A questão da disigualdade é um dos problemas que está presente praticamente em todos os países ao longo da história, por séculos ou milenios e tem se constituido em fonte de preocupação para governantes, líderes empresariais, religiosos, filósofos e para as pessoas em geral.
A busca de uma sociedade menos desigual ou mais equalitária tem inspirado ideólogos e filósofos preocupados com o destino da humanidade principalmente porque a desigualdade e as injustiças estão na raiz de inúmeras revoltas populares, guerras, revoluções e até mesmo golpes de estado, ou seja, além do aspecto do sofrimento e da discriminação que faz parte do processo de desigualdade o mesmo alimenta também boa parte da violência política e do terrorismo.
Em 1.750, em sua Obra “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” , J. J. Russeau, alertava seus contemporâneos dizendo que “ as desigualdades tendem a se acumular”, ou seja, a medida que o tempo passa as sociedades tenderiam a continuar cada vez mais injustas e desiguais e este processo seria um dos maiores fundamentos da desigualdade entre as pessoas, os grupos sociais/classes sociais e as nações.
Neste sentido a desigualdade, longe de ser uma realidade meramente conjuntural, é , na verdade, um fato estrutural, de base econômica, politica e social. Todavia, a desigualdade pode se agravar em determinadas conjunturas como desastres naturais, crises econômicas, sociais, políticas, guerras e violência generalizada em qualquer sociedade. Nessas conjunturas os pobres e excluídos são os que mais sofrem.
Dados de diversos organismos internacionais como ONU, Banco Mundial, FMI , Forum Econômico Mundial, OECD ou mesmo de instituições públicas e privadas, bem recentes, relativos ao ano de 2013 demonstram que a desigualdade mundial é grave não apenas entre as 30 maiores economias do mundo e o restante dos demais 150 países, como também está presente em termos sociais.
A acumulação de renda e riqueza no mundo é estarrecedora, onde 68.7% da população mundial, representados por 3,2 bilhões de pessoas se apropriam de apenas 3% da renda e riqueza mundiais, cuja média é de menos de 10 mil dólares per capita ano. No outro extremo do topo da pirâmide, estão 0,7% da população mundial, representados por 32 milhões de pessoas que se apropriam de 41% da renda e riqueza mundial, com uma média per capita anual de mais de um milhão de dólares.
Este perfil de distribuição de renda e riqueza, que representa uma média mundial, é pior em mais de 100 países, principalmente os menos desenvolvidos e os emergentes, onde o Brasil está incluido. Conforme o relatório da OXFAM, relativo a 2013, apresentado ao Forum Econômico Mundial no último ano, o nosso país era o penúltimo em distribuição de renda entre os integrantes do G-20, perdendo apenas para a África do Sul
De acordo com o relatório da ONU/HABITAT em 2012 sobre o “Estado das cidades da América Latina e do Caribe – Rumo a uma nova transição urbana”, o Brasil é o quarto pior país em distrbiuição de renda entre todos os países da região, perdendo apenas para a Guatemala, Honduras e Colômbia, comprovando dados das duas ultimas PNADS, de 2010 e 2012, onde 30,1% das famílias tem renda per capita mensal de no máximo meio salário mínimo, praticamente sobrevivendo pouco acima ou no limiar da linha de pobreza, considerando já incluida a transferência de renda pelos programas assistencialistas do governo, como o Bolsa Família e outros mais.
Entre as famílias chefiadas por mulheres esta parcela era de 37,3% na área urbana e 39,3% na área rural, onde a desigualdade é muito maior entre as mulheres em geral e maior ainda entre as mulheres negras, que ocupam a faixa mais baixa da piramide social e econômica no Brasil.
A medida que os dados oficiais e de outras fontes de pesquisas são desagregados por gênero, classe social, setores econômicos e regiões, os níveis de desigualdades ficam mais patentes e mais gritantes, exigindo das várias instâncias governamentais o estabelecimento de políticas públicas que promovam mudanças estruturais e não apenas distribuição de migalhas orçamentárias de forma conjuntural. Este é o grande desafio do desenvolvimento brasileiro, reduzir as desigualdades, promover justiça social e uma inclusão das grandes massas excluidas, geradas por este processso anacrônico.
Juacy da Silva professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia
[email protected] Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy