados; o aprofundamento da crise econômica e a insegurança e indignacão que este fato poderá ter sobre a população ameaçada pela inflação, pela deterioração da qualidade dos serviços públicos, aumento acelerado do endividamento das familias, o temor do desemprego que está crescendo a olhos vistos; a perda da capacidade de articulação política e de governar da Presidente, que aos poucos se torna prisioneira do seu partido e de seu grande aliado, o PMDB; dos equivocos dos pacotes econômicos de seu novo ministro da fazenda; o aumento do poder de articulação, em oposição ao Palácio do Planalto, por parte dos presidentes da Câmara Federal e do Senado.
A continuar neste rítimo dentro embreve Dilma será igual a Rainha da Inglaterra, que tem a pompa do cargo mas não governa nada. Estamos vivendo quase um regime parlamentarista de fato, enquanto a reforma política não o institui na prática. O Poder do vice-Presidnte, que é do mesmo partido que os presidentes da Câmara e do Senado, projeta um cenário complicado para Dilma, o PT e o sonho de Lula retornar em 2018.
Outro fator relevante são as manifestações populares que estão tomando conta das ruas e praças do país inteiro, onde o povo expressa tanto o FORA CORRUPTOS, quanto o FORA DILMA e FORA PT, caso este descontentamento seja ampliado e fortalecido pelo aprofundamento da crise econômica, tanto o Impeachment quanto uma possível renúncia de Dilma serão fatos relevantes dentro de pouco tempo. Vamos acompanhar e ver o que vai acontecer nos próximos meses.
Juacy da Silva – professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia
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